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DISCO - LANÇAMENTOS
Cave lança 'Best Of' e vai 'tentar' tocar no Brasil
DENISE BOBADILHA
especial para a Folha, de Londres
Se existe um lado B no cenário
pop das últimas duas décadas, ele
se chama Nick Cave. Elogiada pela
crítica, cultuada por um círculo de
fãs, mas com pouco apelo comercial, sua música foi afunilada e
chega na coletânea "The Best of
Nick Cave & The Bad Seeds", lançada agora no Brasil.
À frente de duas bandas -Birthday Party e Bad Seeds- desde
1980, o australiano Cave ("caverna", em inglês, e, por bizarro que
pareça, seu sobrenome original),
40, é conhecido por sua música
sombria, como se viesse das trevas. Perfeita para os 80, quando o
compositor foi adotado por góticos ao redor do globo.
A associação antes irritava Cave,
mas hoje faz parte do passado.
"Sinceramente, não tenho medo
de ser ligado a isso", falou, em entrevista à Folha. "Mas nunca fiz
parte do que quer que seja esse tal
movimento gótico."
Ouvir o "Best of..." de Nick Cave é trabalho para iniciados. Não
deve ser mesmo fácil escolher 16
faixas de um artista que prefere fazer obras temáticas.
Pequenos contos pessoais ou fictícios se completam e contam histórias ao longo dos seus álbuns
-o exemplo máximo dessa concepção é "Murder Ballads", que
tem como temas serial killers e assassinatos.
Outras fases conhecidas de Cave
são a de Berlim, quando colaborou com trilhas de filmes do diretor alemão Wim Wenders, e a de
São Paulo, entre 1988 e 1992. Cave
morava com a paulista Viviane,
mãe de seu filho Luke, e viveu um
período "maravilhoso" no Brasil.
Mas não visita o país há muito
tempo, "vários anos".
Depois de ter seu CD mais recente -"The Boatman's Call"- colocado entre os melhores de 97,
Cave não tem planos para um novo disco. Em junho, apresenta-se
no mais famoso festival de verão
da Inglaterra, o Glastonbury.
Almoçando num hotel no oeste
de Londres, o compositor nascido
em Melbourne concedeu a seguinte entrevista à Folha.
Folha - Em 94, quando saiu o álbum "Let Love In", você disse que
escreve muito melhor quando se
sente deprimido. Isso ainda vale?
Nick Cave - Não, não é mais assim. Para compor, o que importa é
se manter aberto, pronto para todas as influências. Isto não tem
mais a ver com estar feliz ou triste,
mas sim preparado para tudo.
Folha - Como você se sente ouvindo o seu "The Best of..." hoje?
Cave - Eu estava com muito,
muito medo mesmo dessa compilação. É que nunca ouço meu próprio material, nunca ouvi música
dos Bad Seeds ou do Birthday
Party depois de ter sido feita. Temia não gostar. Mas, quando ouvi
o álbum, notei o quanto o Bad
Seeds é uma banda sensacional,
brilhante, com músicos brilhantes. É subversivo e divertido. E
muito, muito estranho. Eu senti
orgulho de estar associado a esses
músicos.
Folha - Há uma favorita?
Cave - Gosto muito de "Stranger Than Kindness". "The End of
the Day" é uma música maravilhosa, do tipo que eu aprecio.
Folha - As mudanças na sua vida
sempre se refletiram explicitamente nos seus álbuns. Ouvindo hoje o
resumo destas fases, há um período que lhe agrada mais?
Cave - Berlim foi um período
maravilhoso, não estou certo se isso se reflete na música, mas foi
bom para minha vida. O Brasil
também foi um momento especial.
Na verdade eu tive muitos momentos maravilhosos.
Folha - O que viver em São Paulo
trouxe para sua vida?
Cave - É muito difícil dizer, eu
estava apaixonado quando estava
no Brasil e a Vivi (ex-esposa do
compositor), como mulher, teve
uma grande influência sobre mim.
Não foi tanto o lugar, mas uma
combinação de viver no Brasil e estar apaixonado... Foi maravilhoso.
Acho que isso trouxe uma nova dimensão para minha música. Os álbuns que fiz depois de morar no
Brasil têm uma variedade maior na
música, não sei se foi um amadurecimento ou qualquer coisa do
gênero. Minha música passou a
parecer mais triste e mais romântica também.
Folha - Um novo álbum já está
nos seus planos?
Cave - Ainda não sei. Musicalmente, se eu fizesse um álbum
amanhã, saberia como ele seria
hoje, mas não estou gravando e
acho que só irei fazê-lo em um ano
ou mais. As coisas serão diferentes
até lá. Não será como "The Boatman's Call", será diferente. Estou
sempre em movimento.
Folha - Nenhum plano de tocar
no Brasil?
Cave - Eu adoraria tocar no
Brasil. Nós tentamos no ano passado e no anterior, mas é muito,
muito difícil. Parece virtualmente
impossível poder tocar no Brasil.
Nós queremos, mas não dá por razões que não entendo. Alguma
coisa mudou?
Folha - Sim, particularmente nos
últimos meses. Oasis, U2, Rolling
Stones e Bob Dylan tocaram lá,
além de Atari Teenage Riot e outras bandas que estão agendadas.
Cave - Talvez então seja hora de
tentar de novo.
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