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CINEMA
Hollywood
filma
o descobrimento
FERNANDO OLIVA
da Redação
Um filme sobre as razões e consequências do descobrimento do
Brasil dirigido e co-produzido por
norte-americanos. Apesar de escrito por um brasileiro, o roteiro
de "Brasil 1500" foi finalizado por
David Newman ("Superman - O
Filme") e deve ser dirigido por
Michael Cimino ("O Franco-Atirador" e "O Ano do Dragão"),
com produção de Ilya Salkind e Jane Chaplin ("Os Três Mosqueteiros", "O Príncipe e o Mendigo").
O paulistano Fábio Fonseca, empresário da área de frigoríficos, teve a idéia de realizar a superprodução há quatro anos.
Com a cara-de-pau de quem
nunca havia escrito profissionalmente, levou seu esboço de roteiro
a Hollywood, pagou pela opinião
dos "screendoctors" (profissionais que apreciam roteiros para os
grandes estúdios) e, por fim, conseguiu uma co-produção com a
Scent Film, empresa de Salkind
(produtor dos três primeiros "Superman") e Jane (filha caçula de
Charles Chaplin).
De acordo com o agora roteirista, o filme pretende retratar os antecedentes e as consequências do
ocorrido em Santa Cruz de Cabrália (BA) a 21 de abril do ano de 1500
-local, dia, mês e ano oficiais do
desembarque de Pedro Álvares
Cabral em terras brasileiras.
Quem conta a aventura marítima do descobrimento é o marujo
Gonçalo, identificado apenas como "um dos tripulantes da
nau-capitânia da frota de Cabral".
A intenção é colocar o espanhol
Antonio Banderas na pele do marujo desbravador. O elenco de
apoio deve ser composto totalmente por brasileiros.
Já que a célebre saga dos portugueses é narrada por um personagem anônimo e fictício, a pergunta
óbvia é: onde entra Pedro Álvares
Cabral na história?
Em "Brasil 1500", o famoso capitão português é um personagem
secundário. Fonseca e o co-produtor brasileiro Cláudio Kahns não
queriam limitar as possibilidades
de inovações do roteiro, sempre
em comparação com a história oficial. "Não precisamos nos ater aos
clichês que envolvem a figura histórica de Cabral", justifica Kahns.
Intencionalidade
Fonseca, após pesquisar durante
um ano em arquivos portugueses
(Ministério da Marinha) e brasileiros (Biblioteca Mário de Andrade e
Casa de Portugal, em São Paulo, e
Gabinete Português de Leitura, no
Rio), encampou a tese da intencionalidade do descobrimento.
Ele se opõe, assim, à bastante divulgada versão que crê no desembarque das naus portuguesas no litoral baiano como um acidente de
percurso. "A principal idéia que o
filme defende é que tudo foi muito
bem planejado por Portugal e que
havia uma política nacional para
colonizar o país."
'Polimento'
Como a pretensão é fazer sucesso
entre o público norte-americano e
conquistar o mercado internacional, o nome do roteirista David
Newman surgiu como outro trunfo da produção para aumentar a
credibilidade do projeto (leia entrevista nesta página).
Newman entregou o roteiro final
de "Brasil 1500" na semana passada. "Ele foi contratado para dar
um polimento no texto", explica
Fonseca. "Os investidores precisam conhecer quem está por trás, e
é mais fácil vender um projeto associado ao nome David Newman
que ao de Fábio Fonseca."
O filme deve ser dirigido pelo
norte-americano Michael Cimino,
que ganhou o Oscar em 78 pela direção de "O Franco-Atirador".
"Só falta assinar o contrato", assinala Fonseca.
Para países diferentes, estratégias diferenciadas para conquista
de mercado e de público. Nos Estados Unidos, o filme deve estrear
com o nome de "Gonçalo".
A produção está orçada em US$
35 milhões. Como termo de comparação, o épico brasileiro "A
Guerra de Canudos" custou R$ 6
milhões.
Kahns, da Tatu Filmes ("Como
Nascem os Anjos"), já arrecadou
cerca de R$ 7 milhões por meio da
Lei do Audiovisual. A procura de
investidores internacionais pela
Scent Film ainda está no começo.
Como "Brasil 1500" é um dos
projetos aprovados pela Comissão
Nacional para as Comemorações
do 5º Centenário do Descobrimento, o filme pode usar esta espécie de chancela do governo federal para captar mais recursos no
país. Desde fevereiro, Fábio Fonseca bateu à porta de 129 empresas.
As filmagens devem acontecer
em janeiro e fevereiro de 98, com
locações em Porto Seguro (litoral
sul da Bahia) e Portugal e internas
em estúdios hollywoodianos. Os
produtores tentam assinar contrato com Warner, Paramount ou
Disney.
"A intenção é lançar o filme em
julho, em pleno verão americano", diz Fonseca. Se não ficar
pronto até lá, "Brasil 1500" -ou
melhor, "Gonçalo"- só chega às
telas em 1999, durante o próximo
verão, estação estratégica para lançamento nos EUA das grandes
produções de entretenimento.
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