São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho de 1999
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CRÍTICA/RICKY MARTIN
O que acabou foram ídolos

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Óbvio que não foi o pop norte-americano que acabou - e o "capo" Emílio Estefan Jr. sabe muito bem disso. O que não existe nos EUA são ídolos. O rock é cada vez menos consumido, desde a morte de Kurt Cobain, do Nirvana, quando o hip hop conquistou o pódio das paradas locais com vários nomes que vão e vêm e vêm e vão.
Os EUA têm uma tara pelo "the next big thing" musical, algo que exploda, que aconteça, que seja capas de revistas, que vá ao "Saturday Night Live", "Late Show", que seja eleito um dos mais sexy pela "People" e, se possível, que abra a boca diante de um microfone -não precisa cantar bem, claro.
Uma conjunção de fatores levaram o menudo Ricky "uêpa!" Martin ao estrelato yankee, ao lançar "Ricky Martin", seu quinto álbum e o primeiro com algumas músicas em inglês, para os americanos limítrofes entenderem o que ele canta -mal.
É de Martin o hino oficial da Copa do Mundo de 98, "La Copa de la Vida", evento transmitido a centenas de países, muitos deles onde Martin já estourara nas paradas. Mas faltavam os EUA.
Foi com essa música, na apresentação do Grammy, em fevereiro último, que Martin ganhou não só o prêmio de melhor performance de pop latino, mas a América: sensual, "caliente", carismático, tudo o que um norte-americano espera de um latino. E foi beijado por Madonna, uau!
Às portas deste verão, lançou esse disco, sustentado por uma poderosa e bem-sucedida jogada mercadológica da Sony, e foi direto para o primeiro lugar dos álbuns mais vendidos da "Billboard" -fato inédito para um latino (na verdade Martin, nascido em Porto Rico, tem nacionalidade norte-americana).
Vendeu, em média, mais de 95 mil discos por dia até hoje, puxado pelo mega-hit "Livin" La Vida Loca", e se convencionou chamar isso de invasão latina.
Balela, foi puro "timing". Martin é o "the next big thing", mas ganhou o reforço de alguns "little things", como o embuste musical Jennifer Lopez (com "On the 6"- da Sony-, que pode ser lido como "on the sex", trocadilho infame que só reforça o mito de "vagabunda-gostosa" que as latinas têm entre os anglo-saxões), o salseiro Marc Anthony, alguns filhos de Julio Iglesias e o merengueiro Elvis Crespo -da Sony-, a maioria comandada por Emílio Estefan Jr., o Barry Gordon de Miami.
Os latinos somam mais de 30 milhões nos EUA -e devem ultrapassar os negros em 2009, tornando-se a maior minoria-, e as vendas de música latina cresceram 21% em 98.
Terreno aplainado, tome Ricky Martin. "Ricky Martin" é ruim, mas é perfeito produto para esse tipo de invasão. Ele é vulgar, canta para multidões uma salsa-merengue paupérrima, tem um carisma ímpar, parece um modelo da Calvin Klein e ainda faz dueto com Madonna. Como isso não daria certo? Mas, como febres de verão, será mais um "last big thing" em breve.


Avaliação:  


Disco: Ricky Martin Artista: Ricky Martin Lançamento: Sony Quanto: R$ 18, em média


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