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CRÍTICA/RICKY MARTIN
O que acabou foram ídolos
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
Óbvio que não foi o pop norte-americano que acabou - e o
"capo" Emílio Estefan Jr. sabe
muito bem disso. O que não
existe nos EUA são ídolos. O
rock é cada vez menos consumido, desde a morte de Kurt Cobain, do Nirvana, quando o hip
hop conquistou o pódio das paradas locais com vários nomes
que vão e vêm e vêm e vão.
Os EUA têm uma tara pelo
"the next big thing" musical, algo que exploda, que aconteça,
que seja capas de revistas, que vá
ao "Saturday Night Live", "Late
Show", que seja eleito um dos
mais sexy pela "People" e, se
possível, que abra a boca diante
de um microfone -não precisa
cantar bem, claro.
Uma conjunção de fatores levaram o menudo Ricky "uêpa!"
Martin ao estrelato yankee, ao
lançar "Ricky Martin", seu
quinto álbum e o primeiro com
algumas músicas em inglês, para os americanos limítrofes entenderem o que ele canta -mal.
É de Martin o hino oficial da
Copa do Mundo de 98, "La Copa
de la Vida", evento transmitido
a centenas de países, muitos deles onde Martin já estourara nas
paradas. Mas faltavam os EUA.
Foi com essa música, na apresentação do Grammy, em fevereiro último, que Martin ganhou
não só o prêmio de melhor performance de pop latino, mas a
América: sensual, "caliente", carismático, tudo o que um norte-americano espera de um latino.
E foi beijado por Madonna, uau!
Às portas deste verão, lançou
esse disco, sustentado por uma
poderosa e bem-sucedida jogada mercadológica da Sony, e foi
direto para o primeiro lugar dos
álbuns mais vendidos da "Billboard" -fato inédito para um
latino (na verdade Martin, nascido em Porto Rico, tem nacionalidade norte-americana).
Vendeu, em média, mais de 95
mil discos por dia até hoje, puxado pelo mega-hit "Livin" La
Vida Loca", e se convencionou
chamar isso de invasão latina.
Balela, foi puro "timing". Martin é o "the next big thing", mas
ganhou o reforço de alguns "little things", como o embuste musical Jennifer Lopez (com "On
the 6"- da Sony-, que pode
ser lido como "on the sex", trocadilho infame que só reforça o
mito de "vagabunda-gostosa"
que as latinas têm entre os anglo-saxões), o salseiro Marc Anthony, alguns filhos de Julio
Iglesias e o merengueiro Elvis
Crespo -da Sony-, a maioria
comandada por Emílio Estefan
Jr., o Barry Gordon de Miami.
Os latinos somam mais de 30
milhões nos EUA -e devem ultrapassar os negros em 2009,
tornando-se a maior minoria-,
e as vendas de música latina
cresceram 21% em 98.
Terreno aplainado, tome
Ricky Martin. "Ricky Martin" é
ruim, mas é perfeito produto
para esse tipo de invasão. Ele é
vulgar, canta para multidões
uma salsa-merengue paupérrima, tem um carisma ímpar, parece um modelo da Calvin Klein
e ainda faz dueto com Madonna.
Como isso não daria certo? Mas,
como febres de verão, será mais
um "last big thing" em breve.
Avaliação:
Disco: Ricky Martin
Artista: Ricky Martin
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média
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