FREE-LANCE PARA A FOLHA

A chamada nova literatura russa, praticamente inédita no Brasil e em muitos países, terá a chance em Frankfurt de mostrar ao mundo a que veio. Considera-se "nova" toda a literatura produzida no país de 12 anos para cá, após o fim do regime soviético e da censura, apesar de que, há dois anos, Ievguêni Riabtsev tenha sido expulso da União de Escritores por ter ousado publicar um romance sobre a vida privada do poeta Aleksandr Púchkin (1799-1837), "As 113 Donzelas de Púchkin".
O que um romance policial despretensioso como "A Face Radiante da Morte" traz de melhor é justamente isso, dar a conhecer um pouco da literatura e mesmo da Rússia de hoje, talvez tão oculta para nós, leitores, quanto na época em que a "cortina de ferro" do comunismo a cobria.
Não que a trama, na verdade a sétima da série protagonizada por Nástia Kamênskaya, seja mal urdida; adepta de uma narrativa econômica, Marínina produz livros que se deixam ler com facilidade. Tudo começa quando o corpo de uma garota aparece em um terreno baldio, estrangulada. Como suspeitos principais, uma amiga "traída" pela vítima e três professores. Simples assim.
A personagem central é bem construída e, ainda que as intervenções da autora sobre o cotidiano russo sejam tão econômicas quanto sua escritura, é possível achar aqui e ali trechos curiosos.
"Me diga, de onde surgem, com décadas de educação ateísta, mulheres que se tornam religiosas de repente?", pergunta, a certa altura, um dos investigadores. "Da rodovia de Kiev até a entrada do clube esticava-se uma estradinha bem asfaltada, que certamente não iriam construir para os sofridos carros nacionais", diz, ao descrever o caminho para um clube de equitação grã-fino.
A verdade é que não deixa de ser prazeroso ter de volta a Rússia, terra de grandes narradores, como locação para a imaginação. Marínina é só um aperitivo; muito mais deve estar vindo por aí.

A Face Radiante da Morte
    Autora: Alexandra Marínina Editora: Geração Editorial Quanto: R$ 43 (304 págs.)