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CRÍTICA
Manifesto arquitetônico pop perdeu sua atualidade
GUILHERME WISNIK
CRÍTICO DA FOLHA
O livro "Aprendendo com
Las Vegas" é, goste-se ou
não, literatura fundamental para
o pensamento arquitetônico do
século 20. Lançado em 1972, foi
tomado como manifesto da pós-modernidade, no mesmo ano em
que a ideologia moderna teria sido implodida junto com o conjunto residencial Pruitt-Igoe, em
St. Louis (EUA).
Três décadas depois, o livro chega ao Brasil como um valioso documento, pois o seu maior interesse está no seu envelhecimento.
Refiro-me à percepção crítica de
uma importante transformação,
que é despertada pela sua leitura.
Pois a Las Vegas dos cassinos
-um conjunto urbano espalhado ao longo de um corredor comercial no meio do deserto- está distante das paisagens que consideramos hoje pós-modernas,
formadas por complexos de
"shopping malls" -espaços que
replicam em ambiente controlado a multiplicidade das cidades.
Essa distância é a melhor baliza
para ler o livro hoje, pois descreve
uma mudança também verificável na própria Las Vegas. Avesso
às críticas moralistas e consciente
de que um modelo de cidade decorre do outro, Venturi diz, no
posfácio, ser essa mudança uma
"evolução". Mas, em outra ocasião, admite: "Isso tornou Las Vegas menos relevante".
Essa ambiguidade é a chave para uma avaliação retrospectiva.
Pois, pensado como um ataque às
"simplificações" modernistas, o
livro propunha uma abertura para o léxico do novo "vernáculo comercial" das cidades americanas,
afirmando ser essa iconografia
urbana, e não mais os edifícios, a
real emissora de significados na
sociedade contemporânea.
Tal atitude se amparava numa
aposta pop na legitimidade de um
gosto supostamente popular e afinado à cultura de consumo, ironizando a necessidade de controle
imposta pelos arquitetos. Para
quem o encara com certa distância histórica e de fora dos EUA, é
muito difícil aceitar como legítima essa dita "cultura popular".
Questão semelhante volta e
meia se coloca em relação à arte
pop: como é possível considerar
crítica tamanha positividade? E,
no entanto, não há nada na obra
de Venturi equivalente às "cadeiras elétricas" ou aos "acidentes de
automóvel" de Andy Warhol. Se
sua aceitação irônica desse vernáculo desencantado se afinava à espontaneidade precária e algo "heróica" daquela Las Vegas, sua visão perdeu atualidade crítica. Esta, se transferiu para produções
como a do crítico Vincent Scully e
do arquiteto Rem Koolhaas.
Aprendendo com Las Vegas
Autores: Robert Venturi, Denise Scott
Brown e Steven Izenour
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Cosac & Naify
Quanto: R$ 39 (224 págs.)
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