UOL


São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fome Zero e George W. Bush fazem rir no Salão Internacional de Humor de Piracicaba

Piadas de salão

Divulgação
Ao lado, caricatura que retrata o cartunista Henfil, selecionada para o 30º Salão Internacional de Humor de Piracicaba


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Piracicaba é conhecida por muitos como a capital nacional do açúcar, do álcool e da pamonha. Só que hoje a cidadezinha do interior paulista de pouco mais de 300 mil habitantes recebe uma outra, pomposa e temporária, alcunha: a capital internacional do humor.
Motivo de boas piadas há 30 anos, o Salão Internacional de Humor de Piracicaba expõe até o dia 19 de outubro um conjunto de 221 trabalhos de humor gráfico, divididos entre as categorias caricatura, cartum, charge e tiras.
Nos próximos meses ganha catálogo, livro com os cartunistas eméritos da região e um luxuoso capa-dura com os premiados de todas as edições do evento.
Criado durante o auge do regime militar como um reduto de liberdade de expressão e crítica, o salão serviu de modelo para diversas iniciativas semelhantes no resto do país, como os salões de humor do Piauí e de Porto Alegre.
Mas, se na década de 70 eram as fardas e fuzis que predominavam nos trabalhos de jovens "desconhecidos" como Laerte, Angeli, Glauco e Chico Caruso, sua versão 2003 vem carregada de um novo senso de humor.
"Desde a época do Ângelo Agostini que esse quadro se repete: naqueles momentos em que a política se mostra mais agressiva é que surgem movimentos de contestação mais ricos", comenta o cartunista Zélio Alves Pinto, 65. Irmão de Ziraldo, Zélio foi um dos responsáveis pela criação do salão piracicabano, em 1974, e nesta edição será homenageado como o "padrinho" do evento.

Democracia
O visitante que circular pelos corredores do Engenho Central, em Piracicaba, onde se realiza a exposição, vai se deparar com temas um pouco mais prosaicos, como caricaturas de Jô Soares e João Gordo, ao lado de cartuns de temática social mais contundentes como o combate a fome e a violência nas grandes capitais. "Bem ou mal, vivemos agora em uma democracia e o leitor não está predisposto a esse tipo de crítica. Um Henfil hoje provavelmente cairia no vazio", reforça Zélio.
Ainda que receba cerca de "meia dúzia de desenhistas novos" a cada nova edição de seu "Pasquim 21", o cartunista lamenta a cada vez mais escassa vaga de trabalho para os desenhistas de opinião nos jornais do país.
Gualberto Costa, 48, presidente da comissão organizadora do Salão de Piracicaba, completa: "Na época de glória do "Pasquim" todo mundo queria ser o Henfil, queria ser o Jaguar ou o Millôr. Hoje tem grandes jornais que nem chargistas têm. Isso desmotiva as pessoas a entrar nesse mercado".

Cansaço
O humor está cansado? "Não existe no Brasil "o" novo salão. Todos são adaptações do que vem acontecendo em Piracicaba, e ninguém chegou com uma proposta que rompa com esse formato", defende Gual, que vem negociando com o governo do Estado a transferência do Museu de Artes Gráficas de SP para Piracicaba.
Atuante no evento desde os anos 80, Gual promete aproveitar a presença de profissionais da área no evento e realizar uma reunião para reavaliar o regulamento do salão. "Uma das questões será a de passar a aceitar a arte gerada em computador. Nunca aceitamos porque se trata de prêmio-aquisição da prefeitura e, nessa nova perspectiva, não existirá mais o original, o sujeito pode fazer um cartum, copiá-lo e participar de todos os salões."
Zélio se diz contra as práticas de seleção "xiitas". "Quando eu dava as minhas aulas de desenho, era contra o uso do aerógrafo. Não penso mais assim. Sou a favor da linguagem eletrônica."

30º SALÃO DE HUMOR DE PIRACICABA. Quando: abertura hoje, às 20h; até 19/10. Onde: Armazém 14 (pq. Engenho Central, s/nº, tel. 0/xx/19/3421-3296, Piracicaba, São Paulo). Grátis.


Texto Anterior: Memória: O mais faminto dos antropofágicos
Próximo Texto: Walter Salles: "Memórias do Subdesenvolvimento", mais atual do que nunca
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.