São Paulo, Quinta-feira, 30 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NA ESTRADA
Man or Astro-man? traz sua 'surf music espacial' para 12 cidades brasileiras; Folha foi ao show em Americana; a apresentação de hoje é em São bernardo
A banda da Lua

IVAN FINOTTI
enviado especial a Americana (SP)

Na sexta-feira passada, a banda norte-americana de "surf music espacial" Man or Astro-man? chegou ao Brasil para uma turnê em 12 cidades brasileiras.
Hoje à noite, os quatro tocam no Planeta Rock, em São Bernardo do Campo (veja quadro à direita), onde já se apresentaram no ano passado.
A turnê, que já passou por Belo Horizonte e Santos, começou em Americana, interior de São Paulo, onde foi acompanhada pela reportagem da Folha.

Sexta-feira, 24 de setembro 6h -
Coco, the Electronic Monkey Wizard (baixo e vocal), Birdstuff (bateria), Trace Reading (guitarra) e Blazar, the Probe Handler (guitarra) e um técnico de som que se apresenta como Kurt Cobain (mas ninguém acredita) chegam ao aeroporto de Cumbica. Trace Reading é retido na alfândega: "Por sorte não trouxe minhas pistolas laser".

7h -
Ainda no aeroporto, os quatro sacam minicomputadores azuis de bolso, conectáveis ao bocal de qualquer telefone ou orelhão. Com os aparelhos, recebem e enviam e-mails, dando notícias do Brasil.

7h20 -
Chega o ônibus que vai levá-los pela turnê brasileira. Ao verem que é um veículo de dois andares, pulam de alegria: "É um "double-deck", Coco!", diz Birdstuff, ao que Coco responde: "É um "double-deck", Birdstuff!".

7h40 -
Com o bagageiro lotado de guitarras e uniformes espaciais, o "double-deck" segue para Americana, a 133 quilômetros de São Paulo. Ninguém dorme. Blazar, the Probe Handler brinca com seu laptop. Trace Reading fotografa qualquer estrutura metálica que apareça pelas estradas. Birdstuff explora o ônibus com sua câmera de vídeo ("Aqui temos um banheiro; aqui, mais poltronas"). Coco, mentor intelectual da banda, só fiscaliza. No ônibus vão ainda Marcos Boffa, diretor da gravadora Motor Music e organizador da turnê, e uma equipe da revista "Showbizz".

9h40 -
Um hotel sem estrelas espera o Man or Astro-man? em Americana. Ninguém se anima a frequentar a piscina e todos vão dormir. Mas antes Birdstuff avisa que o próximo álbum do grupo será mais psicodélico.

13h30 -
Hora do almoço. A banda aguarda os promotores do show de Americana, que prometeram levar os gringos para comer lombo e torresminho. Para azar da banda e sorte do público, o restaurante estava fechado.

14h15 -
Mais duas cozinhas fechadas, e o Man or Astro-man? acaba em um restaurante por quilo. Durante o almoço, o debate versa sobre clones. No ano passado, Coco achou que o melhor para o MoAm? seria ter "bandas-xerox" altamente treinadas para reproduzir todos os acordes da banda original. "Mas nós matamos todos eles", revela Trace Reading. "Eles estavam começando a ter idéias próprias."

15h30 -
Na volta para o hotel, mais jornalistas aguardam a banda. Uma equipe da MTV e outra da revista "Veja" querem raptar os astronautas para fazer suas reportagens. Antes, porém, eles vão dar uma voltinha na cidade para que a "Showbizz" e a Folha tirem suas fotos. "Andar pela cidade?", pergunta Coco. "Só se for de uniforme." Pedido atendido, os rapazes vestem seus macacões escarlates e quase são confundidos com um grupo de lixeiros que usavam roupas semelhantes.

16h -
Blazar, the Probe Handler se encanta com a garapa enquanto Trace Reading adota uma folha seca tropical gigante. Os velhinhos nos bancos da praça custam a acreditar.

19h -
A banda sai para a passagem de som. O local chama-se Diversões Sônicas e tem mesa de sinuca e pebolim no primeiro andar. O show é no subsolo. Cabem 400 pessoas espremidas. O cartaz de divulgação promete que a MoAm? é a melhor banda do universo.

20h -
Passam mais tempo consertando seus badulaques do que efetivamente passando o som. A montagem do equipamento leva uma hora e meia.

22h25 -
A turma sai para jantar no restaurante em frente, que se chama Big Mec e serve pizzas. Ninguém quer encarar a bolonhesa, com carne moída e molho de tomate. Birdstuff revela que não come carne nem qualquer coisa derivada de animal, como queijo ou ovo.
Sua pizza é a seguinte: cebola, tomate, palmito e, claro, uma azeitona. Trace Reading e Blazar, the Probe Handler se rebelam contra tamanha correção e pedem cerveja. Mas, na hora de comer, voltam ao guaraná.

23h -
Agora o jeito é esperar, já que o show está programado para a 1h e não adianta voltar ao hotel. Para enrolar, o MoAm? resolve não tomar café no Big Mec. Vão ao restaurante vizinho, mas lá não há café.

Sábado, 25 de setembro 0h15 -
Começa a primeira banda de abertura. O MoAm? toma cerveja no meio do povo. Foram vendidos uns 250 ingressos a R$ 10, o suficiente para não parecer vazio e não espremer ninguém.

1h15 -
A segunda banda.

2h25 -
Entra no palco o Man or Astro-man?. Em uma hora e 15 minutos de show, a banda desfila seus sucessos interplanetários instrumentais. O som é alto pacas. Os 250 felizardos de Americana nunca viram um show assim, dá para sacar.

3h -
O ponto alto é o hit "As Estrelas Agora Elas Estão Mortas", do último disco, "Eeviac", lançado no Brasil. O refrão em português é pré-gravado. O capacete de Coco se incendeia. Uma das donas da casa de shows sai de trás do balcão e passeia pela platéia assoprando um apito estridente: "Prrrrrrrrr... Prrrrrrrrrr".

3h25 -
Fim do show. Autógrafos. Abraços. Beijos. A banda só consegue sair uma hora depois.

8h30 -
Três horas de sono e Coco, the Electronic Monkey Wizard, Birdstuff, Trace Reading e Blazar, the Probe Handler estão de volta ao "double-deck". Têm uma viagem de dez horas pela frente, até Belo Horizonte, onde vão tocar nessa mesma noite.


O jornalista Ivan Finotti viajou a convite da Motor Music

Texto Anterior: Contardo Calligaris: Leituras narcisistas
Próximo Texto: Ronaldinho quebra o "carão" fashion
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.