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NA ESTRADA
Man or Astro-man? traz sua 'surf music espacial' para 12 cidades brasileiras; Folha foi ao show em Americana; a apresentação de hoje é em São bernardo
A banda da Lua
IVAN FINOTTI
enviado especial a Americana (SP)
Na sexta-feira passada, a banda
norte-americana de "surf music
espacial" Man or Astro-man?
chegou ao Brasil para
uma turnê em 12 cidades
brasileiras.
Hoje à noite, os quatro
tocam no Planeta Rock, em
São Bernardo do Campo (veja
quadro à direita), onde já se
apresentaram no ano passado.
A turnê, que já passou por Belo
Horizonte e Santos, começou em
Americana, interior de São Paulo,
onde foi acompanhada pela
reportagem da Folha.
Sexta-feira, 24 de
setembro
6h - Coco, the Electronic Monkey Wizard
(baixo e vocal), Birdstuff
(bateria), Trace Reading
(guitarra) e Blazar, the Probe
Handler (guitarra) e um técnico de som que se apresenta como
Kurt Cobain (mas ninguém acredita) chegam ao aeroporto de
Cumbica. Trace Reading é retido
na alfândega: "Por sorte não trouxe minhas pistolas laser".
7h - Ainda no aeroporto, os
quatro sacam minicomputadores
azuis de bolso, conectáveis ao bocal de qualquer telefone ou orelhão. Com os aparelhos, recebem
e enviam e-mails, dando notícias
do Brasil.
7h20 - Chega o ônibus que vai
levá-los pela turnê brasileira. Ao
verem que é um veículo de dois
andares, pulam de alegria: "É um
"double-deck", Coco!", diz Birdstuff, ao que Coco responde: "É
um "double-deck", Birdstuff!".
7h40 - Com o bagageiro lotado
de guitarras e uniformes espaciais, o "double-deck" segue para
Americana, a 133 quilômetros de
São Paulo. Ninguém dorme. Blazar, the Probe Handler brinca
com seu laptop. Trace Reading
fotografa qualquer estrutura metálica que apareça pelas estradas.
Birdstuff explora o ônibus com
sua câmera de vídeo ("Aqui temos um banheiro; aqui, mais poltronas"). Coco, mentor intelectual da banda, só fiscaliza. No
ônibus vão ainda Marcos Boffa,
diretor da gravadora Motor Music e organizador da turnê, e uma
equipe da revista "Showbizz".
9h40 - Um hotel sem estrelas
espera o Man or Astro-man? em
Americana. Ninguém se anima a
frequentar a piscina e todos vão
dormir. Mas antes Birdstuff avisa
que o próximo álbum do grupo
será mais psicodélico.
13h30 - Hora do almoço. A
banda aguarda
os promotores do
show de Americana, que prometeram levar os gringos para comer
lombo e torresminho. Para azar da
banda e sorte do público,
o restaurante estava fechado.
14h15 - Mais duas cozinhas fechadas, e o Man
or Astro-man? acaba em um
restaurante por quilo. Durante o
almoço, o debate versa sobre clones. No ano passado, Coco achou
que o melhor para o MoAm? seria
ter "bandas-xerox" altamente
treinadas para reproduzir todos
os acordes da banda original.
"Mas nós matamos todos eles",
revela Trace Reading. "Eles estavam começando a ter idéias próprias."
15h30 - Na volta para o hotel,
mais jornalistas aguardam a banda. Uma equipe da MTV e outra
da revista "Veja" querem raptar
os astronautas para fazer suas reportagens. Antes, porém, eles vão
dar uma voltinha na cidade para
que a "Showbizz" e a Folha tirem
suas fotos. "Andar pela cidade?",
pergunta Coco. "Só se for de uniforme." Pedido atendido, os rapazes vestem seus macacões escarlates e quase são confundidos
com um grupo de lixeiros que
usavam roupas semelhantes.
16h - Blazar, the Probe Handler
se encanta com a garapa enquanto Trace Reading adota uma folha
seca tropical gigante. Os velhinhos nos bancos da praça custam
a acreditar.
19h - A banda sai para a passagem de som. O local chama-se
Diversões Sônicas e tem mesa de
sinuca e pebolim no primeiro andar. O show é no subsolo. Cabem
400 pessoas espremidas. O cartaz
de divulgação promete que a
MoAm? é a melhor banda do universo.
20h - Passam mais tempo consertando seus badulaques do que
efetivamente passando o som. A
montagem do equipamento leva
uma hora e meia.
22h25 - A turma sai para jantar
no restaurante em frente, que se
chama Big Mec e serve pizzas.
Ninguém quer encarar a bolonhesa, com carne moída e molho
de tomate. Birdstuff revela que
não come carne nem qualquer
coisa derivada de animal, como
queijo ou ovo.
Sua pizza é a seguinte: cebola,
tomate, palmito e, claro, uma
azeitona. Trace Reading e Blazar,
the Probe Handler se rebelam
contra tamanha correção e pedem cerveja. Mas, na hora de comer, voltam ao guaraná.
23h - Agora o jeito é esperar, já
que o show está programado para a 1h e não adianta voltar ao
hotel. Para enrolar, o MoAm?
resolve não tomar café no Big
Mec. Vão ao restaurante vizinho, mas lá não há café.
Sábado, 25 de setembro
0h15 - Começa a primeira banda
de abertura. O MoAm? toma cerveja no meio do povo. Foram
vendidos uns 250 ingressos a R$
10, o suficiente para não parecer
vazio e não espremer ninguém.
1h15 - A segunda banda.
2h25 - Entra no palco o Man or
Astro-man?. Em uma hora e 15
minutos de show, a banda desfila
seus sucessos interplanetários
instrumentais. O som é alto pacas. Os 250 felizardos de Americana nunca viram um show assim, dá para sacar.
3h - O ponto alto é o hit "As Estrelas Agora Elas Estão Mortas",
do último disco, "Eeviac", lançado no Brasil. O refrão em português é pré-gravado. O capacete de
Coco se incendeia. Uma das donas da casa de shows sai de trás
do balcão e passeia pela platéia
assoprando um apito estridente:
"Prrrrrrrrr... Prrrrrrrrrr".
3h25 - Fim do show. Autógrafos. Abraços. Beijos. A banda só
consegue sair uma hora depois.
8h30 - Três horas de sono e Coco, the Electronic Monkey Wizard, Birdstuff, Trace Reading e
Blazar, the Probe Handler estão
de volta ao "double-deck". Têm
uma viagem de dez horas pela
frente, até Belo Horizonte, onde
vão tocar nessa mesma noite.
O jornalista Ivan Finotti viajou a convite da Motor Music
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