São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2000

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RELÂMPAGOS

Mormaço

JOÃO GILBERTO NOLL

Tem um cachorro ao lado da menina que dorme na esteira. Enrodilhado, olhos semi-abertos, as pupilas imersas em si mesmas, turvadas de tanto resistir. A menina é uma sombra do que foi até semanas atrás, antes da febre que a prendeu à esteira. Quem escutará as palmas do forasteiro lá fora? O desconhecido bate palmas. A menina mal e mal ressona, não parece em condições de ouvir e atender. Olha, já não há nenhum cachorro. E a criança já não passa de um mero lapso no trançado regular da esteira. O estranho desiste, na estrada faz sinal. Consegue uma carona. Passando a primeira curva, pede para descer. Vai buscar uma coisa que esqueceu. Desce num charco. Perde os pés de vista, os tornozelos. A garça, logo ali, não parece se importar. Uma pena se solta, flutua na brisa...


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