|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELÂMPAGOS
Mormaço
JOÃO GILBERTO NOLL
Tem um cachorro ao lado da
menina que dorme na esteira.
Enrodilhado, olhos semi-abertos, as pupilas imersas em si
mesmas, turvadas de tanto resistir. A menina é uma sombra
do que foi até semanas atrás,
antes da febre que a prendeu à
esteira. Quem escutará as palmas do forasteiro lá fora? O
desconhecido bate palmas. A
menina mal e mal ressona, não
parece em condições de ouvir e
atender. Olha, já não há nenhum cachorro. E a criança já
não passa de um mero lapso
no trançado regular da esteira.
O estranho desiste, na estrada
faz sinal. Consegue uma carona. Passando a primeira curva,
pede para descer. Vai buscar
uma coisa que esqueceu. Desce
num charco. Perde os pés de
vista, os tornozelos. A garça,
logo ali, não parece se importar. Uma pena se solta, flutua
na brisa...
Texto Anterior: Béjart tornou o balé popular no século 20 Próximo Texto: Palestra: Krisis volta ao Brasil para abolir o trabalho Índice
|