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"CRÔNICA DE UMA GUERRA SECRETA"
Livro traz a aproximação entre a Argentina e a Alemanha de Adolf Hitler
Diplomata relata caso vergonhoso da América Latina
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A rivalidade Brasil-Argentina hoje acontece principalmente em estádios de futebol ou
em salões de negociações comerciais do Mercosul. O livro do diplomata Sérgio Corrêa da Costa
tem o mérito de lembrar que meros 50 ou 60 anos atrás a chance
de uma guerra de verdade entre
os dois países era bem alta. Igualmente impressionante é a descrição de como o nazismo criou raízes fortes no país vizinho.
Que a Argentina tenha sido o
país das Américas mais simpático
à Alemanha de Adolf Hitler é fato
bem conhecido -basta ver o
quanto demorou para declarar
guerra ao nazi-fascismo, literalmente apenas para inglês ver.
Mas o livro "Crônica de uma
Guerra Secreta - Nazismo na
América: A Conexão Argentina"
tem também este outro mérito,
relembrar em detalhe para as gerações atuais um dos episódios
mais vergonhosos da história da
América Latina, e por isso tratado
como um tabu por muita gente.
Os brasileiros que conhecem
história sabem que também havia
no governo de Getúlio Vargas um
bom número de simpatizantes do
eixo Roma-Berlim-Tóquio. Mas o
ditador Vargas era essencialmente pragmático e oportunista.
Já na Argentina houve uma genuína colaboração com os alemães, especialmente dos militares
golpistas e daquele que se tornaria
um mito na política local, o coronel Juan Perón. Corrêa da Costa
conta a extensão do apoio argentino aos alemães durante a guerra
e a lamentável ajuda que deram
aos criminosos de guerra depois
que a Alemanha foi derrotada.
Mas o melhor do livro não é esse
resumo do que se escreveu sobre
o tema, mas as experiências pessoais do autor, que chegou a bancar o espião amador para obter
informações sobre a Argentina.
As intenções argentinas de anexar territórios vizinhos, incluindo
boa parte do sul brasileiro, eram
particularmente preocupantes.
A hostilidade argentina ajuda a
explicar por que o Brasil enviou
apenas uma divisão de infantaria
para a guerra na Europa, quando
o plano original era enviar três.
O autor também resume alguns
momentos clássicos da inteligência na guerra, como a interceptação das mensagens cifradas alemães. Esse é o ponto fraco do livro
-ele exalta demais a importância
da inteligência. Como mostrou o
historiador inglês John Keegan,
no recente livro "Intelligence in
War", por melhor que seja a inteligência, a guerra anda é decidida
no campo de batalha. "No fundo", diz Keegan, "é a força, não a
fraude ou o conhecimento prévio,
que conta".
Crônica de uma Guerra Secreta
Autor: Sérgio Corrêa da Costa
Editora: Record
Quanto: R$ 54,90 (530 págs.)
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