São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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"CRÔNICA DE UMA GUERRA SECRETA"

Livro traz a aproximação entre a Argentina e a Alemanha de Adolf Hitler

Diplomata relata caso vergonhoso da América Latina

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A rivalidade Brasil-Argentina hoje acontece principalmente em estádios de futebol ou em salões de negociações comerciais do Mercosul. O livro do diplomata Sérgio Corrêa da Costa tem o mérito de lembrar que meros 50 ou 60 anos atrás a chance de uma guerra de verdade entre os dois países era bem alta. Igualmente impressionante é a descrição de como o nazismo criou raízes fortes no país vizinho.
Que a Argentina tenha sido o país das Américas mais simpático à Alemanha de Adolf Hitler é fato bem conhecido -basta ver o quanto demorou para declarar guerra ao nazi-fascismo, literalmente apenas para inglês ver.
Mas o livro "Crônica de uma Guerra Secreta - Nazismo na América: A Conexão Argentina" tem também este outro mérito, relembrar em detalhe para as gerações atuais um dos episódios mais vergonhosos da história da América Latina, e por isso tratado como um tabu por muita gente.
Os brasileiros que conhecem história sabem que também havia no governo de Getúlio Vargas um bom número de simpatizantes do eixo Roma-Berlim-Tóquio. Mas o ditador Vargas era essencialmente pragmático e oportunista.
Já na Argentina houve uma genuína colaboração com os alemães, especialmente dos militares golpistas e daquele que se tornaria um mito na política local, o coronel Juan Perón. Corrêa da Costa conta a extensão do apoio argentino aos alemães durante a guerra e a lamentável ajuda que deram aos criminosos de guerra depois que a Alemanha foi derrotada.
Mas o melhor do livro não é esse resumo do que se escreveu sobre o tema, mas as experiências pessoais do autor, que chegou a bancar o espião amador para obter informações sobre a Argentina.
As intenções argentinas de anexar territórios vizinhos, incluindo boa parte do sul brasileiro, eram particularmente preocupantes.
A hostilidade argentina ajuda a explicar por que o Brasil enviou apenas uma divisão de infantaria para a guerra na Europa, quando o plano original era enviar três.
O autor também resume alguns momentos clássicos da inteligência na guerra, como a interceptação das mensagens cifradas alemães. Esse é o ponto fraco do livro -ele exalta demais a importância da inteligência. Como mostrou o historiador inglês John Keegan, no recente livro "Intelligence in War", por melhor que seja a inteligência, a guerra anda é decidida no campo de batalha. "No fundo", diz Keegan, "é a força, não a fraude ou o conhecimento prévio, que conta".


Crônica de uma Guerra Secreta
   
Autor: Sérgio Corrêa da Costa
Editora: Record
Quanto: R$ 54,90 (530 págs.)



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