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Crítica/"Time"
Diretor sul-coreano decepciona com clichês orientais e poesia forçada
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A proclamada nova onda do
cinema sul-coreano mais se esconde que se mostra ao espectador brasileiro. Pois por aqui
essa cinematografia, certamente interessante e produtiva,
vem sendo sinônimo exclusivo
dos filmes de Kim Ki-duk, que
está longe de representar o cinema que se faz em seu país.
A presença incessante de
Kim Ki-duk deve-se ao apoio de
financiamentos estrangeiros, e
seu cinema é feito de olho nesses mercados. Disso decorre a
predominância, em seus trabalhos, de clichês orientais, como
os que estão na base de "Primavera, Verão, Outono, Inverno...
e Primavera" e "O Arco" (com
seu "zen-turismo", na definição certeira do crítico Ruy
Gardnier). Além da busca de
uma poesia forçada, prevalece
uma ênfase no "artístico", o que
dilui os resultados em um
amontoado de obviedades.
No filme "Time", mais uma
vez, o diretor coreano busca estabelecer um drama a partir do
que ele considera um "conceito", a saber, o tempo como elemento transformador dos relacionamentos, em particular sobre as relações amorosas, e a
mutação da aparência como sinal da crença exclusiva na imagem e na superfície.
Kim parte de uma obsessão
contemporânea -a cirurgia
plástica- para configurar seu
discurso pseudofilosófico sobre a transformação. Para isso,
arma uma trama de vaivém de
um casal, que se perde e se
reencontra para se perder em
decorrência da obsessão de um
pela imagem do outro.
O longa-metragem alterna o
drama psicológico e a comédia
na tentativa de demonstrar a
idéia que o mesmo se torna outro, explicando assim a falência
dos relacionamentos.
O problema é que o diretor
coreano não chega a transformar seu tema em cinema, contentando-se a forçar as imagens a ilustrar um roteiro, não
destituído de interesse, mas dependente em demasia de um
pacto suposto entre o espectador e seu conceito.
E irrita mais uma vez com
sua necessidade de recorrer aos
mais desgastados clichês para
construir um discurso que se
pretende profundo, o que, enfim, é tão superficial quanto
aquilo que pretende criticar.
TIME
Direção: Kim Ki-duk
Onde: hoje, às 16h10, no Cine Bombril
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