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Crítica/"Paris, te Amo"
"Remake" de filme dos anos 60 traz megalópole múltipla
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
A reunião de histórias curtas
em longas-metragens foi um
expediente comum nos anos
60, principalmente entre produtores europeus -alguns
exemplos marcantes foram "Os
Sete Pecados Capitais" (1962),
"Rogopag" (1963), e "Paris Vu
Par..." (1965). Lançado em
maio passado no Festival de
Cannes, "Paris, te Amo" recupera esse espírito oportunista
(não necessariamente picareta) ao propor uma espécie de
"remake" de "Paris Vu Par...",
com duas grandes diferenças.
Enquanto a versão de 1965
privilegiava o olhar interno,
com seis episódios assinados
por estrelas da nouvelle vague
(Godard, Rohmer, Chabrol e
Jean Rouch), o novo projeto dá
prioridade a cineastas estrangeiros e assume riscos maiores,
multiplicando-se por 18 curtas.
Essa opção é curiosa. A superfragmentação, ao mesmo
tempo em que acentua aquele
problema irremediável dos filmes em episódios (a irregularidade), também se mostra mais
adequada para somar uma visão múltipla, diversificada, de
uma megalópole européia contemporânea como é Paris hoje.
Na medida em que nenhum
curta ultrapassa dez minutos, a
experiência da "irregularidade"
é suavizada. Os olhares estrangeiros ajudam a desmistificar
Paris sem perder o amor pela
cidade, e o corte final encontrado pelos produtores procura
uma fluidez própria, gerando
um mosaico de cadência própria em um conjunto relativamente bem-sucedido.
Os caminhos propostos ora
são mais previsíveis, ora surpreendentes. Foram mais bem-sucedidos aqueles que apostaram na síntese. Os brasileiros
Walter Salles e Daniela Thomas, por exemplo, conseguiram fazer um "road movie" sem sair de Paris, acompanhando o
caminho de uma jovem imigrante (Catalina Sandino Moreno) desde sua casa na periferia até um elegante bairro onde
trabalha como babá. Com pouquíssimo, dizem muito.
Alguns cineastas que costumam gerar expectativa (como
Gus Van Sant ou Wes Craven)
realizaram peças burocráticas,
enquanto outros, dos quais
pouco podia se esperar (como
Alexander Payne), surpreendem. O australiano Chritopher
Doyle, diretor de fotografia dos
filmes de Wong Kar Wai, radicaliza na excentricidade; a queniana Gurinder Chadha se afoga na necessidade de ser politicamente correta; Joel e Ethan
Coen debocham do mau humor
francês de forma estereotipada,
porém hilariante, enquanto
Olivier Assayas, com seus flagrantes de uma atriz americana
em passagem por Paris, assina
um dos melhores episódios.
Há, no entanto, um capítulo
que se impõe de forma avassaladora por um motivo simples:
reúne Gena Rowlands e Ben
Gazarra, os dois lendários atores de John Cassavetes, em torno de um roteiro radicalmente
afetivo assinado por Rowlands.
Em um café do Quartier Latin,
um casal separado conversa sobre o rumo de suas vidas. É absolutamente emocionante testemunhar esse encontro de gigantes, registrado da forma
mais simples possível pelos diretores Frédéric Auburtin e
Gerard Depardieu.
PARIS, TE AMO
Direção: vários
Onde: hoje, às 18h50, na Sala UOL
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