|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DESIGN
Brasileiro faz sua primeira exposição individual na cidade americana, mostrando peças com "identidade nacional"
Aos 77, Sérgio Rodrigues é "descoberto" por Nova York
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Aos 77 anos, o designer de móveis e arquiteto brasileiro Sérgio
Rodrigues ganhou sua primeira
exposição individual em Nova
York. Embora uma forma de reconhecimento tardia do seu trabalho, é mais uma prova de que
um a um os holofotes do cenário
cultural estão se voltando para o
Brasil -e parece ter chegado a
vez do país.
"O Brasil tem muito do que se
orgulhar nesse setor. Tem uma
moçada fazendo muita coisa boa.
Ousando, experimentando", disse o designer à Folha. Entre os
seus preferidos, estão Lia Siqueira, os irmãos Fernando e Humberto Campana, Carlos Motta e
Maurício Azeredo.
Mas, antes dessa "moçada", já
havia Rodrigues, cujo trabalho
marcou época e ainda ilustra
muitas publicações referenciais
de design. Seus móveis são exportados para os EUA e para a
Europa há anos.
Quanto aos holofotes recém-voltados a ele, a explicação de
Sérgio Rodrigues é direta: "O
Brasil passou por um longo período de ditadura, e tudo o que
era diferente, criativo na época
do golpe militar, sofreu um baque, ficou um pouco adormecido", afirma. "Foi assim nas artes,
na música, na literatura. Sair desse estado de dormência não é
simples. Leva tempo. Acho que
só a partir de 2000 o país começou a acordar realmente."
Pois acordou com tudo. Em
Nova York, música brasileira toca nas lojas descoladas e nos bares da moda, a recente produção
cinematográfica virou assunto
obrigatório e itens de vestuário
"made in Brazil" -especialmente os de praia- se tornaram objetos de desejo dos americanos.
No novo MoMA, peças dos irmãos Campana e de Vik Muniz
têm lugar de destaque. Não é de
estranhar que os móveis criados
por Rodrigues, que expressam o
país em cada detalhe, tenham
causado frisson a ponto de levar
a galeria onde estão expostos a
estender a exibição por duas semanas, até esta sexta.
"Meus móveis representam a
cultura espaçosa do índio, da
senzala e da casa-grande, mas
sempre com um olhar moderno.
Meu desenho é profundamente
brasileiro, sem influências, tem
uma identidade nacional, representa um estilo de vida. Sempre
trabalhei com nossa melhor madeira e nosso melhor couro."
Vendas
Consumidores sem problemas
de caixa e jovens interessados só
em conhecer o trabalho de Rodrigues mantêm o salão da R
20th Century, no charmoso bairro de Tribeca, em NY, cheio desde setembro.
Segundo o designer, o público
está especialmente interessado
em suas peças "vintage", embalado por um revival dos anos 50 e
60. Entre as cerca de 40 peças em
mostra, ganhou destaque a premiada "Poltrona Mole", de 1957.
Uma peça "vintage" sai por US$
20 mil. "A "Poltrona Mole" parece
um gentleman, uma figura imponente vestindo calças jeans. Era a
primeira cadeira que "chamava"
para sentar. Ganhou o mundo, no
começo dos anos 60. Briguei com
os pezinhos de palito. Chegaram a
dizer que os móveis eram as primeiras manifestações do pós-modernismo", conta -a falta de modéstia é justificável.
A peça mais cara em exibição,
um sofá, foi vendida por US$ 30
mil (cerca de R$ 84 mil). Há outra
igual esperando comprador.
Embora os móveis mostrados
em Tribeca estejam distantes do
consumidor comum, Rodrigues
quer colocar seu traço a serviço de
móveis mais acessíveis -atualmente, ele tem uma linha produzida industrialmente pela fábrica
paranaense LinBrasil e suas peças
podem ser compradas nas lojas
cariocas Oca e Meia-Pataca (criadas por ele). "O caminho do design precisa levar ao popular. Preço não deve ser impedimento."
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Cinema: Cineastas defendem Ancinav em Brasília Índice
|