São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

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DESIGN

Brasileiro faz sua primeira exposição individual na cidade americana, mostrando peças com "identidade nacional"

Aos 77, Sérgio Rodrigues é "descoberto" por Nova York

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Aos 77 anos, o designer de móveis e arquiteto brasileiro Sérgio Rodrigues ganhou sua primeira exposição individual em Nova York. Embora uma forma de reconhecimento tardia do seu trabalho, é mais uma prova de que um a um os holofotes do cenário cultural estão se voltando para o Brasil -e parece ter chegado a vez do país.
"O Brasil tem muito do que se orgulhar nesse setor. Tem uma moçada fazendo muita coisa boa. Ousando, experimentando", disse o designer à Folha. Entre os seus preferidos, estão Lia Siqueira, os irmãos Fernando e Humberto Campana, Carlos Motta e Maurício Azeredo.
Mas, antes dessa "moçada", já havia Rodrigues, cujo trabalho marcou época e ainda ilustra muitas publicações referenciais de design. Seus móveis são exportados para os EUA e para a Europa há anos.
Quanto aos holofotes recém-voltados a ele, a explicação de Sérgio Rodrigues é direta: "O Brasil passou por um longo período de ditadura, e tudo o que era diferente, criativo na época do golpe militar, sofreu um baque, ficou um pouco adormecido", afirma. "Foi assim nas artes, na música, na literatura. Sair desse estado de dormência não é simples. Leva tempo. Acho que só a partir de 2000 o país começou a acordar realmente."
Pois acordou com tudo. Em Nova York, música brasileira toca nas lojas descoladas e nos bares da moda, a recente produção cinematográfica virou assunto obrigatório e itens de vestuário "made in Brazil" -especialmente os de praia- se tornaram objetos de desejo dos americanos.
No novo MoMA, peças dos irmãos Campana e de Vik Muniz têm lugar de destaque. Não é de estranhar que os móveis criados por Rodrigues, que expressam o país em cada detalhe, tenham causado frisson a ponto de levar a galeria onde estão expostos a estender a exibição por duas semanas, até esta sexta.
"Meus móveis representam a cultura espaçosa do índio, da senzala e da casa-grande, mas sempre com um olhar moderno. Meu desenho é profundamente brasileiro, sem influências, tem uma identidade nacional, representa um estilo de vida. Sempre trabalhei com nossa melhor madeira e nosso melhor couro."

Vendas
Consumidores sem problemas de caixa e jovens interessados só em conhecer o trabalho de Rodrigues mantêm o salão da R 20th Century, no charmoso bairro de Tribeca, em NY, cheio desde setembro.
Segundo o designer, o público está especialmente interessado em suas peças "vintage", embalado por um revival dos anos 50 e 60. Entre as cerca de 40 peças em mostra, ganhou destaque a premiada "Poltrona Mole", de 1957. Uma peça "vintage" sai por US$ 20 mil. "A "Poltrona Mole" parece um gentleman, uma figura imponente vestindo calças jeans. Era a primeira cadeira que "chamava" para sentar. Ganhou o mundo, no começo dos anos 60. Briguei com os pezinhos de palito. Chegaram a dizer que os móveis eram as primeiras manifestações do pós-modernismo", conta -a falta de modéstia é justificável.
A peça mais cara em exibição, um sofá, foi vendida por US$ 30 mil (cerca de R$ 84 mil). Há outra igual esperando comprador.
Embora os móveis mostrados em Tribeca estejam distantes do consumidor comum, Rodrigues quer colocar seu traço a serviço de móveis mais acessíveis -atualmente, ele tem uma linha produzida industrialmente pela fábrica paranaense LinBrasil e suas peças podem ser compradas nas lojas cariocas Oca e Meia-Pataca (criadas por ele). "O caminho do design precisa levar ao popular. Preço não deve ser impedimento."


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