São Paulo, segunda, 30 de novembro de 1998

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Chegou a hora do espetáculo terminal

FÁBIO MASSARI
especial para a Folha

Preparemo-nos, irmãos e irmãs, parece ter chegado a hora do espetáculo terminal. Seremos todos implacavelmente aniquilados pela voz que encena o "Paraíso da Tortura", a voz que emula, molda e que nos agride com o guincho dos nossos pecados e nos seduz com o fogo dos nossos delírios.
Dito de outra maneira: hoje à noite tem Diamanda Galás tocando ao vivo em São Paulo. Prepare-se, pois seu mundão, pelo menos o sônico, nunca mais será mesmo.
A tentação de anunciar a californiana de ascendência grega como uma espécie de diva maldita da música contemporânea é grande e tem lá sua procedência.
E por conta de afinidades temáticas ("Bíblia"), referenciais (blues e gospel) e de entrega estética, seria possível se referir a Galás como uma Nick Cave de saias, o que não seria justo para ambos. No seu caso, a coisa é mais em cima.
Diamanda Galás é artista da voz. Ainda que produza estragos irreparáveis com a sensualidade e imponência de seus ataques aos teclados, Galás busca a catarse, a explosão, a expiação pela garganta.
Desde sua estréia discográfica em 82, com "Litanies of Satan", Galás tem buscado (des)articular oralmente o que para Frank Zappa era o "projeto-objeto".
Pode-se dividir sua produção discográfica em três partes.
Os rabiscos iniciais (como "Diamanda Galás", 84) abrem espaço para a fase "Aidas" da artista, com três discos-ensaio abordando o tema de maneira virulenta e poética, reunidos em 88 no CD duplo "Masque of the Red Death".
Essa fase se encerra com o registro ao vivo "Plague Mass" (91) e a partir daqui surge a Diamanda Galás mais acessível. Depois há "The Singer" (92) e "Sporting Life" (94), parceria com o ex-Led Zeppelin John Paul Jones, e grande tesouro escondido da discografia essencial dos anos 90. Por fim, há "Malediction & Prayer" (98): Galás ao piano ao vivo, o melhor disco do ano.



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