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Chegou a hora do espetáculo terminal
FÁBIO MASSARI
especial para a Folha
Preparemo-nos, irmãos e irmãs,
parece ter chegado a hora do espetáculo terminal. Seremos todos
implacavelmente aniquilados pela
voz que encena o "Paraíso da Tortura", a voz que emula, molda e
que nos agride com o guincho dos
nossos pecados e nos seduz com o
fogo dos nossos delírios.
Dito de outra maneira: hoje à
noite tem Diamanda Galás tocando ao vivo em São Paulo. Prepare-se, pois seu mundão, pelo menos o
sônico, nunca mais será mesmo.
A tentação de anunciar a californiana de ascendência grega como
uma espécie de diva maldita da
música contemporânea é grande e
tem lá sua procedência.
E por conta de afinidades temáticas ("Bíblia"), referenciais (blues e
gospel) e de entrega estética, seria
possível se referir a Galás como
uma Nick Cave de saias, o que não
seria justo para ambos. No seu caso, a coisa é mais em cima.
Diamanda Galás é artista da voz.
Ainda que produza estragos irreparáveis com a sensualidade e imponência de seus ataques aos teclados, Galás busca a catarse, a explosão, a expiação pela garganta.
Desde sua estréia discográfica
em 82, com "Litanies of Satan",
Galás tem buscado (des)articular
oralmente o que para Frank Zappa
era o "projeto-objeto".
Pode-se dividir sua produção
discográfica em três partes.
Os rabiscos iniciais (como "Diamanda Galás", 84) abrem espaço
para a fase "Aidas" da artista, com
três discos-ensaio abordando o tema de maneira virulenta e poética,
reunidos em 88 no CD duplo
"Masque of the Red Death".
Essa fase se encerra com o registro ao vivo "Plague Mass" (91) e a
partir daqui surge a Diamanda Galás mais acessível. Depois há "The
Singer" (92) e "Sporting Life" (94),
parceria com o ex-Led Zeppelin
John Paul Jones, e grande tesouro
escondido da discografia essencial
dos anos 90. Por fim, há "Malediction & Prayer" (98): Galás ao piano
ao vivo, o melhor disco do ano.
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