São Paulo, Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2000


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MORUMBIFASHION

Não é o que parece

João Wainer/Folha Imagem
Modelo do desfile de Alexandre Herchcovitch


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha



Alexandre Herchcovitch é um grande estilista. Foi isso que o público de seu desfile saiu pensando. Sua coleção de outono-inverno, apresentada na última sexta no MorumbiFashion Brasil, mostra um criador em pleno exercício de seu vocabulário fashion, domando as vontades dos tecidos e se desafiando a cada peça. O evento termina hoje, depois de mostrar 20 coleções, no MorumbiShopping (zona sul de São Paulo).
"São as mesmas coisas de sempre, só mudam as cores...", desconversa o estilista. Herchcovitch volta a cobrir o rosto dos modelos, de novo com uma peruquinha geométrica. Assim, seres andróginos acionam um distante futurismo urbano, ao som de violinos nervosos, caminhando e parando entre portas surrealistas, no cenário branco.
Usando a alfaiataria como linguagem, Herchcovitch pode trabalhar com a idéia da nova elegância que começa a tomar conta do mundo. Mas o estilista faz à sua moda: agora ele brinca de ser chique. As roupas escondem muito mais por trás delas do que se pode ver, em termos conceituais e práticos.
A camisa branca (falsamente social) vem com saia marrom em jeans com cintura baixa, sem cós, pelo joelho, com três tipos de meias, da soquete à inteiriça. Parece comportado? É moderno.
Um look de listras vem com blusa, twin-set e t-shirt, tudo ao mesmo tempo. O agasalho esportivo parece galante, desses que nossos pais usam, mas ganha falsas costuras ao contrário, no azul. Já o outro, marrom, cafona, fica bacana com a costura bem-feita. O sapato parece de mauricinho, mas se desdobra em elaboradas resoluções (botas, mules, boneca), que certamente vão virar hits de descolados pelo país.
Assim vai o estilista, deliciosamente confundindo os olhos do espectador, dificultando estereótipos e classificações imediatistas. As coisas não são mais tão simples. Ao mesmo tempo, trata-se de uma moda concisa; auto-suficiente. Moda inteligente, enfim, sem perder a peculiar ironia de Herchcovitch.
Ícones tradicionais da elegância, como os plissados e a camisa branca, viram objeto do dominó fashion do estilista, que inclui nesse jogo peças em salmão, bege, preto, vermelho. Volumes, pregas, camadas de tecido e sobreposição no preto encostam na sua idéia de japonismo anos 80 (também presente em coleções anteriores), década adorada por Herchcovitch, que nesta temporada volta com propulsão de tendência.
Enfim, um grande estilista.


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