BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local

O cenário é o subúrbio carioca, os personagens, um jogador de futebol de várzea, um favelado homossexual e uma empregada doméstica.
O fantasma de Nelson Rodrigues parece ter rondado a prancheta do quadrinista Marcello Gaú quando ele criava o seu primeiro livro, "Fealdade de Fabiano Gorila", que reúne três crônicas em forma de HQ.
Assim como o criador de "A Vida Como Ela É" e "À Sombra das Chuteiras Imortais", Gaú elege como heróis tipos mundanos do subúrbio e retrata-os com lirismo, mas sem glamour.

Influências
Pode-se traçar paralelos com a obra de autores realistas de história em quadrinhos, como Jacques de Loustal e Hugo Pratt, mas Gaú diz ter outras fontes de inspiração.
"Meu estilo é fruto de uma crise de identidade. Fiquei muito tempo sem ler quadrinhos. Fui influenciado por Lima Barreto, Nelson Rodrigues e Machado de Assis."
Em comum com esses autores, Gaú tem a preferência por pessoas comuns e por tramas urbanas, sempre ambientadas no Rio.

Cidade maravilhosa
É para lá que ruma o personagem Acir, da primeira história do livro.
Morador de Niterói -cidade natal de Gaú-, Acir, um jogador de futebol iniciante, vai ao Rio tentar a sorte.
Triste sina. No dia em que se apresenta para treinar no Fluminense, Getúlio Vargas se suicida.
Resultado: nem mesmo o gandula aparece para vê-lo jogar.
Acir, que, como se dizia na época, sonhava disputar "matches" por um grande "team", tem de se contentar em defender a camisa de uma modesta equipe niteroiense.
Uma homossexual que causa acidentalmente a morte de seu amado e uma empregada muito apegada à patroa são os protagonistas das outras histórias.