São Paulo, Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2000 |
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"LADRÕES DE BICICLETA" JOSÉ GERALDO COUTO da Equipe de Articulistas "Ladrões de Bicicletas", clássico neo-realista de Vittorio De Sica, é um dos filmes mais belos e influentes da história do cinema. Nas últimas cinco décadas, comoveu várias gerações de espectadores e influenciou cineastas de todos os cantos do mundo. A começar pela própria Itália, claro. Não por acaso, dois filmes realizados nos últimos anos o homenageiam já a partir do título: "Ladrões de Sabonete", de Maurizio Nichetti, e "Ladrão de Crianças", de Gianni Amelio. Mas o que é "Ladrões de Bicicletas"? É várias coisas ao mesmo tempo: um melodrama psicológico, um documento social, uma tragédia moral. Tudo isso a partir de um fiapo de história: um homem cujo emprego é colar cartazes pelas ruas de Roma tem a bicicleta (seu instrumento de trabalho) roubada, e sai pela cidade tentando recuperá-la. Mas não há nada mais enganoso que essa simplicidade, construída aliás dentro dos moldes do mais estrito neo-realismo: filmagem nas ruas, atores desconhecidos (ou antes, não-atores), naturalismo da encenação. Tudo, nessa perambulação do operário e seu filho pela cidade, contribui ao mesmo tempo para a construção de um pungente drama pessoal e de um verdadeiro ensaio sobre a sociedade italiana do pós-guerra. Como notou o crítico francês André Bazin, o prodígio de "Ladrões de Bicicleta" consiste em apresentar como acidentais e contingentes as situações "necessárias" para compor esse quadro preciso. As coisas vão acontecendo como que por acaso -o protagonista entra numa igreja, vai a uma reunião sindical, cai num bairro de ladrões etc.-, e, quando reparamos, temos diante dos olhos todo um país e seu destino, sem nunca perder de vista (e isso é que é admirável) a dimensão trágica e ética da relação entre aquele homem específico e seu filho. Numa cena admirável, o operário busca sua bicicleta numa oficina mecânica. Logo percebe que é inútil: a câmera perscruta as milhares de peças -selins, pedais, rodas, campainhas- em que foram decompostas dezenas de bicicletas, todas iguais. Poucas cenas da história do cinema foram capazes de retratar com tanta precisão e contundência a alienação da sociedade contemporânea, em que o indivíduo, como aqueles pedaços de bicicletas, é uma peça anônima, intercambiável e sem sentido. Avaliação: DVD: Ladrões de Bicicleta Título original: Ladri di Biciclette Produção: Itália, 1948 Legendas: português, inglês, espanhol Extras: biografias, filmografias e trailer original Lançamento: Continental (Filme disponível em VHS, versão em DVD, em breve nas locadoras) Texto Anterior: Vídeo lançamentos: Terra Nostra Próximo Texto: "Aprile" Índice |
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