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MÚSICA
Disco, que só será vendido em shows ou pela Internet, será cantado em arwuk, idioma da tribo acreana
Banda de índios ashaninkas grava CD
VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha
Uma banda indígena da nação
Ashaninka, de uma tribo que vive
no Acre (a 900 km de Rio Branco),
na divisa do Brasil com o Peru,
pretende fazer sucesso no país e
no mundo com um CD independente, que será vendido em shows
e pela Internet.
O maestro Jaques Morelenbaum é quem fará a direção artística do CD. O disco será gravado
na aldeia, mas as músicas ainda
não estão definidas.
Segundo o pajé Benke Pianko,
26, líder do grupo, todas serão
cantadas em arwuk, o idioma dos
ashaninka. Na aldeia, onde moram 450 pessoas, apenas 20 falam
português.
O CD deve conter músicas de
pajelança, usadas em rituais espirituais e processos de cura, de festas, como a do "Piarentsi", quando os adultos ensinam as crianças
a tocar e cantar, e músicas tradicionais dessa nação, que vive há
400 anos no Brasil.
Segundo Benke, o CD trará músicas tradicionais, românticas e
agitadas, semelhantes ao samba.
Algumas terão a participação de
crianças.
O pajé está em Brasília em busca
de patrocínio. Já conseguiu 40%
dos R$ 112 mil necessários para a
produção de mil discos, a criação
da homepage da tribo e a execução de um videoclipe e um documentário.
O governo do Acre, comerciantes das cidades próximas à aldeia,
empresas de telefonia e a ECT
(Empresa de Correios e Telégrafos) estão dispostos a investir nas
vozes dos índios.
"Após ouvir algumas das músicas e ver imagens em vídeo, percebi o quanto os ashaninka se sobressaem, causando impacto pela
forte presença visual, sua musicalidade e tradição cultural extremamente preservada", escreveu o
maestro Morelenbaum em uma
carta de apoio à iniciativa.
O próprio Benke já foi homenageado com uma música de Milton
Nascimento quando tinha 15
anos. O cantor mineiro esteve na
aldeia, onde se inspirou para fazer
o disco "Txai" .
O projeto "Cantorias Indígenas
Ashaninka" foi aprovado pelas
secretarias do Audiovisual e de
Artes Cênicas do Ministério da
Cultura. Os recursos estão sendo
captados por meio da Lei Rouanet, que permite aos patrocinadores aplicar 4% de seu Imposto de
Renda em projetos culturais.
A banda, que tem o nome provisório de "Homãbãni Ashaninka" (Vozes dos Ashaninka) é formada por dez índios.
Os próprios músicos fazem os
instrumentos, como as flautas
chamadas sungari e totãma, feitas
de taboquinha, e tambores de cedro e couro de capivara, macaco
ou cotia. Outro instrumento usado é o piõnpirentsi, um arco feito
de madeira, cuja concepção e som
se parecem aos do violino. Ele é
utilizado pelos apaixonados para
tocar à noite e de madrugada,
quando a aldeia está em silêncio.
"Para nós, é importante fazer
sucesso com um grupo ashaninka
cantando no meio dessas aldeias
de brancos dentro dos Estados,
apresentando aquilo que nós queremos", diz Benke.
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