São Paulo, Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2000


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MÚSICA

Disco, que só será vendido em shows ou pela Internet, será cantado em arwuk, idioma da tribo acreana

Banda de índios ashaninkas grava CD


VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha

Uma banda indígena da nação Ashaninka, de uma tribo que vive no Acre (a 900 km de Rio Branco), na divisa do Brasil com o Peru, pretende fazer sucesso no país e no mundo com um CD independente, que será vendido em shows e pela Internet.
O maestro Jaques Morelenbaum é quem fará a direção artística do CD. O disco será gravado na aldeia, mas as músicas ainda não estão definidas.
Segundo o pajé Benke Pianko, 26, líder do grupo, todas serão cantadas em arwuk, o idioma dos ashaninka. Na aldeia, onde moram 450 pessoas, apenas 20 falam português.
O CD deve conter músicas de pajelança, usadas em rituais espirituais e processos de cura, de festas, como a do "Piarentsi", quando os adultos ensinam as crianças a tocar e cantar, e músicas tradicionais dessa nação, que vive há 400 anos no Brasil.
Segundo Benke, o CD trará músicas tradicionais, românticas e agitadas, semelhantes ao samba. Algumas terão a participação de crianças.
O pajé está em Brasília em busca de patrocínio. Já conseguiu 40% dos R$ 112 mil necessários para a produção de mil discos, a criação da homepage da tribo e a execução de um videoclipe e um documentário.
O governo do Acre, comerciantes das cidades próximas à aldeia, empresas de telefonia e a ECT (Empresa de Correios e Telégrafos) estão dispostos a investir nas vozes dos índios.
"Após ouvir algumas das músicas e ver imagens em vídeo, percebi o quanto os ashaninka se sobressaem, causando impacto pela forte presença visual, sua musicalidade e tradição cultural extremamente preservada", escreveu o maestro Morelenbaum em uma carta de apoio à iniciativa.
O próprio Benke já foi homenageado com uma música de Milton Nascimento quando tinha 15 anos. O cantor mineiro esteve na aldeia, onde se inspirou para fazer o disco "Txai" .
O projeto "Cantorias Indígenas Ashaninka" foi aprovado pelas secretarias do Audiovisual e de Artes Cênicas do Ministério da Cultura. Os recursos estão sendo captados por meio da Lei Rouanet, que permite aos patrocinadores aplicar 4% de seu Imposto de Renda em projetos culturais.
A banda, que tem o nome provisório de "Homãbãni Ashaninka" (Vozes dos Ashaninka) é formada por dez índios.
Os próprios músicos fazem os instrumentos, como as flautas chamadas sungari e totãma, feitas de taboquinha, e tambores de cedro e couro de capivara, macaco ou cotia. Outro instrumento usado é o piõnpirentsi, um arco feito de madeira, cuja concepção e som se parecem aos do violino. Ele é utilizado pelos apaixonados para tocar à noite e de madrugada, quando a aldeia está em silêncio.
"Para nós, é importante fazer sucesso com um grupo ashaninka cantando no meio dessas aldeias de brancos dentro dos Estados, apresentando aquilo que nós queremos", diz Benke.



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