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Diretor descarta o terror
da Reportagem Local
O que há de mais assustador em
``Crash'', aceitando a ultrapassada
idéia de que David Cronenberg é o
cineasta do terror, não é seu mergulho em uma obsessão incomum.
É, enfim, a possibilidade de estarmos diante de uma revelação.
Diretor de uma radicalidade perturbadora, Cronenberg divide
com o escritor J.G Ballard -um
dos mestres de uma literatura da
distopia urbana- uma desconfiança do mundo.
``Crash'' -a fantástica história
de pessoas sexualmente motivadas
por carros e acidentes- o coloca
finalmente diante de uma certeza.
Não é mais necessário a fantasia
de ``A Mosca'' ou ``Videodrome''
para prosseguir em sua tentativa
de expor a psicologia do novo homem, o ser transformado pelos
objetos que cria. Cronenberg precisa apenas de um centro urbano.
Ballard (o personagem é homônimo do romancista porque ``as
fantasias eram minhas e ele merecia o meu nome'') divide com sua
mulher a busca desesperada do
prazer físico em que o orgasmo
não é uma consequência natural,
mas o prêmio violentamente furtado de um outro.
Em consequência de uma batida
com seu automóvel, Ballard (o
ator James Spader, soberbo) conhece uma mulher que o conduzirá ao reino de pessoas fascinadas
por carros e que constroem uma
estreita relação entre o objeto mecânico, o prazer e a morte.
Em uma certa altura do filme um
personagem anuncia que seu trabalho é ``entender as transformações físicas do corpo depois da máquina'' para, mais tarde, contar
que isso é apenas ``uma maneira
de atrair e testar os novatos'' para
sua verdadeira causa: a libertação
espiritual pela tecnologia.
Durante anos Cronenberg fez algo semelhante com seus espectadores, usando artifícios para suas
razões. Ele deve nos mostrar o lugar em que vivemos e em que tipo
de pessoas nos tornamos.
Assim, ``Crash'' não admite uma
crítica moral, voltada contra os
exageros que -para muitos- roçam a pornografia.
Cronenberg vive uma batalha
(por isso em seu filme os corpos
não se encontram, mas se submetem à coreografia do choque). E fará tudo para provar sua verdade,
como nesse filme irresistível.
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