São Paulo, sexta, 31 de janeiro de 1997.

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ISSO É CRONENBERG

"Eu sou muito perverso. Eu adoro tornar um personagem simpático e, em seguida, subverter as expectativas."

"O corpo humano não possui um absoluto, há sempre possibilidade de renová-lo. A primeira prova da existência humana é o corpo, não o espírito."

"Eu fico fascinado com o número de pessoas marcadas com tatuagem, com anéis no nariz ou que praticam o piercing.
É como se seus corpos tivesse se libertado e pudesse se transformar numa obra de arte, numa arma ou numa mensagem política."

"Na minha opinião Ballard aproxima-se de uma certa pureza. Bertolucci me disse que ele considerava `Crash' uma espécie de obra-prima religiosa.''

"O cinema e o automóvel têm a mesma idade: 100 anos. Isso não é um acidente."

"Alguém me disse: `a primeira vez que eu vi o filme, fiquei chocado. Na segunda vez, eu vi o filme."

``Eu fico fascinado com o número de pessoas marcadas com tatuagem, com anéis no nariz
ou que praticam o piercing. É como se seus corpos tivesse se libertado e pudesse se transformar numa obra de arte, numa arma ou numa mensagem política."

"Durante a produção do filme eu encontrei vítimas de acidentes que haviam sido filmadas ou fotografadas no local. Elas olhavam para as fotos do próprio acidente de maneira obsessiva, talvez para compreender o que aconteceu e porque suas cicatrizes são tão grandes. É como se você assistisse um vídeo da sua circuncisão: tenho certeza que você o assistiria o tempo todo. Quando testemunho um acidente de carro, sempre fico impressionado com o tanto de gente que se aglomera para ver de perto."

"Sinto-me atraído ao ver um carro se despedaçar, sobretudo quando ele é novo em folha, com a pintura ainda brilhando, impecável. Num instante, essa maravilha se despedaça, revela sua estrutura e os fluidos escorrem pelo asfalto: você tem então diante de si o espetáculo de um corpo humano. Trata-se de uma fascinação natural, que não tem nada de mórbido." "Na minha opinião Ballard aproxima-se de uma certa pureza. Bertolucci me disse que ele considerava `Crash' uma espécie de obra-prima religiosa. Os personagens de `Crash' compreendem que os antigos valores perderam a legitimidade e partem para a criação de novas relações. Trata-se de uma busca espiritual na qual se procura uma nova religiosidade ou uma nova filosofia, capaz de dar início a um outro comportamento."

"Ballard está antecipando a psicologia do século 21 e trazendo-a para o nosso século. Ele compreende a estranha maneira como as pessoas reagem às outras, o que está acontecendo com o senso de erotismo, amor e interconexão. `Crash' é uma extrapolação de um futuro que está acontecendo na sociedade ocidental hoje."

"A tecnologia é, no meu entender, uma extensão do nosso corpo. Ela não vem de um outro planeta, ela é uma extensão de nosso sis tema nervoso. O telefone, por exemplo, é um prolongamento de nossa voz e de nossa orelha..." Eu sou fascinado pelos bodybuiders: eles tomam anabolizantes e mudam completamente o próprio metabolismo. Eles são à primeira vista muito feios, mas, observando-os melhor, percebe-se que entra em jogo uma nova estética. Eles têm o desejo de sacrificar seu antigo corpo para submetê-lo a um novo conceito." ``Decidi nunca filmar as batidas em câmera lenta; ironicamente, isso cria um efeito estranho, já que, para o espectador, o acidente em câmera lenta é que se transformou em realidade. Eu quis filmar os acidentes de maneira naturalista: eles são rápidos, brutais e acabam antes que se perceba. Eu decidi filmá-los assim para dar uma nova perspectiva a coisas que se tornaram muito familiares para nós."

"Os críticos italianos que encontrei em Cannes me declararam que eu tinha feito um filme pornô. Penso que eles tiraram essa conclusão porque a única vez em que viram três cenas de sexo seguidas teria sido num filme pornô! Desse modo, porque a seus olhos uma tal estrutura formal só pode ser pornográfica, eles concluem, quase inconscientemente, que `Crash' é um filme pornô."

"Os atores me disseram várias vezes que eles sentiam uma espécie de abandono, ao que eu respondia que eu sentia a mesma coisa, como se `Crash' fosse o último filme que eu fazia. Creio que eu levei tão longe o processo de destilação, de maneira tão radical e completa... esse filme tem uma espécie de pureza tão extrema que acho não poder nunca mais ir além. Meu próximo filme deve ir necessariamente em uma direção totalmente diferente. `Crash' marca talvez o fim de um ciclo, um ciclo interior. Penso ter atingido uma região inexplorada." "O cinema e o automóvel têm a mesma idade: 100 anos. Isso não é um acidente."
"Eu não fiz esse filme para que gostassem de mim, e James Ballard não escreveu esse livro para que se tornasse um best seller. Mas não posso deixar de querer que mesmo as pessoas que não gostam do fil me apreciem sua estranha beleza."

"Alguém me disse: `a primeira vez que eu vi o filme, fiquei chocado. Na segunda vez, eu vi o filme."

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