São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


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NOITE ILUSTRADA - ERIKA PALOMINO
Poder de Veronika é a cara da cena brasileira

AI, que bom ouvir Roger Sanchez na U-Turn, na última quinta-feira. Primeiro, porque, contrariando lendárias práticas de DJs que entram tarde no som, o americano quis começar a tocar logo, tipo à 0h30. Seguraram o homem, e ele começou tipo à 1h. Assim, muita gente perdeu o início de seu set (o povo chega à 1h30, às 2h), justamente na parte mais energética e criativa. O som estava altíssimo (do jeito que eu gosto), e a figura de Sanchez enchia a cabine.
Cheio de white labels na parte da frente do case ("Carnival" era um deles), Sanchez mixava rápido, brincando com o volume e com o crossfader. Principalmente, nessa primeira parte, foi tribal, intenso, com pitadas de funk e de faixas latinas originais e engraçadas, que ele cantava junto, feliz. Dançou na cabine e se empolgou com a reação quente da pista, cheia e receptiva. Mas emendou lá na frente uma sequência de vocais que desmobilizou o povo.
Como se sabe (avisaram ele?), São Paulo não chega a ser exatamente terra de vocais. Aqui, eles são usados com parcimônia pelos DJs, em momentos emocionantes e/ou específicos. Outro problema: a falta de um bar na pista atrapalhou a noite. Sair para pegar uma bebida levava mais de 15 minutos e dispersava a energia das pessoas, que tinham que começar tudo de novo na volta.
Mas foi muito bom. Bom ouvir house americana, forte, em meio à cultura de deep house ("chique") que assola a cidade. Sobre a U-Turn: que tal passar uma tinta no chão ou encarar a tal reforma? É horrível a impressão de descascado da pintura de espiral.

NA mesma noite, muita gente passou para conhecer o Jazzy (Clodomiro Amazonas, 99), quando tocava ali o Xerxes. Combina muito o elegante drum'n'bass do produtor no bar de Arthur Ribeiro, dirigido por Renato De Cara. Ninguém dançou, mas todo mundo tinha a sensação de estar num lugar legal, com gente legal. O bar/clubinho definiu sua programação para o mês, com Xerxes às terças, Marcão Morcerf às quartas, Venancio às quintas, Pil Marques às sextas e Pareto e Mauricio UM alternando os sábados. A consumação mínima é R$ 30 para homens e R$ 20 para mulheres. A luz é que pode ficar um pouquinho menos pisca-pisca.

INTEGRANTE clássica da cena underground de São Paulo, Maria de Los Angeles anda chocada com a falta de educação clubber do povo do mainstream. Você pede licença e ninguém dá, pisam no seu pé na pista e não se pede desculpa, as barangas vivem jogando o cabelón na sua cara e não estão nem aí. Fora a falta generalizada de sorrisos e simpatia, né? Infelizmente Maria tem razão.

ENQUANTO isso, Danny Tenaglia comemora seus 25 anos de carreira com uma festa hoje no Home, em Londres. O clima é de retrospectiva. A noite teve seus ingressos antecipados esgotados, e filas absurdas estão previstas.
Danny vai tocar no mínimo oito horas, mas disse também que, "enquanto fornecerem água", ele vai tocando. O DJ está preparado para tocar até as 12h. "Estarei tocando para uma pista mais madura e informada, por isso quero refletir minhas raízes", disse. É isso aí, Danny. Pista adulta e informada é a frase da semana.

E está uma loucura o hype brasileiro!! Então vamos avisar o povo aqui no Brasil também.
Fause Haten é um que está contente: gostou que Pamela Anderson e Diana Ross compraram as botas com pingos dourados de sua coleção. Diana Ross até já estreou o babado, em sua festinha de aniversário, em Los Angeles.
E atenção: dicionários à mão! Haten foi resenhado pela "Paper", na cobertura da semana de moda de NY que a revista acaba de publicar. "Estávamos bem animados para ver o desfile porque a moda no Brasil está fervilhando", escreveu o jornalista Mickey Boarman. "Eram 9h, mas colocamos o alarme", brincou. Ele elogiou os vestidos sobre as calças de lamê dourado e a estamparia.

ARKADIUS, estilista polonês radicado em Londres, chega domingo ao Brasil para planejar evento para a Cultura Inglesa. Acaba de estrear na temporada, mas já é sensação, caindo nas graças da poderosa Suzy Menkes.
Já foi chamado até de "o novo John Galliano".
É tempo de viva-o-Brasil também no mercado editorial. O fotógrafo JR Duran lança sua produção independente "Freeze", sexy e autoral. Bob Wolfenson e Chico Lowndes produzem sua "55", em que o que conta é a qualidade dos trabalhos, voltados para o mercado internacional. Agora premiada, a "Big" Brasil leva tudo ao pé da letra e anuncia o tema da próxima edição: grande. Sem falar na "Wallpaper" sobre São Paulo, claro, que você já viu. Pena que, entre tantos pecadilhos de informação, tem a absurda listinha de "must-buy", em que o primeiro item que eles recomendam comprar é um... espanador! Ora, francamente. Tem também o disco da Gretchen, que, segundo o repórter, o gringo precisa ter. Sei. Ele também passou batido pela vida noturna da cidade.

MAS tem jornalista de fora pensando nisso. Paul Sullivan, da revista "DJ", está na cidade produzindo extenso material sobre a cena em São Paulo. Ele está entrevistando DJs, produtores e visitando casas noturnas.
E, por falar em mídia, o empresário de Marky Mark em Londres ligou para falar das declarações do DJ à "The Face", reproduzidas nesta coluna semana passada. Ele diz que o jornalista da revista inglesa interpretou mal as falas de Marky (em português, traduzidas pelo empresário para o inglês), sobre sua fama e sobre a música brasileira. Marky teria falado apenas que sua vida mudou muito, de repente, e que se referia ao axé e à música pop produzida aqui. Ele diz também que tem a entrevista gravada e que chegou a falar depois com o jornalista da "Face", mas que nem vai escrever nenhuma carta para a revista: a preocupação era com a imagem que as pessoas no Brasil possam ter de Marky diante das declarações. A "Movement posse" chega a São Paulo na semana que vem para acertar mais intercâmbios Londres-SP e para anunciar a participação de Patife em Redding e de Marky no Homelands.

AMANHÃ o povo se joga para a Lôca para conferir o trabalho dos jovens Adam Beyer, 24, e Cari Lekebusch, 26, representantes do tecno feito na Suécia. Mas nem espere tech-house, diz que no Rio os dois pesaram a mão.
Bem, então vão tocar no lugar certo, já que os DJs da casa estão cortando lenha mesmo. E planeje sua vida: sexta que vem tem Derrick May no Lov.e.

QUE pena. A "Sui Generis" fechou. Está nas bancas o número 55 da revista que ajudou a amaciar comportamentos e trouxe outros tratamentos à comunidade gay no Brasil. A "Sui" começou há quatro anos, por iniciativa de Nelson Feitosa, e foi a primeira no país a retratar na mídia seus personagens, pelo viés da cultura, da moda e da personalidade, falando de sexo sem baixaria (talvez a causa do fim), sem expor ninguém. Orgulhosamente, escrevi o texto principal do número zero e, como todos, sentirei falta das colunas de João Silvério Trevisan, Vange Leonel e Ronald Villardo e dos sempre abusados editoriais de moda. A editora SG Press continuará com sua outra publicação, a "Homens".

VAI ao show do Morrissey? Claro, né? Os mais animados podem já ir entrando no clima com a festa em homenagem a ele na noite Grind, da Lôca (Frei Caneca, 916), neste domingo, no mês que comemora os dois anos do projeto. Parabéns ao André Pomba.
E quem também faz aniversário é a top drag Veronika. Eleita melhor drag de 99 pelos leitores desta coluna, Veronika passou maus bocados com o clube que tentou abrir e não deu certo. Ficou deprimida e perdeu a vontade de tudo. Mas, como boa drag (e boa brasileira), deu a volta por cima e voltou belíssima. "Ser a drag do ano me motivou a querer ser algo de novo, a buscar algo novo, a querer ser Veronika mais uma vez. Parece mentira, mas sobrevivi." E aí está a meiga, em seu novo look (a trecaiada é de Walério Araujo), com seu novo clã, com seu novo show, aos domingos na Mad Queen. Boa sorte, amiga!

E-mail: palomino@uol.com.br


Tem gente perguntando ainda: era de Calvin Klein o vestido da chata Gwynelth Paltrow; de Versace, o de Angelina Jolie (nem parecia, né?), de Alberta Ferretti, o de Uma Thurman. Keanu Reeves usava Prada. E não perca, na semana que vem, a continuação da polêmica "O trance está morto?".


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