São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2010

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Takeshi Kitano ri do mundo das artes em mostra e filme

Fundação Cartier, em Paris, recebe exposição do cineasta e artista japonês, homenageado com uma das principais honrarias francesas na área da cultura

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

No Japão, Takeshi Kitano é conhecido sobretudo como um "entertainer" da TV, uma espécie de Renato Aragão pop e maluco, que se fantasia de monstro colorido no palco, enquanto apresenta pegadinhas radicais com gente comum, inspiradas em filmes de ação americanos, como navegar em alta velocidade em lanchas prestes a atravessarem uma explosão.
Na França, Kitano, 63, é uma celebridade da alta cultura. Diretor de cinema desde 1980, com cerca de 30 longas no currículo, ele é incensado por revistas prestigiosas, como "Cahiers du Cinéma", que o veem como um herdeiro do patrimônio cinematográfico japonês de Kurosawa e Mizoguchi.
Por isso mesmo, no mês passado, Kitano recebeu do governo da França a medalha de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, uma das principais honrarias oficiais na área da cultura. A homenagem coincidiu com a abertura de uma exposição de trabalhos do cineasta na Fundação Cartier e com a estreia de "Aquiles e a Tartaruga" (ainda inédito no Brasil), a história patética de um pintor.
Tanto a exposição quanto o filme abordam em tom paródico o mundo das artes plásticas, o que torna ambos tão interessantes quanto polêmicos.
A mostra da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea se chama "Beat Takeshi Kitano - Gosse de Peintre" (pintor moleque, até 12/9).
O cineasta construiu quadros, objetos e instalações que parecem ridicularizar as experiências modernas e contemporâneas das artes plásticas, como "Monsieur Pollock", um robô na forma de uma bola, que roda sem parar sobre uma tela, enquanto expele tintas de várias cores, pronto a fazer uma "automatic action painting".
A primeira reação do espectador cultivado é rejeitar o deboche de Kitano como atitude leviana e ironia fácil. Mas aos poucos, esse espectador percebe que a mostra se destina a um público diferente dos adultos pedantes: ela é dirigida principalmente às crianças (e daí o seu título), que não conhecem Pollock e podem se entusiasmar com a maquinação delirante de Kitano.
Delirante, de fato, como a instalação gigantesca, que para funcionar depende de uma locomotiva. Ou a escultura de um tiranossauro, em torno do qual o cineasta expõe as "razões da extinção dos dinossauros": "[Eles foram extintos] porque começaram a se drogar", "porque continuaram a fumar" etc.
A exposição vai se tornando mais e mais divertida quando o espectador descobre que as brincadeiras do cineasta têm como alvo não exatamente as artes plásticas, mas as instituições museológicas e seus aparatos educativos -sejam os museus de artes, sejam os de ciências. No lugar da nobre educação, Kitano propõe um momento de jogo, demolição e humor. As crianças adoram. E os adultos moleques também.


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