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Takeshi Kitano ri do mundo das artes em mostra e filme
Fundação Cartier, em Paris, recebe exposição do cineasta e artista japonês, homenageado com uma das principais honrarias francesas na área da cultura
ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
No Japão, Takeshi Kitano é
conhecido sobretudo como um
"entertainer" da TV, uma espécie de Renato Aragão pop e maluco, que se fantasia de monstro colorido no palco, enquanto
apresenta pegadinhas radicais
com gente comum, inspiradas
em filmes de ação americanos,
como navegar em alta velocidade em lanchas prestes a atravessarem uma explosão.
Na França, Kitano, 63, é uma
celebridade da alta cultura. Diretor de cinema desde 1980,
com cerca de 30 longas no currículo, ele é incensado por revistas prestigiosas, como "Cahiers du Cinéma", que o veem
como um herdeiro do patrimônio cinematográfico japonês de
Kurosawa e Mizoguchi.
Por isso mesmo, no mês passado, Kitano recebeu do governo da França a medalha de Cavaleiro da Ordem das Artes e
das Letras, uma das principais
honrarias oficiais na área da
cultura. A homenagem coincidiu com a abertura de uma exposição de trabalhos do cineasta na Fundação Cartier e com a
estreia de "Aquiles e a Tartaruga" (ainda inédito no Brasil), a
história patética de um pintor.
Tanto a exposição quanto o
filme abordam em tom paródico o mundo das artes plásticas,
o que torna ambos tão interessantes quanto polêmicos.
A mostra da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea se chama "Beat Takeshi Kitano - Gosse de Peintre" (pintor moleque, até 12/9).
O cineasta construiu quadros, objetos e instalações que
parecem ridicularizar as experiências modernas e contemporâneas das artes plásticas,
como "Monsieur Pollock", um
robô na forma de uma bola, que
roda sem parar sobre uma tela,
enquanto expele tintas de várias cores, pronto a fazer uma
"automatic action painting".
A primeira reação do espectador cultivado é rejeitar o deboche de Kitano como atitude
leviana e ironia fácil. Mas aos
poucos, esse espectador percebe que a mostra se destina a um
público diferente dos adultos
pedantes: ela é dirigida principalmente às crianças (e daí o
seu título), que não conhecem
Pollock e podem se entusiasmar com a maquinação delirante de Kitano.
Delirante, de fato, como a
instalação gigantesca, que para
funcionar depende de uma locomotiva. Ou a escultura de um
tiranossauro, em torno do qual
o cineasta expõe as "razões da
extinção dos dinossauros":
"[Eles foram extintos] porque
começaram a se drogar", "porque continuaram a fumar" etc.
A exposição vai se tornando
mais e mais divertida quando o
espectador descobre que as
brincadeiras do cineasta têm
como alvo não exatamente as
artes plásticas, mas as instituições museológicas e seus aparatos educativos -sejam os
museus de artes, sejam os de
ciências. No lugar da nobre
educação, Kitano propõe um
momento de jogo, demolição e
humor. As crianças adoram. E
os adultos moleques também.
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