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Moda e artista perseguem um ao outro
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A arte não tem sido muito leve a
David Byrne. Em seus já 20 e tantos anos de carreira, ele vem sendo, por uma ou outra razão, artista de moda -quando a inventa ou
quando se vê colhido por ela.
Surgiu, com os Talking Heads,
tomando carona numa linguagem
quase de todo nova. A new wave
florescia em Nova York para, logo
mais, oferecer de bandeja à Inglaterra o título de berço do punk.
Byrne se encarregava da face
mais cândida da new wave. Mas
destoou daquele boom transitório
do entrecho 1977-1979. Diferentemente de Debbie Harry e Blondie,
Tom Verlaine e Television, Richard Hell e Voidoids, Patti
Smith, os Heads angariaram sobrevida (e sucesso) anos 80 afora.
Persistente, o som dos Heads
hoje (e pode ser que isso passe logo mais) soa muito envelhecido,
datado. O que havia de pretensioso nos arfares de Byrne agrava tal
proposição: de repente, ficou penoso assimilar o som TH.
O irmão gêmeo bastardo da banda, Tom Tom Club (formado por
metade dos Heads, Tina Weymouth e Chris Frantz), vem comprovar: faz (ou fazia, já que eles se
reuniram a Jerry Harrison para refundar os TH, agora só Heads porque o nome é de Byrne) pop despretensioso, despojado e por isso
bem mais arejado que o do chefão.
Este, por sua vez, quis ditar moda no início da carreira solo inventando o pop de Terceiro Mundo
-no qual até nosso bom Tom Zé
esteve engajado. Diagnósticos
convergiram, em esquadros que o
tachavam tanto de benfeitor como
de colonialista. Nem é caso de alimentar a celeuma. O fato é que faltava a Byrne aparato para cantar
samba, rumba ou cha-cha-cha.
Meteu-se nessa e se viu num beco sem saída. Não dava para ir
adiante, retroceder ficaria feio. O
Byrne que volta hoje ao Brasil é
ainda esse, metido na encruzilhada, à parte os resultados (artísticos) produtivos de "Feelings", seu
mais recente CD, mais para Devo
que para "art rock".
Ele agora procura solução de
meio-termo, mas padece do momento hostil, em que TH parecem
vencidos demais e world music
nova-iorquina (ei, Arto Lindsay
vem aí), intelectualóide demais. A
arte não tem sido muito leve para
David Byrne. Nem ele para ela.
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