São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra "Junta Universal" apresenta nove esculturas e é inaugurada hoje na galeria Millan

Bevilacqua expõe variações obscuras sobre o quadrado

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nas nove esculturas que o artista plástico Carlos Bevilacqua apresenta, a partir de hoje, na mostra "Junta Universal", uma forma geométrica repete-se.
O quadrado é esse elemento. No entanto o tema que o artista utiliza em suas obras pode passar despercebido.
Essa questão reflete o método utilizado por Bevilacqua: "Estou mais preocupado com questões estruturais do que com a própria forma", afirma o artista. Assim, a complexidade de suas construções torna-se a porta de entrada para sua compreensão. A proposta tem tudo a ver com sua formação de arquiteto.
Bevilacqua nasceu no Rio, em 65. Estudou arquitetura por três anos, na Universidade Santa Úrsula, onde iniciou seu trabalho com arte. Desde 88, tem participado de várias mostras.
As esculturas expostas agora apresentam uma fragilidade impressionante. São todas feitas com materiais de aparência instável, como arames e barbantes. O artista cria, a partir deles, formas de sustentação baseadas em efeitos da gravidade com mecanismos sutis de montagem. "Uso a gravidade como uma técnica, para criar uma aflição no olhar do observador", conta.
Essa aflição a que o artista se refere vem da percepção de que suas construções estão tensas de tal forma que vivem no limite. É o contrário da obra de outros artistas, como o norte-americano Calder, para quem o movimento é parte fundamental do funcionamento do obra. Por meio de suas racionais e, ao mesmo tempo, frágeis esculturas, Bevilacqua aponta uma particularidade da arte, que é questionar as aparências, produzindo a inversão de significados. O rígido e matemático torna-se, em suas obras, delicado e sensível. "Tem também uma parcela biográfica ao trabalhar com essas questões", afirma o artista.
Ao mesmo tempo, as esculturas dão a impressão de engenhocas criadas para outros objetivos. "Sempre há gente que toca, esperando que elas adquiram vida, mas elas se desmontam", diz.
A tentação é natural. Ao criar esculturas que se parecem com aparelhos, o primeiro impulso de quem as examina é buscar fazê-las funcionar. Apenas uma observação mais acurada pode perceber que todo o conjunto gira em torno do quadrado. Essa impressão é intencional: "Tento retirar da forma do quadrado o seu estigma e buscar representá-lo de maneiras variadas", explica.
Da mesma forma que o artista confunde o olhar de quem observa suas obras ao "esconder" seu tema principal, a forma quadrangular, outra característica de seu trabalho, também pode criar confusão. A aparente secura dos materiais utilizados, em geral o metal, e o uso de formas geométricas podem dar a impressão de racionalismo exacerbado. É, na verdade, apenas uma estratégia.
Esta é a segunda mostra de Bevilacqua na galeria Millan. A primeira ocorreu em 95, logo após o retorno do artista de Nova York, onde estudou por quatros anos, com apoio da Fundação Vitae.
"O conjunto que apresento agora é resultado de dez anos de trabalho." Parte dessa pesquisa foi apresentada recentemente na mostra "Arco das Rosas, o Marchand como Curador", na Casa das Rosas.


JUNTA UNIVERSAL - Mostra com nove esculturas do artista plástico Carlos Bevilacqua. Onde: galeria Millan (r. Estados Unidos, 1.581, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3062-5722). Quando: abertura hoje, a partir das 21h; de seg. a sex., das 10h às 19h; aos sáb., das 11h às 14h. Até 22/6. Quanto: entrada franca, obras de R$ 1.500 a R$ 6.000.



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