|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Mostra "Junta Universal" apresenta nove esculturas e é inaugurada hoje na galeria Millan
Bevilacqua expõe variações obscuras sobre o quadrado
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nas nove esculturas que o artista plástico Carlos Bevilacqua
apresenta, a partir de hoje, na
mostra "Junta Universal", uma
forma geométrica repete-se.
O quadrado é esse elemento.
No entanto o tema que o artista
utiliza em suas obras pode passar
despercebido.
Essa questão reflete o método
utilizado por Bevilacqua: "Estou
mais preocupado com questões
estruturais do que com a própria
forma", afirma o artista. Assim, a
complexidade de suas construções torna-se a porta de entrada
para sua compreensão. A proposta tem tudo a ver com sua formação de arquiteto.
Bevilacqua nasceu no Rio, em
65. Estudou arquitetura por três
anos, na Universidade Santa Úrsula, onde iniciou seu trabalho
com arte. Desde 88, tem participado de várias mostras.
As esculturas expostas agora
apresentam uma fragilidade impressionante. São todas feitas
com materiais de aparência instável, como arames e barbantes.
O artista cria, a partir deles, formas de sustentação baseadas em
efeitos da gravidade com mecanismos sutis de montagem. "Uso
a gravidade como uma técnica,
para criar uma aflição no olhar
do observador", conta.
Essa aflição a que o artista se refere vem da percepção de que
suas construções estão tensas de
tal forma que vivem no limite. É o
contrário da obra de outros artistas, como o norte-americano Calder, para quem o movimento é
parte fundamental do funcionamento do obra. Por meio de suas
racionais e, ao mesmo tempo,
frágeis esculturas, Bevilacqua
aponta uma particularidade da
arte, que é questionar as aparências, produzindo a inversão de
significados. O rígido e matemático torna-se, em suas obras, delicado e sensível. "Tem também
uma parcela biográfica ao trabalhar com essas questões", afirma
o artista.
Ao mesmo tempo, as esculturas
dão a impressão de engenhocas
criadas para outros objetivos.
"Sempre há gente que toca, esperando que elas adquiram vida,
mas elas se desmontam", diz.
A tentação é natural. Ao criar
esculturas que se parecem com
aparelhos, o primeiro impulso de
quem as examina é buscar fazê-las funcionar. Apenas uma observação mais acurada pode perceber que todo o conjunto gira em
torno do quadrado. Essa impressão é intencional: "Tento retirar
da forma do quadrado o seu estigma e buscar representá-lo de
maneiras variadas", explica.
Da mesma forma que o artista
confunde o olhar de quem observa suas obras ao "esconder" seu
tema principal, a forma quadrangular, outra característica de seu
trabalho, também pode criar
confusão. A aparente secura dos
materiais utilizados, em geral o
metal, e o uso de formas geométricas podem dar a impressão de
racionalismo exacerbado. É, na
verdade, apenas uma estratégia.
Esta é a segunda mostra de Bevilacqua na galeria Millan. A primeira ocorreu em 95, logo após o
retorno do artista de Nova York,
onde estudou por quatros anos,
com apoio da Fundação Vitae.
"O conjunto que apresento
agora é resultado de dez anos de
trabalho." Parte dessa pesquisa
foi apresentada recentemente na
mostra "Arco das Rosas, o Marchand como Curador", na Casa
das Rosas.
JUNTA UNIVERSAL - Mostra com nove
esculturas do artista plástico Carlos
Bevilacqua. Onde: galeria Millan (r.
Estados Unidos, 1.581, São Paulo, tel. 0/
xx/11/3062-5722). Quando: abertura
hoje, a partir das 21h; de seg. a sex., das
10h às 19h; aos sáb., das 11h às 14h. Até
22/6. Quanto: entrada franca, obras de
R$ 1.500 a R$ 6.000.
Texto Anterior: Artes plásticas: Bienal do Mercosul anuncia participantes e antecipa racionamento Próximo Texto: Teatro: Ator sem sombra Índice
|