São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

Primeiro longa produzido no Estado nas últimas duas décadas é lançado em Salvador; filme se divide em três episódios

Bahia dissipa hoje as saudades do futuro

DA REPORTAGEM LOCAL

A arte e a política se desquitaram hoje na Bahia. Enquanto a última tenta sobreviver aos escombros, a segunda saboreia uma esforçada conquista. O filme "Três Histórias da Bahia", que tem lançamento esta noite nas 12 salas Iguatemi, em Salvador, é o primeiro longa produzido no Estado desde o início da década de 90.
Sua narrativa é baseada em três episódios distintos, roteirizados e dirigidos individualmente por Sérgio Machado, 32 ("Agora É Cinza"), Edyala Yglesias, 48 ("Diário do Convento"), e José Araripe Jr., 41 ("O Pai do Rock").
Pode-se dizer que o tempo é a matéria das três histórias. O rei Momo Teixeirinha (Sérgio Mamberti) se acostumou na fantasia, viu os anos passarem e, sem perceber, ficou para trás. A noviça Maria (Cyria Coentro) esteve à frente do seu, o século 17, quando decidiu relativizar a autoridade de Deus sobre a vontade humana. O "band leader" Big Bill (George Vassilatos) e seus asseclas gastam os dias tentando acertar os ponteiros com o ritmo da moda.
Além do reflexo em histórias particulares das surpresas causadas pelas voltas que o mundo dá, os "capítulos" do filme têm um pano de fundo em comum: o Carnaval. Outra presença que atravessa os três contos é a da atriz baiana Rita Assemany, conhecida nos palcos do país pelo papel-título de "Medéia". Há ainda as "participações nacionais" de Lucélia Santos e Ingra Liberato e a "interna" da trupe de "A Bofetada".
"Três Histórias da Bahia" é resultado de concurso público de roteiros realizado em 1995, que ofereceu a cada um dos vencedores R$ 40 mil como estímulo à produção de curtas-metragens.
Os premiados Machado, Yglesias e Araripe Jr. decidiram encarar o desafio de fazer "a multiplicação dos peixes", na definição de Araripe Jr., e encontraram no apoio da produtora Truq Vídeo a chance de captar recursos para dar aos 90 minutos com que o filme foi concluído acabamento digno de produção bem-cuidada.
Por que, afinal, tem sido tão difícil filmar na Bahia é questão que intriga o trio de cineastas. "Sempre achei que a Bahia, mais que qualquer outro lugar do país, reúne as condições ideais para a produção de cinema: aqui estão os melhores atores do Brasil, o governo estadual dá ênfase econômica ao turismo, o povo é narciso, e as locações já serviram ao maior prêmio do cinema brasileiro ["O Pagador de Promessas", Palma de Ouro em Cannes em 1962" e à obra de cineastas como Glauber Rocha", diz Sérgio Machado.
Edyala supõe que a força adquirida pela expressão musical na cultura baiana tenha fragilizado as demais manifestações artísticas. E Araripe Jr., que preside a Associação Baiana de Cinema e Vídeo, vê no momento chances de que o cinema da Bahia pare de ser regido pelas saudades do futuro. "Um novo concurso apoiará a produção de um longa, com R$ 1 milhão, de três curtas, quatro documentários e cinco vídeos", diz.
Ele mesmo pretende rodar ainda este ano "Esses Moços". Persistentes moços. (SILVANA ARANTES)


TRÊS HISTÓRIAS DA BAHIA - Direção: Sérgio Machado, Edyala Yglesias, José Araripe Jr. Produção: Brasil, 2001. Com: Sérgio Mamberti, Rita Assemany, Lucélia Santos. Onde: multiplex Iguatemi (av. Tancredo Neves, 148, Pituba, Salvador, Bahia). Quando: hoje, às 20h40.



Texto Anterior: Contardo Calligaris: "Pearl Harbor" pode ser uma meditação sobre a decadência
Próximo Texto: Brasília celebra dez anos de pólo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.