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CINEMA
Primeiro longa produzido no Estado nas últimas duas décadas é lançado em Salvador; filme se divide em três episódios
Bahia dissipa hoje as saudades do futuro
DA REPORTAGEM LOCAL
A arte e a política se desquitaram hoje na Bahia. Enquanto a última tenta sobreviver aos escombros, a segunda saboreia uma esforçada conquista. O filme "Três
Histórias da Bahia", que tem lançamento esta noite nas 12 salas
Iguatemi, em Salvador, é o primeiro longa produzido no Estado
desde o início da década de 90.
Sua narrativa é baseada em três
episódios distintos, roteirizados e
dirigidos individualmente por
Sérgio Machado, 32 ("Agora É
Cinza"), Edyala Yglesias, 48
("Diário do Convento"), e José
Araripe Jr., 41 ("O Pai do Rock").
Pode-se dizer que o tempo é a
matéria das três histórias. O rei
Momo Teixeirinha (Sérgio Mamberti) se acostumou na fantasia,
viu os anos passarem e, sem perceber, ficou para trás. A noviça
Maria (Cyria Coentro) esteve à
frente do seu, o século 17, quando
decidiu relativizar a autoridade de
Deus sobre a vontade humana. O
"band leader" Big Bill (George
Vassilatos) e seus asseclas gastam
os dias tentando acertar os ponteiros com o ritmo da moda.
Além do reflexo em histórias
particulares das surpresas causadas pelas voltas que o mundo dá,
os "capítulos" do filme têm um
pano de fundo em comum: o Carnaval. Outra presença que atravessa os três contos é a da atriz
baiana Rita Assemany, conhecida
nos palcos do país pelo papel-título de "Medéia". Há ainda as "participações nacionais" de Lucélia
Santos e Ingra Liberato e a "interna" da trupe de "A Bofetada".
"Três Histórias da Bahia" é resultado de concurso público de
roteiros realizado em 1995, que
ofereceu a cada um dos vencedores R$ 40 mil como estímulo à
produção de curtas-metragens.
Os premiados Machado, Yglesias e Araripe Jr. decidiram encarar o desafio de fazer "a multiplicação dos peixes", na definição de
Araripe Jr., e encontraram no
apoio da produtora Truq Vídeo a
chance de captar recursos para
dar aos 90 minutos com que o filme foi concluído acabamento
digno de produção bem-cuidada.
Por que, afinal, tem sido tão difícil filmar na Bahia é questão que
intriga o trio de cineastas. "Sempre achei que a Bahia, mais que
qualquer outro lugar do país, reúne as condições ideais para a produção de cinema: aqui estão os
melhores atores do Brasil, o governo estadual dá ênfase econômica ao turismo, o povo é narciso,
e as locações já serviram ao maior
prêmio do cinema brasileiro ["O
Pagador de Promessas", Palma de
Ouro em Cannes em 1962" e à
obra de cineastas como Glauber
Rocha", diz Sérgio Machado.
Edyala supõe que a força adquirida pela expressão musical na
cultura baiana tenha fragilizado
as demais manifestações artísticas. E Araripe Jr., que preside a
Associação Baiana de Cinema e
Vídeo, vê no momento chances
de que o cinema da Bahia pare de
ser regido pelas saudades do futuro. "Um novo concurso apoiará a
produção de um longa, com R$ 1
milhão, de três curtas, quatro documentários e cinco vídeos", diz.
Ele mesmo pretende rodar ainda este ano "Esses Moços". Persistentes moços.
(SILVANA ARANTES)
TRÊS HISTÓRIAS DA BAHIA - Direção:
Sérgio Machado, Edyala Yglesias, José
Araripe Jr. Produção: Brasil, 2001. Com:
Sérgio Mamberti, Rita Assemany, Lucélia
Santos. Onde: multiplex Iguatemi (av.
Tancredo Neves, 148, Pituba, Salvador,
Bahia). Quando: hoje, às 20h40.
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