São Paulo, Segunda-feira, 31 de Maio de 1999
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TELEVISÃO
A zorra é total em "Linha Direta"

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Está certo que a Letícia Spiller e alguns outros personagens da novela "Suave Veneno" já nos deixam preparados para todos os possíveis horrores de uma noite.
Mas "Linha Direta" é um pouco incisivo demais para quem foi habituado com outro tipo de zorra. Ouçam só a voz do narrador Marcelo Rezende. Se ele não está dublando Deus, está pelo menos querendo que a gente confesse aqueles pecados que, desde criança, não cometemos mais.
Antes que se esqueça, o programa "Linha Direta" é de utilidade pública. Tem até telefone para uma emergência.
E emergências existem. Emergências como a da moça Ana Carolina da Costa Lino, que numa confusão de pequenos erros foi assassinada de maneira tão desnecessária por bandidos que estão na rua. O programa faz com imagens próprias toda a reconstituição do que aconteceu. O telespectador vive a culpa de quem nada pode fazer, além de sentir o terrível desperdício que tanto entristece a família.
Eva Wilma, sempre uma mulher, lê com a emoção correta a carta escrita pela mãe jovem da vítima. Para todos mais, fica a advertência de que o bandido William Cinelli fugiu da cadeia e que o Neguinho Dan, todo armado, continua solto como sempre. São dois vultos horrivelmente comuns.
Moça bonita e de educação apurada, a morte de Ana Carolina é revoltante. Mas, no contexto total do programa, nota-se que foi assunto para apenas disfarçar uma obsessão. Todo o enorme tempo que o programa ainda tinha foi inteiramente consumido pelas mortes de PC Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino.
Ótimo que alguém tenha duvidado da farsa do assassinato seguido de suicídio. Se viver bem é a melhor vingança, por que um casal tão rico iria fazer da morte tão triste comédia?
Tudo é possível dizer sobre Suzana Marcolino, a que não tinha a menor vocação para a ser a próxima vítima. Os aficionados já sabiam que ela era baixinha demais para sua mania de grandeza? Inclusive, como tanto insistiram, que era nanica demais para se suicidar? É claro. Os jornais e o Marcelo Rezende continuam dizendo essas coisas.
É novidade também que Suzana Marcolino nunca usava sutiã? Tão pequenininha, só lhe acrescentaram um ao corpinho para compor cerimoniosamente o tal do suicídio. Mexem, mexem, mexem para que se tenha finalmente a diversão de um detalhe.
Falam como numa batalha de confete. Cada um querendo engasgar o outro. Por isso é melhor continuar com a funcionária que parece a irmã baiana da miss Marple: "PC morreu e Suzana morreu muito tempo depois". O resto, mesmo que não seja a vontade de dona Marluce, também é zorra total.


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