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TELEVISÃO
A zorra é total em "Linha Direta"
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Está certo que a Letícia Spiller e
alguns outros personagens da novela "Suave Veneno" já nos deixam preparados para todos os
possíveis horrores de uma noite.
Mas "Linha Direta" é um pouco
incisivo demais para quem foi habituado com outro tipo de zorra.
Ouçam só a voz do narrador Marcelo Rezende. Se ele não está dublando Deus, está pelo menos
querendo que a gente confesse
aqueles pecados que, desde criança, não cometemos mais.
Antes que se esqueça, o programa "Linha Direta" é de utilidade
pública. Tem até telefone para
uma emergência.
E emergências existem. Emergências como a da moça Ana Carolina da Costa Lino, que numa
confusão de pequenos erros foi assassinada de maneira tão desnecessária por bandidos que estão
na rua. O programa faz com imagens próprias toda a reconstituição do que aconteceu. O telespectador vive a culpa de quem nada
pode fazer, além de sentir o terrível desperdício que tanto entristece a família.
Eva Wilma, sempre uma mulher, lê com a emoção correta a
carta escrita pela mãe jovem da
vítima. Para todos mais, fica a advertência de que o bandido William Cinelli fugiu da cadeia e que
o Neguinho Dan, todo armado,
continua solto como sempre. São
dois vultos horrivelmente comuns.
Moça bonita e de educação apurada, a morte de Ana Carolina é
revoltante. Mas, no contexto total
do programa, nota-se que foi assunto para apenas disfarçar uma
obsessão. Todo o enorme tempo
que o programa ainda tinha foi
inteiramente consumido pelas
mortes de PC Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino.
Ótimo que alguém tenha duvidado da farsa do assassinato seguido de suicídio. Se viver bem é a
melhor vingança, por que um casal tão rico iria fazer da morte tão
triste comédia?
Tudo é possível dizer sobre Suzana Marcolino, a que não tinha
a menor vocação para a ser a próxima vítima. Os aficionados já sabiam que ela era baixinha demais
para sua mania de grandeza? Inclusive, como tanto insistiram,
que era nanica demais para se
suicidar? É claro. Os jornais e o
Marcelo Rezende continuam dizendo essas coisas.
É novidade também que Suzana
Marcolino nunca usava sutiã?
Tão pequenininha, só lhe acrescentaram um ao corpinho para
compor cerimoniosamente o tal
do suicídio. Mexem, mexem, mexem para que se tenha finalmente
a diversão de um detalhe.
Falam como numa batalha de
confete. Cada um querendo engasgar o outro. Por isso é melhor
continuar com a funcionária que
parece a irmã baiana da miss
Marple: "PC morreu e Suzana
morreu muito tempo depois". O
resto, mesmo que não seja a vontade de dona Marluce, também é
zorra total.
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