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PERSONALIDADE
Afonso Brazza, 48, teve parada cardiorrespiratória
Morre o bombeiro que deu heroísmo ao cinema
Divulgação
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Afonso Brazza ao lado de Claudette Joubert em "Tortura Selvagem" (2000) |
LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA
A história do cinema está
cheia de metalinguagens e
de tentações provocadas em
pessoas inocentes que não medem seus talentos ao se atirar
na paixão da criação. Morreu
anteontem, vítima de parada
cardiorrespiratória, consequência de um câncer, Afonso
Brazza, o cineasta notável do
pólo de Brasília que personificava todas as tentações de um
cinema sem recursos.
Como na maldição bíblica
-de que fora do paraíso
(hollywoodiano) só resta o
abandono-, Afonso Brazza
colocava na lata filmes de baixíssimo orçamento, a maioria
com menos de R$ 100 mil, negativos vencidos, atores amadores e roteiros de um doce e
constrangedor primitivismo.
Difícil era ver seus filmes saírem das latas e serem projetados em cinemas de verdade.
Apenas eventualmente alguns dos filmes do ator, produtor, diretor, montador e bombeiro Brazza, como "No Eixo
da Morte", de 1998 (seleção da
2ª Semana do Cinema Brasil &
Independentes, em 2000) ou
"Tortura Selvagem - A Grade",
de 2000 (seleção da 25ª Mostra
BR de Cinema - Mostra Internacional de Cinema em São
Paulo, em 2001) chegavam ao
público através de festivais.
E apenas "Tortura Selvagem", com Zé do Caixão como
personagem, teve um ensaio de
distribuição e lançamento em
dois cinemas de Brasília, em
maio de 2001. A inspiração de
Brazza vinha dos filmes B de
ação, o que lhe valeu o apelido
de "Rambo do Cerrado". No
resultado, filmes fora do seu
tempo, muito próximos do filão paulista e carioca das pornochanchadas da década de 70,
contando até com Claudette
Joubert, a musa erótica da época, como sua atriz e co-produtora.
Com o emprego exclusivo de
recursos próprios e de seu salário como bombeiro, com mais
de 20 anos na corporação de
Brasília, Afonso Brazza marcou
pela proeza de haver concluído
oito longas, todos violentos,
cheios de tiros e pancadaria.
"Trabalho com ação e pancadaria, mas sou da paz, não uso
arma e não gosto de violência",
disse o cineasta ao Folha Online, no lançamento de "Tortura
Selvagem" em Brasília.
"O Matador de Escravos"
(82), seu primeiro filme, que teria custado apenas R$ 8.000, foi
seguido de "Os Navarros" (84),
"Santhion Nunca Morre" (88),
"Inferno no Gama" (93),
"Gringo Não Perdoa, Mata"
(95), "No Eixo da Morte" (97/
98), "Tortura Selvagem - A
Grade" (2000) e do inédito "Fuga sem Destino" (2002).
Parece pleonasmo atribuir algum ineditismo à obra cinematográfica do bombeiro e cineasta-herói Afonso Brazza.
Leon Cakoff é diretor da Mostra BR
de Cinema - Mostra Internacional de
Cinema em São Paulo
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