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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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PERSONALIDADE

Afonso Brazza, 48, teve parada cardiorrespiratória

Morre o bombeiro que deu heroísmo ao cinema

Divulgação
Afonso Brazza ao lado de Claudette Joubert em "Tortura Selvagem" (2000)


LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

A história do cinema está cheia de metalinguagens e de tentações provocadas em pessoas inocentes que não medem seus talentos ao se atirar na paixão da criação. Morreu anteontem, vítima de parada cardiorrespiratória, consequência de um câncer, Afonso Brazza, o cineasta notável do pólo de Brasília que personificava todas as tentações de um cinema sem recursos.
Como na maldição bíblica -de que fora do paraíso (hollywoodiano) só resta o abandono-, Afonso Brazza colocava na lata filmes de baixíssimo orçamento, a maioria com menos de R$ 100 mil, negativos vencidos, atores amadores e roteiros de um doce e constrangedor primitivismo. Difícil era ver seus filmes saírem das latas e serem projetados em cinemas de verdade.
Apenas eventualmente alguns dos filmes do ator, produtor, diretor, montador e bombeiro Brazza, como "No Eixo da Morte", de 1998 (seleção da 2ª Semana do Cinema Brasil & Independentes, em 2000) ou "Tortura Selvagem - A Grade", de 2000 (seleção da 25ª Mostra BR de Cinema - Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em 2001) chegavam ao público através de festivais.
E apenas "Tortura Selvagem", com Zé do Caixão como personagem, teve um ensaio de distribuição e lançamento em dois cinemas de Brasília, em maio de 2001. A inspiração de Brazza vinha dos filmes B de ação, o que lhe valeu o apelido de "Rambo do Cerrado". No resultado, filmes fora do seu tempo, muito próximos do filão paulista e carioca das pornochanchadas da década de 70, contando até com Claudette Joubert, a musa erótica da época, como sua atriz e co-produtora.
Com o emprego exclusivo de recursos próprios e de seu salário como bombeiro, com mais de 20 anos na corporação de Brasília, Afonso Brazza marcou pela proeza de haver concluído oito longas, todos violentos, cheios de tiros e pancadaria.
"Trabalho com ação e pancadaria, mas sou da paz, não uso arma e não gosto de violência", disse o cineasta ao Folha Online, no lançamento de "Tortura Selvagem" em Brasília.
"O Matador de Escravos" (82), seu primeiro filme, que teria custado apenas R$ 8.000, foi seguido de "Os Navarros" (84), "Santhion Nunca Morre" (88), "Inferno no Gama" (93), "Gringo Não Perdoa, Mata" (95), "No Eixo da Morte" (97/ 98), "Tortura Selvagem - A Grade" (2000) e do inédito "Fuga sem Destino" (2002).
Parece pleonasmo atribuir algum ineditismo à obra cinematográfica do bombeiro e cineasta-herói Afonso Brazza.


Leon Cakoff é diretor da Mostra BR de Cinema - Mostra Internacional de Cinema em São Paulo


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