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CORPO EM RISCO
Divulgação
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O dançarino japonês de butô Yoshito Ohno, que estará no Brasil em setembro para o evento "Vestígios do Butô", em cena da coreografia "Mar Morto" |
Mestre Yoshito Ohno encena no Brasil o butô "fundado na vida"
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INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Vida e morte, sexualidade, metamorfoses: são temas recorrentes
no butô. Surgido no final da década de 50 no Japão, o butô explora
a consciência das transformações
do corpo e sua relação com o ciclo
da vida. Muda a perspectiva do
olhar -o corpo em risco responde aos mais simples movimentos,
com particular intensidade, no
tempo e no espaço. Em setembro
vem ao Brasil Yoshito Ohno, para
o evento "Vestígios do Butô".
Yoshito, 65, é filho do mestre
Kazuo Ohno (1906). Assim como
seu pai, participou da origem histórica do butô, dançando em
"Kinjiki" ("Cores Proibidas"), de
Tatsumi Hijikata (1928-86). Esse é
considerado o primeiro espetáculo de "ankoku butô" (dança das
trevas) -mais tarde apenas butô
("bu", dança + "toh", pisar).
Na cena com pouca luz, um duo
de Hijikata e Yoshito Ohno: torsos nus e cabeças raspadas, som
da respiração, dos passos e gemidos de um ato sexual, espasmos e
movimentos decompostos. O espetáculo provocou uma revolução, pela expressão direta da violência e da sexualidade. Punha em
cena a mudança de expressão que
ocorreu no Japão do pós-guerra.
Uma nova coreografia, "Florescerei para ti, Florescendo Orgulhosamente", terá estréia aqui,
com a participação também de
Akira Kasai. Yoshito Ohno respondeu, por e-mail, esta entrevista exclusiva para a Folha.
Folha - Que memória você tem do
espetáculo "Kinjiki"?
Yoshito Ohno - Quando começamos a ensaiar, Hijikata não explicou nada; me dizia somente
"enrijeça o seu corpo e fique em
pé", "ande, apenas". Estava perdido, pois era a primeira vez que fazia algo assim. Duvidava do que
fosse, mas era capaz de segui-lo
naturalmente. Depois perguntei o
que a peça significava, e ele respondeu que era sobre um relacionamento.
Folha - O que mudou no butô?
Ohno - A situação social é diferente. O Japão mudou drasticamente nessas décadas. Hijikata
nasceu em Akita. O clima não era
o mesmo de hoje -era mais frio e
nevava. Hoje em dia ninguém
morre de fome. O frio e a fome são
elementos críticos para as pessoas
pensarem no corpo. Hoje nossa
relação com o corpo está enevoada. Também tínhamos complexo
em relação ao corpo ocidental, o
que desapareceu em muitos aspectos. O butô está numa situação
muito difícil agora que suas bases
quase desapareceram.
Folha - O que é crucial para alguém
se tornar um "butoka"?
Ohno - Hijikata me dizia nos
anos 60: "Não é fácil viver a vida;
se você não encarar as dificuldades, não estará qualificado para
fazer butô". Acredito que isso é
crucial. É também uma ideologia
na nossa tradição: a arte deve ser
fundada na vida, não na técnica.
Folha - Nos seus workshops, você
chegou a desenvolver um método?
Ohno - Sim, mas para iniciar um
workshop, não preparo nada.
Quero me concentrar no encontro com outro indivíduo. Isso deve ser o ponto de partida para fazer nascer algo. Busco a qualidade
particular de cada pessoa.
Folha - Como é o seu trabalho
com Akira Kasai?
Ohno - Kasai é discípulo de Hijikata e Kazuo, como eu. Ele enfatiza a improvisação, enquanto eu
estou mais interessado na forma.
Folha - Como está seu pai?
Ohno - Ele dança todos os dias.
Encontra pessoas e começa a dançar. Essa é sua vida. Assim ele
continua sendo quem é. Quero
agradecer a consideração de vocês por Kazuo. Eu adoro o Brasil.
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