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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Kurt Cobain"
Filme de rock sofre para ilustrar áudio com imagens
Baseado em 25 horas de entrevistas com o cantor, documentário é bipolar
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência" não se parece
com documentários biográficos que nos acostumamos a ver
no cinema recentemente. Em
vez dos muitos depoimentos
sobre um artista, temos aqui
um filme inteiro na primeira
pessoa do singular, baseado nas
25 horas de entrevista em áudio concedidas por Cobain
(1967-1994) para o crítico musical Michael Azerrad escrever
o livro "Come As You Are".
Esse ponto de partida permite um mergulho mais íntimo e
mais profundo na alma do personagem retratado, que fala
aberta e extensamente sobre
todos os assuntos que podem
atrair seus fãs: a infância e a
adolescência problemáticas, o
começo de carreira na banda, a
explosão do Nirvana, a relação
com sua mulher, Courtney Love, e os questionamentos sobre
o sucesso.
Sem músicas do Nirvana
Ao longo dos depoimentos,
acompanhados não de músicas
do Nirvana e sim de artistas que
marcaram a trajetória de Cobain (Iggy Pop, David Bowie,
Queen), ele revela uma personalidade consciente e sensível
o suficiente para extrapolar o
universo dos admiradores de
sua banda.
Até aí, tudo ótimo. Mas o filme esbarra em um problema
básico: como preencher com
imagens as declarações em áudio? O diretor AJ Schnack fez
uma opção inusitada: em vez de
exibir imagens de arquivo do
cantor (talvez por falta de material mais antigo, talvez por
problemas de direitos autorais), ele captou cenas cotidianas nas cidades onde morou:
Aberdeen, Olympia e Seattle.
Imagens aleatórias
Às vezes, o efeito é ilustrativo: Cobain fala sobre trabalhar
como limpador de lareiras em
um hotel; o documentário mostra outra pessoa fazendo a mesma atividade.
Em outras vezes, o filme passa uma sensação de aleatoriedade: o personagem fala sobre
algum momento de tristeza por
algum motivo específico; o diretor filma pessoas comuns
olhando melancolicamente para a câmera.
Em nenhum momento o resultado é plenamente satisfatório. As imagens parecem roubar a força das palavras. Talvez
as entrevistas fizessem mais
sentido em um audiolivro do
que em um documentário.
Talvez um filme que usasse a tela
preta em algumas sequências
fosse mais impactante -embora radical demais para a proposta de Schnack.
O fato é que o documentário
"Kurt Cobain - Retrato de uma
Ausência" resultou bipolar: o
áudio é muitas vezes brilhante;
o visual, quase sempre irrelevante.
(RICARDO CALIL)
KURT COBAIN - RETRATO DE
UMA AUSÊNCIA
Direção: AJ Schnack
Produção: EUA, 2006
Onde: em cartaz no HSBC Belas Artes
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
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