São Paulo, sexta-feira, 31 de julho de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Kurt Cobain"

Filme de rock sofre para ilustrar áudio com imagens

Baseado em 25 horas de entrevistas com o cantor, documentário é bipolar

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência" não se parece com documentários biográficos que nos acostumamos a ver no cinema recentemente. Em vez dos muitos depoimentos sobre um artista, temos aqui um filme inteiro na primeira pessoa do singular, baseado nas 25 horas de entrevista em áudio concedidas por Cobain (1967-1994) para o crítico musical Michael Azerrad escrever o livro "Come As You Are".
Esse ponto de partida permite um mergulho mais íntimo e mais profundo na alma do personagem retratado, que fala aberta e extensamente sobre todos os assuntos que podem atrair seus fãs: a infância e a adolescência problemáticas, o começo de carreira na banda, a explosão do Nirvana, a relação com sua mulher, Courtney Love, e os questionamentos sobre o sucesso.

Sem músicas do Nirvana
Ao longo dos depoimentos, acompanhados não de músicas do Nirvana e sim de artistas que marcaram a trajetória de Cobain (Iggy Pop, David Bowie, Queen), ele revela uma personalidade consciente e sensível o suficiente para extrapolar o universo dos admiradores de sua banda.
Até aí, tudo ótimo. Mas o filme esbarra em um problema básico: como preencher com imagens as declarações em áudio? O diretor AJ Schnack fez uma opção inusitada: em vez de exibir imagens de arquivo do cantor (talvez por falta de material mais antigo, talvez por problemas de direitos autorais), ele captou cenas cotidianas nas cidades onde morou: Aberdeen, Olympia e Seattle.

Imagens aleatórias
Às vezes, o efeito é ilustrativo: Cobain fala sobre trabalhar como limpador de lareiras em um hotel; o documentário mostra outra pessoa fazendo a mesma atividade. Em outras vezes, o filme passa uma sensação de aleatoriedade: o personagem fala sobre algum momento de tristeza por algum motivo específico; o diretor filma pessoas comuns olhando melancolicamente para a câmera. Em nenhum momento o resultado é plenamente satisfatório. As imagens parecem roubar a força das palavras. Talvez as entrevistas fizessem mais sentido em um audiolivro do que em um documentário.
Talvez um filme que usasse a tela preta em algumas sequências fosse mais impactante -embora radical demais para a proposta de Schnack. O fato é que o documentário "Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência" resultou bipolar: o áudio é muitas vezes brilhante; o visual, quase sempre irrelevante. (RICARDO CALIL)


KURT COBAIN - RETRATO DE UMA AUSÊNCIA

Direção: AJ Schnack
Produção: EUA, 2006
Onde: em cartaz no HSBC Belas Artes
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular




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