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Detento vende
obra por R$ 180
da Reportagem Local
"Nos anos 80, quando estava na
Colônia Agrícola de Rio Preto, não
tinha quem me trouxesse material
de pintura. Passei a inventar o que
dava."
Motta descobriu, então, que se
deixasse casca de cebola em um
pequeno pote com um pouco de
água e sal, em três dias teria um
líquido amarelo. "Misturei com
vaselina de cabelo e saiu uma bela
tinta óleo."
Mais fácil é quando ele põe as
mãos em um saquinho de Ki-Suco. "Aí é só misturar na vaselina e
já está pronto. Outras tintas são
mais difíceis de fazer, como as que
saem da beterraba e do morango,
mas dão certo."
Aos 49 anos -27 deles preso devido a roubos, assaltos a bancos e
fugas-, Motta passou por meia
dúzia de penitenciárias e colônias
agrícolas em várias cidades diferentes.
Hoje, como está preso em São
Paulo, Motta tem a ajuda de sua
mulher para lhe trazer o material
-e levar para casa os quadros
pintados durante a semana.
"O problema é preencher a Ordem de Entrada de Material. Depois, o documento precisa ser assinado duas vezes -pelo diretor
do meu pavilhão ou pelo chefe de
disciplina e também pelo diretor
de Produção da Detenção. É demorado", conta.
Por isso, quando quer terminar
logo uma obra -às vezes chega a
pintar duas em uma única madrugada-, recorre a expedientes
pouco usuais.
Sempre que usa esse tipo de tinta
improvisada, Motta tem o cuidado
de aplicar um acabamento especial para dar durabilidade ao quadro. Quando é tinta com vaselina,
passa uma camada de verniz.
"Mas quando a tinta é acrílica,
com base de água, é diferente. Afino cola branca misturando com
água, coloco em um tubo de desodorante e vaporizo toda a tela. Depois, ainda passo verniz."
Tanto capricho tem sua razão: as
telas que sua mulher não leva,
Motta vende ali mesmo.
"Vendi esses dias um nu para
um funcionário por R$ 180. Para
os presos tem que ser mais barato,
porque eles não tem dinheiro."
Nesse caso, a saída é rifar. O preço do sorteio, um maço de cigarros, é rapidamente consumido pelo próprio pintor.
"Na última rifa, tinha feito um
quadro de Jesus Cristo. O vencedor era crente e me disse: "Não
vou idolatrar esse cara. Faz outro,
faz uma paisagem, uma cachoeira,
uns passarinhos...'. Então estou fazendo esse aqui para ele. É uma cachoeira que inventei. Já estou craque nisso, em inventar paisagens
que nunca vi."
Mas não são as paisagens nem as
imagens religiosas as telas que
Motta mais gosta de pintar.
"Meu estilo preferido é o abstrato", afirma. "Mas pra vender
aqui, tem que ser mulher pelada
ou natureza. O pessoal não entende coisas abstratas, me julgam
meio maluco. Acham que a figura
está mutilada".
(IF)
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