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ARTES PLÁSTICAS
Nuno Ramos reitera o fluxo da criação
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
O artista plástico Nuno Ramos
expõe a partir de quarta-feira próxima, na galeria Camargo Vilaça,
três grandes esculturas em mármore branco.
As obras partiram, em seu estado bruto, das montanhas de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e passaram por Cabreúva, no interior de São Paulo, onde
foram lapidadas e polidas, antes
de aterrisar na vila Madalena.
As peças nasceram a partir de
blocos de mármore branco de cinco a oito toneladas e são compostas por três partes: uma maior, que
serve de base; uma menor, que
funciona como encaixe; e um novo elemento, a vaselina, que estabelecerá um elo de ligação entre as
partes e o ambiente que as cercam.
"Estou mexendo com o diálogo
entre o núcleo e a forma, que
transmite um sentido de expansão", disse o artista. "Elas têm
também uma memória que é própria da terra, geológica e arqueológica. E a vaselina vai colocar um
ponteiro de segundos nesse tempo
milenar da pedra", completou.
São encaixes, macho e fêmea,
partes que trabalham como protagonistas de uma relação sexual,
característica recorrente em boa
parte de seus trabalhos escultóricos. Da união dos dois, vem à tona
um líquido que se solidifica com
rapidez: sêmen e magma. São vulcões, ondas e fluxos. Vida, morte e
consumação se manifestam em
um espaço circunscrito.
Essas características não são novas para Nuno, que já abordou esses conceitos em vários outros trabalhos, como "Mácula" (94),
"Craca" (95) e "Matacão" (96).
A diferença é que agora as peças
são doces e translúcidas. Das formas geológicas surgem chamas,
ondas, fluxos.
Como em "Craca", apresentada em Veneza em 1995, as formas
brotam de um líquido que pode
ser visto como lava expelida das
entranhas de um vulcão, o sêmen
que é expelido do atrito sexual.
São ainda o ser expelido com a
placenta de um corpo maior.
A obra de Nuno Ramos é coerente. Trata-se de um fluxo contínuo, que se transforma, mas preserva sua fôrma.
Trabalhar com elementos retirados da terra é uma constante na
obra do artista plástico, que já trabalhou com granito, pedras, terra,
barro, sal, areia e cobre, entre outros elementos.
São materiais que carregam valores alquímicos, que se transformam e transfiguram a partir do
toque criador da terra e da mão do
artista. Para Nuno, toda criação é
cosmogônica e carrega em si uma
força telúrica. As relações com o
artista alemão Joseph Beuys são
evidentes. Os dois problematizam
a invenção da arte e os fluxos do
pensamento pelos caminhos da
natureza.
Mostra: Nuno Ramos
Técnica: esculturas em mármore e
vaselina
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique
Coutinho, 1.500, vila Madalena, tel.
011/210-7390)
Quando: de segunda a sexta, das 10h às
19h; sábado, das 10h às 14h. De 5 a 28 de
agosto
Quanto: preços não definidos
Vernissage: dia 5, quarta, às 20h
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