São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Nuno Ramos reitera o fluxo da criação

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O artista plástico Nuno Ramos expõe a partir de quarta-feira próxima, na galeria Camargo Vilaça, três grandes esculturas em mármore branco.
As obras partiram, em seu estado bruto, das montanhas de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e passaram por Cabreúva, no interior de São Paulo, onde foram lapidadas e polidas, antes de aterrisar na vila Madalena.
As peças nasceram a partir de blocos de mármore branco de cinco a oito toneladas e são compostas por três partes: uma maior, que serve de base; uma menor, que funciona como encaixe; e um novo elemento, a vaselina, que estabelecerá um elo de ligação entre as partes e o ambiente que as cercam.
"Estou mexendo com o diálogo entre o núcleo e a forma, que transmite um sentido de expansão", disse o artista. "Elas têm também uma memória que é própria da terra, geológica e arqueológica. E a vaselina vai colocar um ponteiro de segundos nesse tempo milenar da pedra", completou.
São encaixes, macho e fêmea, partes que trabalham como protagonistas de uma relação sexual, característica recorrente em boa parte de seus trabalhos escultóricos. Da união dos dois, vem à tona um líquido que se solidifica com rapidez: sêmen e magma. São vulcões, ondas e fluxos. Vida, morte e consumação se manifestam em um espaço circunscrito.
Essas características não são novas para Nuno, que já abordou esses conceitos em vários outros trabalhos, como "Mácula" (94), "Craca" (95) e "Matacão" (96).
A diferença é que agora as peças são doces e translúcidas. Das formas geológicas surgem chamas, ondas, fluxos.
Como em "Craca", apresentada em Veneza em 1995, as formas brotam de um líquido que pode ser visto como lava expelida das entranhas de um vulcão, o sêmen que é expelido do atrito sexual. São ainda o ser expelido com a placenta de um corpo maior.
A obra de Nuno Ramos é coerente. Trata-se de um fluxo contínuo, que se transforma, mas preserva sua fôrma.
Trabalhar com elementos retirados da terra é uma constante na obra do artista plástico, que já trabalhou com granito, pedras, terra, barro, sal, areia e cobre, entre outros elementos.
São materiais que carregam valores alquímicos, que se transformam e transfiguram a partir do toque criador da terra e da mão do artista. Para Nuno, toda criação é cosmogônica e carrega em si uma força telúrica. As relações com o artista alemão Joseph Beuys são evidentes. Os dois problematizam a invenção da arte e os fluxos do pensamento pelos caminhos da natureza.


Mostra: Nuno Ramos Técnica: esculturas em mármore e vaselina Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, vila Madalena, tel. 011/210-7390) Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h. De 5 a 28 de agosto Quanto: preços não definidos
Vernissage: dia 5, quarta, às 20h



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