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ANÁLISE
Enigma fica escondido em emaranhado de variáveis
DA "SALON"
"Amnésia" é daqueles filmes em que quase todas
as cenas assumem um significado
diferente quando você descobre
para onde o filme estava se dirigindo. Ou será que a expressão
deveria ser "onde o filme esteve"?
O enigma de "Amnésia" não
pode ser resolvido com uma simples explicação. Suas charadas se
emaranham em variáveis atordoantes: um narrador pouco confiável; um mecanismo de auto-referência pós-moderno; meditações temáticas sobre a memória, o
conhecimento e o sofrimento; e
pistas e indicações enganosas.
Somos informados de que Leonard (Guy Pearce) mata o assassino de sua mulher na primeira cena. O enredo se desenrola rumo
ao passado a partir dali, em porções de mais ou menos cinco minutos de duração, que nos permitem ver como ele descobriu o assassino, terminando com o começo da história cronologicamente.
Na verdade, essa apresentação
do roteiro é uma simplificação da
estrutura. Nolan fez algo mais
complicado e mais inteligente.
A sequência de abertura, na
qual Leonard mata um policial
corrupto chamado Teddy (Joe
Pantoliano), é a única tomada que
literalmente opera de trás para
frente: nela vemos uma polaróide
que se desrevela, uma bala que
entra no cano da arma e Teddy
volta à vida por um instante.
Essa sequência, colorida, é seguida por um trecho em branco e
preto no qual vemos Leonard explicando um pouco suas circunstâncias, em uma narração.
A próxima sequência extensa
mostra Leonard se encontrando
com Teddy e indo a um edifício
abandonado, onde vemos, de novo, Leonard atirar em Teddy.
Eis o que vamos compreendendo enquanto o filme avança: Leonard Shelby é um ex-investigador
de seguros. Na sua vida pregressa,
intrusos estupram e matam sua
mulher. Ele mata um deles, mas o
outro o golpeia na cabeça e escapa. O ferimento causa uma doença chamada amnésia antirretrógrada, o que quer dizer que ele se
torna incapaz de criar novas memórias de longo prazo.
Suas memórias passadas de longo prazo continuam intactas, mas
seu nível de atenção atual lhe permite reter um máximo de 15 minutos (ou ainda menos), e, de forma nenhuma, essas memórias
transitórias encontrarão espaço
permanente em seu cérebro.
Já que ele é incapaz de perceber
a passagem do tempo, a morte de
sua mulher está sempre fresca em
sua memória, o que o motiva a
encontrar o agressor e matá-lo.
Ele deixa lembretes para si mesmo em bilhetes, polaróides e tatuagens. Vemos que ele já possui
pistas sobre a identidade do assassino. À medida que o filme recua,
vemos como descobriu cada peça
do quebra-cabeças.
Pode ser complicado e temos
motivos para duvidar que a verdade esteja sendo dita. No entanto, os antecedentes nos são apresentados como flashbacks e vindos da memória de um homem
cujo cérebro foi danificado.
Leonard diz no começo do filme: "A memória não é confiável.
Não é nem sequer boa. Pergunte à
polícia; os depoimentos de testemunhas oculares são dúbios...
Memórias podem ser alteradas ou
distorcidas e são irrelevantes se
você dispõe dos fatos".
Mesmo que Nolan tenha trapaceado ao construir sua história,
"Amnésia" continua a ser uma
maravilhosa realização. Não só é
um filme que desafia a audiência,
exigindo o pensamento e a atenção que Hollywood jamais parece
invocar, mas usou essa inteligência para suscitar questões sobre
como percebemos a realidade.
(ANDY KLEIN)
Tradução Paulo Migliacci
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