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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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"Exibicionismo escondia timidez", diz historiador

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA

O historiador irlandês Ian Gibson, 64, é o autor de "A Vida Desaforada de Salvador Dalí". É também biógrafo do poeta Federico García Lorca. Mora no povoado de El Valle, em Granada, onde é delegado cultural. Por telefone, ele falou à Folha.
 

Folha - O que achou da programação do centenário?
Ian Gibson -
A principal exposição será exibida na Itália e depois irá para os EUA, mas não passará pela Espanha. Não tem cabimento.

Folha - A internacionalização das comemorações não ajudará a divulgar a obra de Dalí no mundo inteiro?
Gibson -
A obra de Dalí já é bastante conhecida. Muitos quadros importantes dele estão nos EUA. Ele é espanhol, é justo que sua obra fique na Espanha. Para conhecer um pintor, é preciso ter contato com seus quadros originais.

Folha - A obra de Dalí é suficientemente valorizada?
Gibson -
Apenas sua pintura. Sua autobiografia, por exemplo, foi escrita em francês e traduzida para o inglês, mas não para o espanhol.

Folha - Dalí foi muito criticado em vida por suas atitudes e suas posições políticas. Qual a imagem que ficou do artista?
Gibson -
Dalí é visto de muitas maneiras. Para alguns foi um palhaço, para outros, um gênio. Mas as pessoas deveriam olhar mais para a sua obra.

Folha - Dalí sabia usar o marketing em seu proveito?
Gibson -
Sem dúvida. Era exibicionista, mas suas atitudes no fundo escondiam uma timidez profunda.

Folha - Você tem uma tese de que no fundo Dalí era homossexual.
Gibson -
Falo disso em meus livros. Muitas pessoas com quem ele conviveu me falaram sobre sua feminilidade, mas ele tinha tanto medo de se descobrir homossexual que inibia qualquer relação mais íntima com os homens. Foi assim com Lorca, com quem manteve profunda relação de amor, nunca concretizada.

Folha - Qual foi a melhor fase de Dalí em sua opinião?
Gibson -
Entre os 25 e os 30 e poucos anos, antes de ir para os Estados Unidos, no auge de sua fase surrealista.

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