São Paulo, sexta, 31 de outubro de 1997.




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GASTRONOMIA
Cozinha mediterrânea opta por simplicidade

CRISTIANA COUTO
especial para a Folha

A vinda a São Paulo do francês Alain Ducasse -um dos melhores chefs do mundo- chama a atenção para a tendência mediterrânea em vários restaurantes da cidade.
Ducasse, que fará quatro jantares e um almoço no restaurante da boate O Leopolldo, de 8 a 11 de novembro, é aclamado pela cozinha simples que pratica no Le Louis 15, em Monte Carlo.
Em casas paulistanas como o Jerônimo, Dolce Villa e Zola, cerca de 50% do cardápio tem inspiração na culinária mediterrânea -baseada em legumes, grãos, peixes e frutas, regados a muito azeite e alho.
"É uma cozinha que valoriza o sabor dos produtos em si", diz a chef Lindinha Sayão, do Dolce Villa. Amêndoas, berinjela, ervas variadas e muito azeite surgem em várias opções de pratos leves e sem molhos da casa.
Jerônimo Jr. abandonou a linha de "fast food" que praticava no Vila Florida e decidiu fazer uma cozinha "sem pretensão, leve e saudável".
"Acho que é uma tendência mundial optar por coisas saudáveis, trocar a manteiga pelo azeite, sentir o sabor dos alimentos", diz o chef e proprietário do restaurante Jerônimo, inaugurado em julho.
Com a introdução de novos pratos no cardápio do La Tambouille, o chef italiano Alessandro Segatto, ex-Gero, imprime há três meses seu estilo mediterrâneo na casa. "Mas vou devagar, para as pessoas se acostumarem", ressalta.
Restaurantes antigos, como o Compagnia Marinara ou o Trebbiano, instalado no L'Hotel, apostam há alguns anos no sabor mediterrâneo. A caçarola de frutos do mar do Compagnia e a salada de vieiras mornas do Trebbiano -pratos famosos nas casas- são a prova do gosto por essa culinária.
Incutida nos cardápios das cantinas italianas, dos restaurantes franceses e espanhóis, e conhecida do público pela moussaka (grega) ou pelo tabule (árabe) -para citar alguns-, a cozinha da região mediterrânea não é novidade.
"Ela já era praticada pelos mouros há pelo menos 3 mil anos", lembra o consultor gastronômico Luiz Cintra. "Mas as pessoas aqui se esquecem um pouco da cozinha da Grécia, do Marrocos, do Egito", completa.
Indiscutivelmente saudável, a culinária mediterrânea praticada na cidade gera, entretanto, alguma polêmica.
Carlos Siffert, do Tambor: "Há confusão com a cozinha italiana". Luiz Cintra, consultor gastronômico: "Virou um produto de marketing". Massimo Barletti, do Trebbiano: "As frutas não têm o mesmo sabor de lá".
"Não adianta fazer torta de espinafre doce, um prato típico do sul da França, porque as pessoas não vão se identificar", comenta Siffert.
Regina Pinheiro, do Zola, acha que as pessoas ainda são conservadoras. Assim, exercita receitas com toques mediterrâneos em menus promocionais.



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