Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Cinema

Mente e corpo segundo Cronenberg

Longa mostra aproximação e atritos entre Freud e Jung, em capítulo-chave da história da psicanálise

RODRIGO RUSSO
DE LONDRES

Interpretar Freud não estava nos planos de Viggo Mortensen. Mas o convite de David Cronenberg, diretor de "Um Método Perigoso", que estreia hoje nos cinemas, convenceu o ator, que já trabalhara com o canadense em outros dois filmes.

"Nunca pensaria em interpretá-lo, porque é um papel muito diferente daquilo que costumo fazer. O Christoph Waltz [de "Bastardos Inglórios"] estava escalado para ser Freud, mas desistiu do projeto na última hora por um filme americano, de um grande estúdio. Agora vejo isso como uma perda para ele. Às vezes, é preciso ter sorte", diz Mortensen à Folha.

Outro protagonista do filme, Carl Gustav Jung (1875-1961), interpretado por Michael Fassbender, diria que não existem coincidências.

O filme retrata o período em que Sigmund Freud (1856-1939), pai da psicanálise, e Jung trocaram cartas, nas primeiras décadas do século 20, compartilhando dúvidas e progressos na prática psicanalítica. Uma paciente em que Jung testa o método freudiano é o início da aproximação entre os pensadores, que depois divergem e se afastam.

A atuação de Keira Knightley como Sabina Spielrein, a paciente que depois se torna amante de Jung, foi recebida com ressalvas na imprensa britânica, que a considerou exagerada.

Mortensen discorda: "Keira foi muito corajosa em sua atuação, assim como Cronenberg em concordar com sua proposta. Ela fez um ótimo trabalho e, sinceramente, acho que merecia ter sido indicada a prêmios por essa composição".

Prêmios são um território perigoso na conversa com o ator. Ao mesmo tempo em que ressalta a importância comercial das indicações, diz que não se pode acreditar neles, citando o exemplo de Cronenberg, que nunca foi indicado ao Oscar.

"É ridículo que ele não tenha sido indicado. Mas não levo os prêmios muito a sério. Como poderia, ao ver não só o que fica de fora, mas principalmente aquilo que entra nas listas? Pelo menos metade das indicações sempre vai para trabalhos medíocres. Às vezes, inclusive, eles vencem", critica Mortensen.

IGNORADO PELO BAFTA

O filme de não constou nem na lista de 15 pré-selecionados para a categoria de melhor longa do Bafta, o grande prêmio do cinema britânico.

Para Mortensen, o interessante de trabalhar com Cronenberg é que o diretor não obriga o público a seguir o que ele pensa. "O que ele faz é colocar muitas perguntas, algo que Freud e Jung também fariam. Perguntar algo e deixar que as pessoas falem, que decidam. É um método aberto, respeitoso com o público, que não é obrigado a gostar", explicou.

Quando questionado sobre a chance de a trama atrair um bom público, Mortensen volta aos prêmios. "Espero que sim. É nisso que as indicações nos ajudariam. Não fizemos documentário, mas uma reconstrução histórica, um drama sobre amizade, amor, ódio e insegurança, temas que todos nós conhecemos."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.