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Opinião

O show foi fora dos palcos: um público com fome de tudo

TONY GOES
COLUNISTA DO “F5”

Desdobro o mapa fornecido pela Prefeitura e me deslumbro com a quantidade de atrações simultâneas. Sabe aquela sensação da Mostra de Cinema? A de que estamos vendo um filme bom, mas perdendo outros cinco muito melhores? Vezes dez.

Na Barão de Itapetininga, tenho a impressão de que aconteceu algum cataclisma. Aquela multidão perambulando lembra o filme "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, ou o seriado "The Walking Dead". A lua mais cheia do ano contribui para a atmosfera de encanto.

Várias pessoas me param pedindo informações. Onde fica a República? E o Anhangabaú? E o edifício "Itája"? Pergunto de onde vêm esses turistas, que desconhecem o mais básico de SP. São todos paulistanos mesmo, descobrindo o próprio centro.

Na praça da Sé, Rafinha Bastos se apresenta na porta da catedral. Não dá para ouvir uma palavra e ninguém solta uma única risada. Mas há algo de iconoclasta na presença de um polêmico humorista judeu no maior templo católico da cidade.

A alguns metros dali está a atração pela qual mais ansiava: o campeonato de luta livre! Esperava certa produção, com máscaras mexicanas e coreografias elaboradas. Mas vejo lutadores gorduchos fingindo que se machucam. Mesmo assim, é divertido: um deles é louro e é logo apelidado de "Hebe" pela plateia.

É tanta gente circulando que até um mágico fazendo cachorrinhos com balões causa celeuma. Todo mundo quer arte, todo mundo quer diversão, todo mundo quer galinhada. A Virada Cultural revela o esplendor e a decrepitude do centrão em proporções bíblicas. E o maior de todos os shows não está em nenhum palco: é o próprio público, com fome de tudo.

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