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Cinema - Crítica/Drama 'Intocáveis' é sucesso comercial bastante digno Maior bilheteria do cinema francês, filme alterna humor e gravidade em história sobre um bilionário e seu empregado INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHA "Intocáveis", filme que se transformou no maior sucesso internacional de público entre os filmes produzidos na França, não chegou a esse estágio por acaso. Afinal, se existe coisa difícil neste mundo é encontrar um filme comercial francês minimamente assistível (ao menos pelo público do exterior), e este trabalho de Olivier Nakache e Eric Toledano é bem mais que isso: é bastante assistível. Ou, em outras palavras, "Intocáveis" começa por uma boa história. "Baseada em fatos reais", é verdade, mas daí pode-se sempre tirar o melhor e o pior. No caso, trata-se do encontro de um bilionário tetraplégico, Philippe, com Driss, o jovem negro que emprega para se ocupar dele. Os autores parecem seguir a receita hawksiana (do cineasta americano Howard Hawks), de buscar o humor naquilo que tudo induz a pensar em drama. É assim desde o começo: enquanto os candidatos à vaga enunciam bons argumentos para obter o emprego (profissionalismo, humanitarismo etc.), Driss apenas procura uma negativa que lhe garanta o direito ao seguro desemprego. Seu jeito despachado, mas também a soberba, a capacidade de observação e mesmo a inteligência que demonstra -tudo isso é a senha para que Philippe o contrate, apesar de seus antecedentes pouco recomendáveis. Logo saberemos que Philippe não é um bilionário comum, se é que algum bilionário pode ser comum. Embora pregado na cadeira de rodas, é um aventureiro: foi praticando esportes radicais que sofreu o acidente fatal. Driss é, de certo modo, seu duplo selvagem. BOM ROTEIRO A partir desses elementos o filme saberá lançar expectativas (ou seja: levar o espectador a se perguntar o que virá depois), alternar humor e alguma gravidade, lançar falsas pistas sem trapacear. Enfim, percorre com desenvoltura o manual do bom roteiro, e nem por isso deixar de ser francês a cada instante, sem descuidar dos enquadramentos, da luz ou da interpretação (os atores François Cluzet e Omar Sy estão ótimos). A roda pega um pouco na última meia hora do filme, quando o feliz processo de troca de conhecimentos entre o bilionário refinado e o negro da periferia desemboca em uma espetacularização um pouco tola. A cena em que Driss dança num salão sofisticado, dedicado à música clássica, é tão demagógica quanto tola -ou seja, ajuda no sucesso do filme. Nada, porém, que impeça "Intocáveis" de continuar a ser um longa-metragem comercial visível e, ao mesmo tempo, digno. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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