Crítica Comédia

Trivial e previsível, longa simpático tem o mérito de não rebaixar o espectador

"Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo" é um desses produtos que a indústria do comentário cinematográfico (associada essencial da indústria cinematográfica) já destinou à categoria dos filmes que podem ser vistos em DVD, sem que o espectador se dê ao trabalho de ir até uma sala de cinema.

Ok, não está longe disso. Mas o que nos trazem de tão essencial os blockbusters em 3D, à parte do 3D, que precisa tão intensamente ser visto no cinema? Eventualmente menos do que este simpático "Procura-se um Amigo".

O título já esclarece muito: o mundo está para chegar ao fim. Como se comportam diante disso os homens? Alguns se suicidam, outros saem pelas ruas destruindo o que acham pela frente, outros ainda se entregam à orgia.

Todos esses acreditam, ou passam a acreditar, que a vida não tem sentido.

A exceção fica a cargo de Steve Carell, ou Dodge, um agente de seguros que, na onda do fim do mundo, a mulher finalmente decidiu abandonar. Fim de mundo ou não, é a perplexidade que toma conta dele. Sente-se também infeliz. Não entende algo evidente da vida, que está diante do seu nariz.

Como sempre nessas ocasiões, uma oportuna vizinha aparece. Trata-se de Penny, ou Keira Knightley, moça graciosa que cultiva o hábito de chegar sempre atrasada e o outro, mais universal, de namorar sempre o cara errado.

Para um fim de mundo não há como exigir melhor. São personagens mais preocupados em aproveitar seus últimos momentos acertando as contas com o passado do que em aproveitar a vida.

O resto qualquer criança de 5 anos pode deduzir. A imprevisibilidade não é o forte do roteiro de Lorene Scafaria.

Em troca, nesse seu filme de estreia na direção, Scafaria oferece a imagem de dois seres que procuram, nesse momento extremo, entender o que são e o que foram.

Nada demais, longe disso, mas ao menos busca oferecer um espetáculo de dignidade.

Algo que se pode deixar para ver no DVD, claro, mas que ninguém acusará de rebaixar a espécie e até a própria arte: esse trivial digno não tem sido tão frequente assim. (inácio araujo)