São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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PLANO DIRETOR EM DEBATE

Degradado, distrito sofre com a presença de camelôs, catadores de papel e moradores de rua

Outorga onerosa prejudica Santa Cecília

DA REPORTAGEM LOCAL

O desafio do Plano Regional Santa Cecília (zona central de São Paulo) é driblar sua própria decadência. Até dezembro, os moradores discutem como quebrar o ciclo vicioso da degradação.
Mas não vai ser fácil. Há a percepção de que a outorga onerosa (dispositivo que permite construir acima do coeficiente básico de aproveitamento dos terrenos desde que seja paga uma taxa à prefeitura), um dos principais instrumentos do novo plano, possa se transformar num obstáculo à recuperação do distrito.
"As novas regras do Plano Diretor devem reduzir os preços dos terrenos em áreas degradadas por não ser mais possível valorizá-los sem o ônus da outorga financeira", afirma o consultor João Freire D'Ávila, 44, da Amaral D'Ávila Engenharia de Avaliações.
Para piorar, a Operação Urbana Centro não trouxe muitos atrativos. "Não incentiva a ocupação, embora tenha avançado na revitalização de pontos históricos", afirma Regina Monteiro, do Movimento Defenda São Paulo. O distrito foi beneficiado com a revitalização do Teatro São Pedro e da estação Júlio Prestes.
O empresário Fábio Ceridono Fortes, 34, diretor comunitário do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do distrito, explica que outros prédios históricos já estão sendo revitalizados, caso do Santos Dumont, na alameda Nothmann, que vai abrigar o futuro Museu da Energia, e dos casarões que estão sendo comprados pela seguradora Porto Seguro, nas proximidades.

Conflitos
Flamínio Fichmann, 44, diretor de planejamento da associação Bairro Vivo, diz que discute com a prefeitura a ocupação de edifícios. O objetivo, diz o urbanista, é reverter a subutilização do centro da cidade que, segundo ele, tem cerca de 20% das ligações de energia elétrica inativas.
Na opinião de Fábio Fortes, do Conseg, outro problema que o Plano Regional deverá enfrentar é o bolsão de camelôs no largo de Santa Cecília. "O número é dez vezes maior que o previsto, e há conflitos entre eles, que chegam a interferir nas missas", revela.
Outra "briga" do Conseg é com os vendedores ambulantes nas imediações da Santa Casa de Misericórdia, aponta seu presidente, Fuad Sallum. "As pessoas são impedidas de passar pela calçada."
Mais complicada ainda é a situação do Elevado Costa e Silva. "O Minhocão mostra a necessidade de fazer auditorias prévias sobre o impacto de cada grande projeto", afirma Fichmann.
Preocupam ainda a avenida Rio Branco e a praça Princesa Isabel.
Sallum afirma que os moradores também duelam com o número excessivo de depósitos clandestinos de ferro-velho -sem fiscalização e organização, eles explorariam os carroceiros do bairro.
Já os catadores de entulho representam uma ameaça à se- gurança dos moradores, uma vez que são comuns focos de incêndio em aparas de papel.
Fortes destaca ainda a presença de moradores de rua na avenida Amaral Gurgel. Neste caso, a "bronca" é com os chamados "sopeiros", formados, geralmente, por grupos religiosos, "que alimentam o ciclo de decadência e miséria nessa região".
(NATHALIA BARBOZA)


Associações de moradores:
Alto da Boa Vista, 0/xx/11/4447-0917; Bairro Vivo, 0/xx/11/259-1002; Brooklin Velho, 0/xx/11/5096-4229; Chácara Flora, 0/xx/11/5686-7856; Conseg Santa Cecília (Fábio Fortes), 0/xx/11/9609-7094; Defenda São Paulo, 0/xx/11/5561-2920; Granja Julieta, 0/xx/11/5521-2333; Jd. Petrópolis e dos Estados, 0/xx/11/5533-6607.


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