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ANDAR DE BAIXO
Distritos da periferia vivem "inchaço' populacional, mas mercado produz
ainda poucos imóveis de até R$ 40 mil
Lançamentos desviam dos entornos
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ao longe, tudo parece igual.
Prédios e casas no mesmo estilo,
com o mesmo tamanho, a mesma
fachada. Essa é a impressão que se
tem ao chegar a áreas onde a presença das classes C e D é mais forte, como Lajeado e Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo.
O visual, padronizado e sem luxos, remete à história desses bairros e de seus moradores. Muitos
surgiram a partir de conjuntos da
Cohab ou de outras obras promovidas por órgãos públicos para
minimizar o déficit habitacional.
Os imóveis são simples. A área
útil das casas da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) varia de 39 m2 a
45 m2. As unidades do Cingapura,
produzidas nas gestões de Paulo
Maluf (PPB, 1993-96) e Celso Pitta
(PTN, 1997-2000), possuem 43
m2. Os conjuntos habitacionais da
atual prefeitura têm 27 m2.
Dentro de cada unidade, famílias com renda de até seis salários
mínimos mensais e que, muitas
vezes, moravam em áreas de risco
antes de receber a sua casa.
Pessoas como Jussara da Silva,
33, que vivia com os cinco filhos
em um barraco prestes a cair e
que hoje paga cerca de R$ 40 por
mês para ter uma casa própria em
um condomínio da CDHU em
Lajeado. "Só o prazer de ter uma
casa limpa, boa, onde meus filhos
não corram risco, é um direito
que ninguém pode me tirar."
Exclusão
Mas ainda faltam muitos direitos a conquistar. Lajeado é um
dos últimos distritos no ranking
do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) calculado pela
Secretaria do Desenvolvimento,
Trabalho e Solidariedade de São
Paulo, com o mesmo método que
a ONU (Organização das Nações
Unidas) utiliza para medir o desenvolvimento dos países.
Dentro de uma escala que vai de
zero a um, o índice em Lajeado é
de 0,38. Isso significa que o distrito apresenta condições de vida
equiparáveis às de países africanos. Na ordem, os últimos do ranking do IDH são os distritos de
São Rafael, Parelheiros e Marsilac.
O Jardim Ângela, na zona sul,
que no levantamento da Urban
Systems Brasil possui a maior
concentração de classe D, está
apenas duas posições acima de
Lajeado, com um índice de 0,4.
Em razão da correnteza que leva a
pobreza para a periferia, a população do Jardim Ângela cresceu
71,3% em nove anos. Lá vivem
hoje cerca 243 mil pessoas.
Investimentos
Paradoxalmente, essa explosão
não parece ter sido acompanhada
pelo interesse da iniciativa privada. Mais atento à demanda das
classes A e B, o mercado imobiliário não tem dedicado muitos investimentos à moradia popular.
Segundo dados da Embraesp
(Empresa Brasileira de Estudos
do Patrimônio), dos 2.903 lançamentos na cidade nos últimos oito anos, só 53 ofereciam unidades
orçadas em até R$ 40 mil.
"Nós vemos hoje uma contração do mercado imobiliário formal para a classe média, a classe
média baixa e a baixa", afirma o
urbanista Kazuo Nakano.
Algumas construtoras, porém,
vêem no nicho popular uma
aposta promissora. "Constatamos que o volume de imóveis populares aqui é insuficiente diante
da demanda", diz Gustavo Gusmão, diretor regional da empresa
mineira Tenda, que está no mercado paulistano há quatro anos.
Desde então, a Tenda já fez 14
lançamentos -nove foram completamente vendidos. São 1.372
apartamentos, por R$ 35 mil em
média cada um. Para facilitar as
vendas, a empresa não exige comprovante de renda nem fiador.
A MRV, também mineira, seguiu rumo diferente. Seus imóveis custam de R$ 35 mil a R$ 67
mil e têm cerca de 52 m2, mas são
em bairros como Morumbi e Jabaquara. "Vimos que as pessoas
queriam morar em um ponto melhor", diz Eduardo Barreto, diretor de vendas da MRV, que lançou sete residenciais. Das 750 unidades, 690 foram vendidas.
(AMARÍLIS LAGE)
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