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ZONA OESTE
Mulheres que se reúnem para bordar são exemplo dos hábitos dos moradores, que já estão sendo assediados pelas construtoras
Progresso ameaça calma da Vila Romana
ELENITA FOGAÇA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A Vila Romana, na zona oeste,
tida pelos profissionais do mercado imobiliário como um dos bairros que mais receberão empreendimentos nos próximos dois
anos, representará mais um capítulo da história de São Paulo que
será reescrito verticalmente.
Quem visita a região hoje até
avista arranha-céus, mas uma inspeção mais minuciosa mostra que
os espigões estão fora dos limites
do bairro, dominado por casas.
Somada à arborização, essa característica dá ao bairro uma atmosfera de cidade do interior. Divididos entre os que reprovam a
verticalização do bairro e os que
se conformam com ela, os moradores reforçam a impressão.
Não é fácil encontrar em outro
canto de São Paulo um grupo de
senhoras que se reúnem em torno
de uma banca de jornal para bordar, trocar receitas e bater papo.
Na Vila Romana, mais precisamente na praça Jesuino Bandeira,
isso ocorre todas as tardes.
"Aqui é o ponto de encontro de
todas as minhas amigas", conta
Helena Keiko Matsuda Senaha,
48, dona da banca de jornal que
leva seu sobrenome. A comerciante, que há 15 anos mora no
bairro, teme perder essa tranquilidade tipicamente interiorana.
Tentação
"Não quero que minhas amigas
vendam suas casas e se mudem
daqui", pede Senaha. Mas, pelos
boatos que correm pelo bairro,
parece difícil que o grupo continue reunido. As ofertas estão sendo tentadoras.
"Minha casa já está à venda,
mas pretendo comprar outra por
aqui", diz Iraci Maria da Silva, 52,
sendo 50 deles vividos no bairro.
"Ninguém consegue brecar o
progresso", consola-se o aposentado Mario Temporin, 72, há 30
no bairro. Todas as manhãs, junto
com outros aposentados, ele frequenta a banca de jornal. No período matinal, Eduardo Eiyu Senaha, 51, marido de Helena, é
quem cuida do ponto.
"De dia, ficam os homens, à tarde, as mulheres", comenta. A rotina dos dois grupos só é interrompida, de hora em hora, com a chegada do pardal Tico -um passarinho que come ração na mão de
quem a der. "É o nosso mascote",
resume Eduardo Senaha.
Elogios ao bairro, no qual 90%
dos habitantes são proprietários
de suas casas, não faltam. "Aqui é
muito bom, tranquilo, mas as
conversas de que vamos ter prédios não são boatos", observa o
contador Esli Boniolo, 69.
Ele diz que já estava com planos
de deixar a região onde foi criado.
Por isso colocou placa de venda
em sua casa. "Quando soube da
presença de construtores no bairro, retirei a placa e agora estou estudando as propostas", revela.
Xô, construtoras
Mas há quem não festeje a possibilidade de vender bem o seu
imóvel. É o caso do comerciante
Michele Calabria, 60, e da dona-de-casa Olga Risaldi Cassapula,
66. Ambos moram na Vila Romana há mais de cinco décadas.
Eles não querem que a população local aumente. "A infra-estrutura daqui não comporta", argumenta Calabria. "Trocar uma casa em que moram duas pessoas
por um prédio com 200 é uma
violência", completa. "Só tenho
essa casa, não vou vender para
ninguém", promete Cassapula.
Os argumentos de Calabria procedem. Apesar de estar próxima
de locais bem abastecidos de
transportes, comércio e serviços,
como a Lapa e a Pompéia, a Vila
Romana é carente de muita coisa.
"Ônibus aqui só passa a cada 45
minutos, no mínimo", reclama a
moradora Neide Alves Maia, 48.
"Não temos lazer, um bom restaurante, uma boa padaria", enumera Joana Alves Navarro, 47.
Para profissionais do setor imobiliário, quando começarem a pipocar os novos lançamentos, problemas como esses vão virar coisa
do passado, assim como as casas.
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