São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2000


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VOCÊ APÓIA A INTERDIÇÃO DO NAPSTER?

Inimigo desmascarado

NÃO

LOBÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com a proibição arbitrada ao Napster pela Justiça americana, cai definitivamente a máscara do bom-mocismo, da simpatia pré-fabricada e canastrona, tipo o-cliente-sempre-tem-razão, para desvendar a face de um personagem que estava atuando sem ser anunciado: o vilão.
Com isso, temos um fato inédito nos últimos 20 anos. O público começa a saber (e a odiar) quem é o inimigo. E trata-se de um generalizado desmascaramento: é a indústria fonográfica em convulsão, em todo o mundo tentando emperrar os avanços do MP3 e derivados, são as rádios oficiais tentando botar a polícia atrás de rádios comunitárias, artistas são obrigados ao silêncio por meio de ameaças, enquanto outros artistas (representantes da situação nas grandes gravadoras) ameaçam o público com dramatizações violentas e propagandas humilhantes (vide o caso do Metallica versus Napster e dos nossos artistas fazendo reclames contra a pirataria).
No meu caso, recebi extra-oficialmente uma notícia de que meu último disco estaria vetado para execução em rádios filiadas à Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão). Em contrapartida, o seu presidente, na figura do Sr. Piconez, alega que "oficialmente não há boicote e, com certeza, o que ocorre é que o disco é ruim". Fato para mim de grande relevância por constatar a impotência desse "não tocar em rádio oficial", pois o disco está com uma vendagem recorde (mais de 100 mil cópias vendidas) e, com certeza, enviarei um disco de ouro para o Sr. Piconez.
No caso do Napster, dá-se o mesmo. É o poder sob o signo da impotência. Isso só vai acelerar um processo de beligerância em que somente a indústria fonográfica sairá desgastada e derrotada.
Há uma página (www.boicote.8m.com) que mostra o estado de espírito, não mais de uma galerinha, mas sim de um número assustador de pessoas se articulando num megaboicote à Associacão Americana de Produção Fonográfica, a Riaa, que será perpetrado no dia 10 de agosto.
Ou seja, estamos em guerra declarada a um inimigo agora visível, agigantado, pouco ágil e dando sintomas de decadência. A proibição da Napster é mais um fato para se comemorar do que para se acanhar.
Era tudo o que queríamos: o vilão mostrar-se vilão ao público e, com isso, declara-se seu inimigo mais brutal, tendo em vista que a indústria fonográfica é o meio de lucro mais escorchante do planeta, ganhando até do tráfico de drogas e da indústria bélica.
Portanto é tudo uma questão de tempo. O inimigo cairá.



Lobão, 42, é dono da sua própria gravadora, a Universo Paralelo



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