São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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SEGURANÇA

EUA cogitaram reconfigurar a internet para identificar usuários, mas governo diz ter descartado proposta

Plano impediria anonimato on-line

JOHN MARKOFF
DO "THE NEW YORK TIMES"

O Pentágono (centro de defesa dos EUA) está planejando criar um enorme banco de dados de transações eletrônicas, que seriam analisadas para detectar indícios de atividade terrorista.
Mas o governo dos EUA diz rejeitar outra idéia de vigilância: rotular os dados que circulam na internet com marcadores pessoais únicos, de modo a impossibilitar o uso anônimo da rede.
A idéia, que foi discutida numa reunião na Califórnia, em agosto, desencadeou uma disputa irada entre cientistas da computação e especialistas em política convocados para avaliar suas implicações.
Conhecido como eDNA, o plano previa o desenvolvimento de uma nova versão da internet, que incluiria setores nos quais seria impossível conservar o anonimato. A tecnologia dividiria a rede em "rodovias públicas", nas quais o internauta precisaria ser identificado, e "vielas privadas", que não exigiriam identificação.
Várias pessoas familiarizadas com as discussões em torno do eDNA disseram que essas zonas seguras se aplicariam primeiro a funcionários do governo ou da polícia. Em seguida, seriam ampliadas para incluir organizações em que a segurança é importante, como instituições financeiras, e depois ampliadas ainda mais.
Uma descrição do eDNA enviada aos 18 participantes da reunião dizia: "Todos os recursos de rede e do cliente conservariam traços de eDNA dos usuários, de modo que o usuário pode ser identificado como alguém que visitou tal site, iniciou tal processo ou enviou tal informação. Desse modo, os recursos e aqueles que os utilizam formam uma "cena do crime" virtual contendo evidências da identidade dos usuários, mais ou menos da mesma maneira que uma cena de crime na vida real contém traços do DNA das pessoas".
A proposta teria sido uma de uma série de iniciativas tecnológicas que vêm sendo estudadas pela administração Bush como parte do esforço para combater o potencial para novos ataques terroristas nos EUA. As iniciativas incluem planos para rastrear e monitorar as atividades eletrônicas de cidadãos americanos.

Vigilância
Nas últimas semanas, uma proposta da Agência de Pesquisas Avançadas em Projetos de Defesa (Darpa), que é subordinada ao Pentágono, vem atraindo críticas contundentes por seu potencial de prejudicar as liberdades civis.
O projeto está sendo dirigido por John Poindexter, assessor de segurança nacional do presidente Ronald Reagan.
Poindexter voltou ao Pentágono em janeiro para dirigir o Escritório de Conscientização de Informações da agência, que tenta implantar um sistema de vigilância com o qual policiais e analistas de informações poderiam consultar dados de transações eletrônicas, desde dados de cartões de crédito até registros de veterinários, nos EUA e em nível internacional, para ajudar na caçada a terroristas.
Já com o eDNA, o internauta teria de fornecer elementos de identificação pessoal, como voz ou impressão digital, para poder percorrer determinadas regiões da internet. Isso, por sua vez, se transformaria numa assinatura eletrônica que poderia ser fixada ao fim de cada mensagem ou atividade do usuário na internet. Essa assinatura poderia ser rastreada até chegar a sua origem.
A idéia do eDNA foi visualizada num debate particular que incluiu o diretor da Darpa, Tony Tether, e uma série de pesquisadores de informática. Segundo uma fonte, Tether teria perguntado por que os ataques na internet não podem ser rastreados até seu ponto de origem, e ouvido que, devido à estrutura atual da rede, nem sempre é possível fazer isso.
A Darpa deu um contrato de US$ 60 mil à SRI International, uma empresa de pesquisas da Califórnia, para que estude a idéia do eDNA. A SRI promoveu uma reunião em agosto para avaliar a viabilidade da proposta.
O encontro reuniu vários pesquisadores importantes na área de segurança de computadores e cientistas da computação famosos. Ele foi presidido por Victoria Stavridou, cientista da computação que trabalha para a SRI.
A tecnologia eDNA foi criticada por quase todos os participantes -segundo vários deles, por razões tanto técnicas quanto de defesa da privacidade. Vários especialistas disseram que o eDNA não resolveria os problemas que se propunha a resolver.
Num e-mail enviado ao grupo em 15 de outubro, a cientista informou que representantes da Darpa estavam interessados em desenvolver a tecnologia.
Mas, na semana passada, a Darpa disse que não pretende desenvolver a tecnologia. Stavridou não foi encontrada para comentar o assunto.


Tradução de Clara Allain


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