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ESTHER DYSON
Um mercado de idéias
Desde a última vez em que
escrevi sobre a Icann, organização que coordena a distribuição dos endereços de sites na internet, muita coisa aconteceu.
Nos últimos dois anos, a Icann
promoveu concorrência acirrada
com a empresa que originalmente
dominava o registro de endereços,
a Network Solutions.
A empresa, que hoje é parte da
VeriSign, ainda detém o monopólio da gestão dos domínios genéricos de primeiro nível ("top-level
domains", ou TLDs), como .com,
.net e .org. Os endereços regionais
(.br no caso do Brasil ou .es na Espanha, por exemplo), são administrados, normalmente, por organizações designadas pelos próprios governos.
Em breve, porém, haverá concorrência até mesmo entre os domínios genéricos de primeiro nível, já que, em novembro passado,
a Icann aprovou sete novos tipos
de endereço para sites, como .business, .info e .coop.
A Icann também enfrenta novos desafios, entre eles a New.net,
uma empresa privada que está
tentando contornar o sistema de
nomes de domínio da Icann com
uma abordagem um tanto quanto incompatível. Mas, se a Icann
fizer seu trabalho bem feito, vai
prevalecer por ter o sistema mais
atraente.
O maior desafio que a Icann enfrenta é saber receber as críticas
do público, agindo com base nelas. Será que o sistema da New.net
realmente constitui uma ameaça
à integridade da internet, ou será
um avanço tecnológico bem-vindo que a Icann deveria receber
bem e adotar como parte da evolução contínua da rede? O que dizer do fato de que a New.net é
uma empresa privada e poderia
beneficiar-se incomensuravelmente da bênção da Icann, assim
como também fariam os donos de
endereços terminados em .biz,
.info e .pro?
São questões que não são apenas técnicas, e a Icann precisa
prestar atenção às necessidades e
opiniões de uma população
maior do que apenas os engenheiros e lobistas de empresas, que são
seus participantes mais ativos.
Embora eu tenha deixado a
presidência da Icann (não em razão de alguma conspiração, mas
porque meu mandato terminou
em novembro), agora integro seu
Comitê de Estudos dos Participantes Extraordinários, encarregado de tratar exatamente dessas
questões.
Estamos analisando o processo
pelo qual foram eleitos os primeiros cinco membros extraordinários, processo que foi amplamente
visto como um experimento que
deveria ser aperfeiçoado para a
eleição seguinte -mas aperfeiçoado como?
Estamos nos perguntando
quem deve ter direito de ser membro extraordinário -qualquer
pessoa? Qualquer pessoa que tenha e-mail? Qualquer pessoa que
tenha um nome de domínio? Ou
será que os membros deveriam
ser submetidos a algum tipo de
exame para assegurar que compreendem as questões em jogo?
Como podemos evitar que as
pessoas se registrem "n" vezes
usando nomes e e-mails diferentes? Deveriam os membros pagar
uma taxa, para garantir um mínimo de interesse? Mas como resolver a questão da disparidade
de renda nas diferentes comunidades? Quantos diretores deve
haver? Como eles devem distribuir-se geograficamente? E como
as pessoas devem votar? Por região, como da última vez, ou será
que isso perpetua distinções geográficas artificiais e elimina o impacto das opiniões das minorias
em cada região?
Todas essas questões são importantes, e as respostas precisam ser
decididas pela Icann.
Há outras questões que precisam ser respondidas fora da
Icann, precisamente porque a entidade, embora devesse representar a todos, na realidade representa em primeiro lugar aqueles
que já têm interesse e já investiram tempo nela.
A Icann não deveria determinar quais comentários numa lista
de discussão são legítimos, nem
dizer quais sites merecem um link
para o site da Icann, nem quem
tem o direito de escrever a seus
membros, nem sob que condições.
Em última análise, os internautas precisam decidir como querem se comportar, sem a autorização ou orientação da Icann.
Em seguida, precisam obedecer às
regras da Icann para ter seus pontos de vista implementados -isso
se, de fato, contarem com a concordância da maioria.
No momento, todas essas questões são alvo de discussões animadas. Mas dificilmente pontos de
vista, em oposição a pessoas ou
nacionalidades, conseguem votos.
As pessoas de fora dos EUA e da
Europa muitas vezes se sentem
marginalizadas nas deliberações
da Icann, feitas exclusivamente
em inglês. Quem não tem acesso à
rede e se comunica principalmente por e-mail nem sempre pode
acessar todas as discussões da
Icann, centradas na Web.
Na verdade, a Icann precisa é
do equivalente a partidos políticos. Talvez um Partido Não às
Novas TLDs, ou um Partido dos
Direitos de IP Livre (que defenderia a criação de um mercado de
nomes de domínio totalmente livre), ou, ainda, o Partido das Raízes Alternativas, que defenderia
alternativas ao sistema de nomes
de domínio.
Cada um desses partidos teria
de fornecer explicações coerentes
sobre o funcionamento de suas
políticas e teria de conseguir adesões. Os partidos não seriam organizados pela Icann (à diferença
do que acontece com suas três organizações de apoio, que representam interesses específicos e já
elegem metade do conselho de direção da Icann).
Será que essa abordagem poderia funcionar? Ainda seria um experimento. Seria preciso contar
com diretrizes apropriadas de votação, para garantir que um partido não comprasse votos, simplesmente. Mas um mercado de
idéias é bem melhor do que um
mercado de pessoas.
Em última análise, a Icann como sistema eficaz, não apenas como organização, depende das
contribuições e críticas do público
e de um conjunto de regras formais que rejam a forma pela qual
os membros de seu conselho de direção podem votar suas políticas.
Ou seja: ela depende da ação independente de pessoas interessadas, auto-indicadas e auto-organizadas em todo o mundo. Isso
quer dizer você!
Neste momento, é a sua opinião
o elemento mais importante para
determinar como esses processos
devem funcionar. A longo prazo,
você poderá usar esses processos
para expressar suas opiniões e influenciar as decisões da Icann.
Se você se interessa pelo problema, visite o endereço www.
atlargestudy.org ou envie um e-mail para majordomo@atlarge
study.org contendo as palavras
"subscribe forum" (sem as aspas)
no corpo da mensagem.
Lembre-se de que as regras informais são tão importantes
quanto as formais -ou seja, leia
a discussão primeiro, antes de
postar sua opinião na rede.
Esther Dyson edita o boletim de tecnologia "Release 1.0" e é autora do best seller "Release 2.0".
Tradução de Clara Allain.
E-mail: edyson@edventure.com
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