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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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E-mail, compras on-line, caixas eletrônicos, celulares e até pedágios facilitam monitoramento de indivíduo

Tecnologias atuais já permitem vigilância

Reprodução
Site do Pentágono, que desenvolve sistema de monitoramento


JOHN MARKOFF
JOHN SCHWARTZ


DO ""THE NEW YORK TIMES"

Dentro do quadro da pesquisa que o Pentágono (comando militar dos EUA) está fazendo para deter o terrorismo por meio do monitoramento eletrônico da população civil, o detalhe mais notável talvez seja o fato de que a maior parte das peças que compõem o sistema já está instalada.
Devido à presença cada vez maior da internet e de outras tecnologias digitais no cotidiano das pessoas nos últimos dez anos, está cada vez mais possível reunir poderes de vigilância dignos de um "grande irmão" empregando meios próprios de um "pequeno irmão".
Os componentes básicos incluem tecnologias digitais como o e-mail, as compras e reservas de passagens on-line, os sistemas de caixa eletrônico, as redes de telefonia celular, os sistemas de pagamento eletrônico de pedágio e os terminais de pagamento de cartões de crédito.
O trabalho principal que o Pentágono ainda teria consistiria em criar softwares capazes de interligar essas fontes de dados numa imensa malha eletrônica.
Os tecnólogos dizem que os tipos de filtragem computadorizada de dados e comparação eletrônica de padrões que poderiam alertar os órgãos do governo para atividades suspeitas e coordenar sua vigilância não diferem em muito de programas que já são usados por empresas privadas.
Tais programas identificam atividade incomum de cartões de crédito, por exemplo, ou permitem que várias pessoas possam colaborar num projeto, mesmo estando em lugares diferentes.
Em outras palavras, a população civil já aderiu de bom grado aos pré-requisitos técnicos para o sistema nacional de vigilância a que os planejadores do Pentágono deram o nome de Total Information Awareness, ou Tia (Consciência de Informação Total). A novidade possui uma certa ressonância histórica porque foi a agência de pesquisas do Pentágono que, nos anos 1960, financiou a tecnologia que levou diretamente ao surgimento da internet moderna. Hoje, a mesma agência -a Agência de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa, ou Darpa, devido a suas iniciais em inglês- está usando tecnologia comercial que evoluiu a partir da rede introduzida por ela própria.
Conhecida como Arpanet, a primeira geração da internet era feita de correio eletrônico e softwares de transferência de arquivos, ligando pessoas a pessoas. A segunda geração ligou pessoas a bancos de dados e a outras informações, por meio da World Wide Web (ambiente gráfico com links entre sites). Agora, uma nova geração de software liga computadores diretamente a outros computadores.
E é essa a chave do projeto Tia, que é supervisionado por John M. Poindexter, que foi assessor de segurança nacional dos EUA durante o governo de Ronald Reagan. Em 1990, Poindexter foi considerado culpado de crime por sua participação no caso Irã-Contras, mas a condenação foi revogada por um tribunal federal de apelações -Poindexter tinha recebido imunidade em troca de seu depoimento ao Congresso.
Embora o sistema proposto por Poindexter tenha sido largamente criticado pelo Congresso norte-americano e por grupos de defesa das liberdades civis, um protótipo dele já foi implantado e vem sendo testado por organizações de inteligência militar.
O Tia pode, pela primeira vez, fazer a conexão entre fontes eletrônicas diferentes, como as imagens de vídeo registradas por câmeras de vigilância instaladas em aeroportos, transações realizadas com cartões de crédito, reservas de passagens aéreas e registros de telefonemas.
Os dados seriam filtrados por um software que ficaria constantemente à procura de padrões de comportamento suspeito.
A idéia é que as polícias ou os órgãos de inteligência sejam alertados imediatamente para padrões -observados em conjuntos de dados que, de outro modo, seriam comuns- capazes de indicar ameaças.
Os alertas imediatos permitiriam a revisão rápida dos dados por analistas humanos. Por exemplo: o fato de muitos estrangeiros estarem tendo aulas de pilotagem de aviões em diferentes partes do país poderia não chamar a atenção de ninguém. O fato de todas essas pessoas reservarem passagens de avião para o mesmo dia tampouco. Mas um sistema capaz de detectar as duas coisas seria capaz de dar um sinal de alarme.


Tradução de Clara Allain


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