São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

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Tecnologia dificulta a espionagem

WILLIAM J. BROAD
DO "THE NEW YORK TIMES"

Por décadas, os Estados Unidos usaram seu poderio tecnológico para interceptar comunicações de opositores políticos, chegando a grampear conversas mantidas por líderes soviéticos dentro de automóveis. Satélites cobriram o planeta, vigiando todo tipo de comunicação 24 horas por dia.
Mas, segundo especialistas, o crescimento de tecnologias livremente disponíveis no mercado está diminuindo a vantagem técnica do governo dos EUA. Computadores mais potentes dão acesso a tecnologias de criptografia impossíveis de violar, linhas de fibra óptica transmitem sinais sem vazar detalhes e rádios que mudam sua frequência de transmissão enganam espiões.
Essa redução na capacidade dos EUA de grampear comunicações globais pode ter sido um dos fatores que ajudaram a manter o sigilo dos terroristas responsáveis pelos atentados aéreos realizados em 11 de setembro.
O avanço tecnológico também cria novas oportunidades para os investigadores, que podem monitorar conversas mantidas por telefones celulares, por exemplo. De acordo com especialistas, contudo, o saldo resultante é negativo para a espionagem.
Nos últimos anos, o governo dos EUA tem procurado convencer o Congresso a tomar medidas que favoreçam a contra-espionagem: em testemunho ao Senado norte-americano, um ex-diretor do FBI disse que o terrorista Ramzi Ahmed Yousef, mentor de um atentado ao World Trade Center em 1993, utilizou programas de criptografia para proteger planos terroristas gravados em um micro portátil. Segundo esse diretor, os arquivos codificados conteriam informações sobre uma tentativa de explosão de 11 aviões norte-americanos.
Neste ano, a pressão governamental aumentou o investimento na National Security Agency (NSA), agência encarregada de interceptar e decodificar comunicações globais.
Gastar mais dinheiro talvez não resolva o problema: "Parece improvável que a NSA consiga recuperar sua dianteira tecnológica", afirma o especialista em espionagem Steven Aftergood, da Federation of American Scientists, organização privada que reúne cientistas dos EUA.
A NSA prefere não comentar o assunto, mas diz que seus sistemas de monitoramento continuam tão eficientes quanto sempre foram.
O Exército e as agências de espionagem dos EUA foram pioneiros no desenvolvimento da computação durante a Guerra Fria, construindo e lançando satélites geoestacionários (cuja órbita acompanha a rotação da Terra) capazes de grampear comunicações de radar, rádio, walkie-talkies e telefones de longa distância.
Mas os alvos desses satélites estão diminuindo: as transmissões por via aérea estão sendo substituídas por comunicações via fibras ópticas, que são impossíveis de monitorar a distância. Além disso, programas de criptografia disponíveis no mercado impedem ou dificultam muito a decifração dos sinais interceptados.
O governo tentou conter a disseminação desses softwares por algum tempo, mas em 1999 e 2000 a gestão Clinton acabou reduzindo as restrições à exportação de programas de criptografia.
Outro problema é a sofisticação dos rádios modernos, que utilizam uma técnica militar conhecida como "spread spectrum" e são quase impossíveis de rastrear.
"Qualquer pessoa pode adquirir esses aparelhos facilmente", afirma o engenheiro Steve Russel, que é especialista em segurança e trabalha na Iowa State University. "Há muitas empresas vendendo os equipamentos", diz.
Um dia antes dos atentados contra o World Trade Center e o Pentágono, a Federal Computer Week, publicação dedicada à tecnologia governamental, reportou que a NSA planejava gastar US$ 15 bilhões "na modernização de sistemas criptográficos".
Depois dos ataques, contudo, já existe quem defenda métodos mais antiquados: para o cientista Robert Morris, que trabalhou na NSA, a solução é apelar para chantagem e propinas.


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