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Tecnologia dificulta a espionagem
WILLIAM J. BROAD
DO "THE NEW YORK TIMES"
Por décadas, os Estados Unidos
usaram seu poderio tecnológico
para interceptar comunicações de
opositores políticos, chegando a
grampear conversas mantidas
por líderes soviéticos dentro de
automóveis. Satélites cobriram o
planeta, vigiando todo tipo de comunicação 24 horas por dia.
Mas, segundo especialistas, o
crescimento de tecnologias livremente disponíveis no mercado
está diminuindo a vantagem técnica do governo dos EUA. Computadores mais potentes dão
acesso a tecnologias de criptografia impossíveis de violar, linhas de
fibra óptica transmitem sinais
sem vazar detalhes e rádios que
mudam sua frequência de transmissão enganam espiões.
Essa redução na capacidade dos
EUA de grampear comunicações
globais pode ter sido um dos fatores que ajudaram a manter o sigilo dos terroristas responsáveis pelos atentados aéreos realizados
em 11 de setembro.
O avanço tecnológico também
cria novas oportunidades para os
investigadores, que podem monitorar conversas mantidas por telefones celulares, por exemplo. De
acordo com especialistas, contudo, o saldo resultante é negativo
para a espionagem.
Nos últimos anos, o governo
dos EUA tem procurado convencer o Congresso a tomar medidas
que favoreçam a contra-espionagem: em testemunho ao Senado
norte-americano, um ex-diretor
do FBI disse que o terrorista Ramzi Ahmed Yousef, mentor de um
atentado ao World Trade Center
em 1993, utilizou programas de
criptografia para proteger planos
terroristas gravados em um micro
portátil. Segundo esse diretor, os
arquivos codificados conteriam
informações sobre uma tentativa
de explosão de 11 aviões norte-americanos.
Neste ano, a pressão governamental aumentou o investimento
na National Security Agency
(NSA), agência encarregada de
interceptar e decodificar comunicações globais.
Gastar mais dinheiro talvez não
resolva o problema: "Parece improvável que a NSA consiga recuperar sua dianteira tecnológica",
afirma o especialista em espionagem Steven Aftergood, da Federation of American Scientists, organização privada que reúne cientistas dos EUA.
A NSA prefere não comentar o
assunto, mas diz que seus sistemas de monitoramento continuam tão eficientes quanto sempre foram.
O Exército e as agências de espionagem dos EUA foram pioneiros no desenvolvimento da computação durante a Guerra Fria,
construindo e lançando satélites
geoestacionários (cuja órbita
acompanha a rotação da Terra)
capazes de grampear comunicações de radar, rádio, walkie-talkies e telefones de longa distância.
Mas os alvos desses satélites estão diminuindo: as transmissões
por via aérea estão sendo substituídas por comunicações via fibras ópticas, que são impossíveis
de monitorar a distância. Além
disso, programas de criptografia
disponíveis no mercado impedem ou dificultam muito a decifração dos sinais interceptados.
O governo tentou conter a disseminação desses softwares por
algum tempo, mas em 1999 e 2000
a gestão Clinton acabou reduzindo as restrições à exportação de
programas de criptografia.
Outro problema é a sofisticação
dos rádios modernos, que utilizam uma técnica militar conhecida como "spread spectrum" e são
quase impossíveis de rastrear.
"Qualquer pessoa pode adquirir
esses aparelhos facilmente", afirma o engenheiro Steve Russel,
que é especialista em segurança e
trabalha na Iowa State University.
"Há muitas empresas vendendo
os equipamentos", diz.
Um dia antes dos atentados
contra o World Trade Center e o
Pentágono, a Federal Computer
Week, publicação dedicada à tecnologia governamental, reportou
que a NSA planejava gastar US$
15 bilhões "na modernização de
sistemas criptográficos".
Depois dos ataques, contudo, já
existe quem defenda métodos
mais antiquados: para o cientista
Robert Morris, que trabalhou na
NSA, a solução é apelar para
chantagem e propinas.
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