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OPINIÃO ECONÔMICA
Fundos de pensão exigem respeito e estabilidade
SÉRGIO ROSA
O sistema previdenciário do
país deve ser tratado com
maior seriedade e responsabilidade. Trata-se de um sistema destinado a assegurar condições dignas de sobrevivência para milhões de trabalhadores que chegam ao momento de se aposentar. As regras previdenciárias interferem diretamente no mercado
de trabalho, pois determinam
também o tempo de vida ativa
dos trabalhadores nas empresas.
Ao lado do regime geral de previdência oficial, a previdência
complementar se impõe como
necessidade para um conjunto de
trabalhadores que, recebendo salários superiores ao teto da previdência oficial, têm o direito de
buscar uma garantia de renda justa para o período de aposentadoria.
Muitas vezes esse mecanismo
tem sido tratado como se fosse
um privilégio. Diante do conhecido quadro de má distribuição de
renda do país, o fato de uma parcela dos trabalhadores com melhores salários poderem contar
com complementos de aposentaria é facilmente explorado, na
maioria das vezes por má-fé, como se fosse um direito injusto e
ilegítimo.
Em primeiro lugar, é necessário
contestar essa visão com firmeza.
O sistema de previdência complementar é justo e bom, não só para
o trabalhador como para as empresas e o país.
É bom que o trabalhador possa
manter um nível de renda próximo daquele do seu período laborativo. Isso permite que a massa
de recursos disponível para o consumo se mantenha estável, alimentando a economia. Isso permite também que o trabalhador
decida-se pela aposentadoria no
tempo certo, sem traumas ou temor de grande perda financeira,
facilitando seu planejamento e o
de recursos humanos das próprias empresas. Para as empresas,
a oferta de planos de aposentaria
representa ainda um importante
instrumento de fidelização dos
seus empregados.
Para o país, os ganhos são também significativos. O sistema de
previdência complementar é alimentado com a formação de poupança. O trabalhador abre mão de
parte da sua renda atual, depositando recursos em um fundo,
juntamente com aportes da empresa, que podem ser considerados salários indiretos. Com isso,
forma-se uma poupança de longo
prazo, de que o país é extremamente carente, recursos que por
sua vez serão utilizados para investimentos.
No Brasil, os fundos fechados de
previdência complementar reúnem cerca de 2.252.152 participantes, aproximadamente metade dos quais vinculados a empresas públicas e a outra metade a
empresas privadas. Se considerarmos seus dependentes, o universo de pessoas vinculadas soma
6,5 milhões de pessoas. Esses fundos gerem recursos de aproximadamente R$ 140 bilhões. São recursos acumulados para fazer
frente aos benefícios presentes e
futuros dos seus participantes.
Em termos de benefícios já concedidos, no ano de 2000 terão sido
pagos cerca de R$ 9 bilhões em
complemento de aposentadorias.
Todo esse sistema exige, como
de resto outros setores da economia, seriedade na gestão, fiscalização dos interessados e regras
estáveis e adequadas. Em inúmeros outros países do mundo (Estados Unidos, Holanda, Japão,
etc.) os fundos são vistos como
importantes instrumentos de
poupança e de renda e representam o maior volume de investimentos diretos na economia.
No Brasil, no entanto, temos
visto, sobretudo nos últimos
anos, uma grande incompreensão e uma enorme instabilidade
no setor.
Projetos que regulamentam o
sistema estão parados no Senado,
sendo bombardeados por inúmeras emendas absurdas, depois de
ter sido aprovados na Câmara dos
Deputados por quase unanimidade. O debate sério que havia sido
alcançado na Câmara está ameaçado pelos interesses do sistema
financeiro, que não quer permitir
que os fundos fechados prosperem, e por interesses não menos
questionáveis que querem impedir a democratização dos fundos.
O tratamento tributário dos
fundos, que seria resolvido pela
aprovação daqueles projetos,
também se vê diante de permanente instabilidade, sujeito a jogadas demagógicas que ameaçam a
própria existência dessas entidades.
No final do ano, vimos também
a Secretaria de Previdência Complementar, após mudanças em
sua direção, tomar medidas açodadas contra fundos que apresentam equilíbrio, reavivando práticas autoritárias e intervencionistas.
E, depois de tudo, vem o decreto
3.721, que institui regras de idade
mínima que afetam direitos e
mais uma vez impactam os fundos e as empresas, que sofreram
uma enxurrada de pedidos de
aposentaria precipitados, motivados pelo medo de perda definitiva
do elementar direito de aposentadoria. O decreto é exemplar de
um método arbitrário de gestão.
Sem ouvir as empresas nem os
fundos, sem ouvir o Congresso, o
decreto pretende regulamentar
algo que não é previsto em nenhuma lei e altera contratos vigentes. A ousadia só é possível pela pressuposição de que venha a se
impor pela força.
Diante disso, urge que as entidades e seus participantes defendam-se e que os setores mais esclarecidos e menos influenciados
por outros interesses ampliem esse debate.
Por último, não poderia deixar
de fazer referência a fatos conhecidos e frequentemente utilizados
para atacar os fundos de pensão.
É verdade que em muitos momentos esses fundos envolveram-se em negócios escusos, favorecendo empresas ou grupos econômicos e acarretando prejuízos
e rombos. Invariavelmente os responsáveis por esses fatos foram
indicados direta ou indiretamente pelo próprio governo, por meio
da direção das empresas.
A melhoria da gestão dos fundos tem ocorrido pelo processo
de profissionalização e, sobretudo, por meio da maior participação dos trabalhadores na gestão e
na fiscalização dos mesmos. Muitos dos que usam aqueles fatos
para atacar os fundos atacam
também essa participação dos
trabalhadores. Muitos gostariam
que os fundos voltassem a ser dóceis parceiros para seus negócios
-ou, melhor dizendo, negociatas. Por trás de alguns discursos
moralistas, há razões profundamente imorais.
Sérgio Rosa é diretor de participações
eleito da Previ (fundo de pensão dos
funcionários do Banco do Brasil).
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