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Compra pode ter sido irregular
da Reportagem Local
Os 12 mil participantes do fundo de pensão Ceres, da Embrapa,
podem estar carregando "micos"
na carteira de investimentos que
deve garantir suas aposentadorias. Um deles é o lote de ações
preferenciais da Tecelagem São
José, fruto de uma operação que
está sendo investigada pela Secretaria de Previdência Complementar há nove meses.
O outro é a participação que a
Ceres detém na Eucatex, empresa
da família do ex-prefeito de São
Paulo, Paulo Maluf, em dificuldades financeiras. Endividada, a Eucatex acumulou R$ 101 milhões de
prejuízos em três anos.
A compra dos papéis da São José contraria a resolução número
2324/96, do Conselho Monetário
Nacional. Segundo o CMN, os
fundos só podem comprar ações
em Bolsas e no mercado organizado de balcão.
Atualmente, a Soma, a bolsa eletrônica do Rio, é a única entidade
reconhecida pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para
operar como mercado organizado de balcão.
"Esse mercado foi criado pela
CVM para dar mais transparência
às operações com ações de empresas abertas, realizadas fora das
Bolsas", diz Fábio Menkes, gerente de desenvolvimento de regulação da CVM.
Segundo Menkes, os negócios
de balcão realizados fora da Soma
são fechados por telefone, entre
corretoras e distribuidoras de valores, em nome de seus clientes.
"Por serem muito dispersos, é
mais difícil a fiscalização", diz ele.
A distribuição de ações da Tecelagem São José não passou pela
Soma, nem foi fechado informalmente. Ela cumpriu o ritual de
costume para venda de grandes
lotes de ações no mercado não-organizado de balcão.
"A operação foi registrada na
CVM; informada ao público, por
meio de edital publicado pelo Itaú
Bankers Trust, e liquidada na Cetip (central de liquidação e custódia de títulos privados)", diz Cleuber Oliveira, diretor da Ceres. "No
nosso entendimento isso é mercado organizado."
A CVM, porém, tem outra interpretação. "Ainda não reconhecemos a Cetip como mercado de
balcão organizado", diz Menkes.
"Só por aí houve irregularidade
do lado da Ceres", diz o secretário
de Previdência Complementar,
Paulo Kliass.
Além disso, segundo ele, para
adquirir um lote significativo de
ações fora da Bolsa, a Ceres teria
que ter feito uma oferta pública de
compra, especificando o valor
que pagaria. Isso não ocorreu.
Segundo Kliass, os participantes
desses fundos devem acompanhar a aplicação do seu dinheiro.
"Eles devem observar a composição das carteiras e sua rentabilidade e exigir transparência dos
gestores", diz.
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