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+ Economia
A rota do sushi
Livro estuda o processo de globalização a partir da exportação do atum, nos
anos 1970
DAVID PILLING
Não faz muito tempo, o atum fresco
era algo praticamente sem valor
na maior parte do
mundo.
Os pescadores amadores que
fisgavam um atum "bluefin"
(de barbatanas azuis, um dos
maiores) ao largo do norte dos
EUA muitas vezes tinham que
pagar alguém para carregá-lo
até o lixão da cidade.
Tudo isso mudou quando, no
início dos anos 70, um técnico
japonês criou uma maneira de
conservar e transportar atuns
de um lado do mundo a outro.
A Japan Airlines vinha procurando alguma mercadoria
para transportar em seus
aviões que levavam artigos eletrônicos japoneses para todas
as partes do mundo, mas faziam a viagem de volta vazios.
O primeiro "peixe voador"
foi vendido no mercado de
Tsukiji, em Tóquio, em 1972, e
assim nasceu uma nova indústria global.
"The Sushi Economy - Globalisation and the Making of a
Modern Delicacy" [A Economia do Sushi - A Globalização e
a Feitura de uma Iguaria Moderna, de Sasha Issenberg, Gotham, 320 págs., US$ 26, R$ 51]
é um livro que trata da globalização em miniatura.
Embora se proponha a ser
um estudo sobre como os diversos elementos que compõem um prato de sushi chegam até ele, o que focaliza é algo ainda mais restrito: o atum.
O tema de Sasha Issenberg é
mais promissor do que aparenta ser. A globalização é responsável pelas cadeias de fornecimento incrivelmente complexas que ligam os produtores ao
mercado e também pela difusão de modas -no caso em
pauta, o gosto pelo peixe cru.
Intimidade global
O atum é incomum porque é
difícil de estampar com uma
marca e porque seu valor cai
em velocidade astronômica à
medida que perde seu frescor.
Isso faz da indústria do atum,
construída com base em confiança e relacionamentos, o
oposto do sistema impessoal
que muitas vezes associamos à
globalização.
Não faltam ao livro personagens e detalhes interessantes.
Há a história de como os primeiros atuns voadores foram
transportados em caixas com o
formato de féretros, projetadas
por um agente funerário, e de
como os pioneiros do sushi levaram o peixe cru ao Texas.
Mas o livro não aproveita
seus ingredientes tanto quanto
poderia.
Em alguns momentos, mais
parece uma série de anedotas
pontilhadas por pequenas análises. É uma pena, porque os insights que oferece podem ser
bastante interessantes, embora
escritos em estilo exagerado.
Mencionando a moda do sushi na Rússia, China e Índia, por
exemplo, Issenberg escreve:
"Consumir sushi é demonstrar
acesso a redes comerciais avançadas, é mostrar um engajamento pleno no comércio
mundial".
Com exceção de um capítulo
sobre piratas do atum e outro
sobre o apetite crescente pelo
sushi na China, o livro não comenta o suficiente sobre os aspectos mais sombrios da globalização: no caso do atum, o perigo de destruir a própria matéria-prima que está sendo globalizada. O fato de que indivíduos e países são incentivados a saquear o mar é mencionado quase de passagem.
Resumindo: o livro tem temas subjacentes fortes. Mas,
com demasiada freqüência, decifrá-los fica a cargo do leitor.
A íntegra deste texto saiu no "Financial Times".
Tradução de Clara Allain .
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