São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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+ Economia

A rota do sushi

Livro estuda o processo de globalização a partir da exportação do atum, nos anos 1970

DAVID PILLING

Não faz muito tempo, o atum fresco era algo praticamente sem valor na maior parte do mundo.
Os pescadores amadores que fisgavam um atum "bluefin" (de barbatanas azuis, um dos maiores) ao largo do norte dos EUA muitas vezes tinham que pagar alguém para carregá-lo até o lixão da cidade.
Tudo isso mudou quando, no início dos anos 70, um técnico japonês criou uma maneira de conservar e transportar atuns de um lado do mundo a outro.
A Japan Airlines vinha procurando alguma mercadoria para transportar em seus aviões que levavam artigos eletrônicos japoneses para todas as partes do mundo, mas faziam a viagem de volta vazios.
O primeiro "peixe voador" foi vendido no mercado de Tsukiji, em Tóquio, em 1972, e assim nasceu uma nova indústria global. "The Sushi Economy - Globalisation and the Making of a Modern Delicacy" [A Economia do Sushi - A Globalização e a Feitura de uma Iguaria Moderna, de Sasha Issenberg, Gotham, 320 págs., US$ 26, R$ 51] é um livro que trata da globalização em miniatura.
Embora se proponha a ser um estudo sobre como os diversos elementos que compõem um prato de sushi chegam até ele, o que focaliza é algo ainda mais restrito: o atum.
O tema de Sasha Issenberg é mais promissor do que aparenta ser. A globalização é responsável pelas cadeias de fornecimento incrivelmente complexas que ligam os produtores ao mercado e também pela difusão de modas -no caso em pauta, o gosto pelo peixe cru.

Intimidade global
O atum é incomum porque é difícil de estampar com uma marca e porque seu valor cai em velocidade astronômica à medida que perde seu frescor.
Isso faz da indústria do atum, construída com base em confiança e relacionamentos, o oposto do sistema impessoal que muitas vezes associamos à globalização.
Não faltam ao livro personagens e detalhes interessantes. Há a história de como os primeiros atuns voadores foram transportados em caixas com o formato de féretros, projetadas por um agente funerário, e de como os pioneiros do sushi levaram o peixe cru ao Texas.
Mas o livro não aproveita seus ingredientes tanto quanto poderia.
Em alguns momentos, mais parece uma série de anedotas pontilhadas por pequenas análises. É uma pena, porque os insights que oferece podem ser bastante interessantes, embora escritos em estilo exagerado.
Mencionando a moda do sushi na Rússia, China e Índia, por exemplo, Issenberg escreve: "Consumir sushi é demonstrar acesso a redes comerciais avançadas, é mostrar um engajamento pleno no comércio mundial".
Com exceção de um capítulo sobre piratas do atum e outro sobre o apetite crescente pelo sushi na China, o livro não comenta o suficiente sobre os aspectos mais sombrios da globalização: no caso do atum, o perigo de destruir a própria matéria-prima que está sendo globalizada. O fato de que indivíduos e países são incentivados a saquear o mar é mencionado quase de passagem.
Resumindo: o livro tem temas subjacentes fortes. Mas, com demasiada freqüência, decifrá-los fica a cargo do leitor.


A íntegra deste texto saiu no "Financial Times". Tradução de Clara Allain .


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