São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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ZARATUSTRA
Nietzsche inaugurou a desenvoltura engajada, o posicionamento. Em vez de se comportar como o honesto discípulo que era e completar a obra de Schopenhauer, ele se colocou numa posição que o leva a um franco absurdo. Por exemplo, fingir que prefere as reduções para piano de Wagner ao próprio Wagner. É evidentemente grotesco.
"Assim falou Zaratustra" não é tão bom, de qualquer modo. É um pouco poesia fim de linha. Peço desculpas por dizer isso tão claramente. Tem um certo sentido de encenação, de espetáculo, poderia dar um bom filme. Mas, do ponto de vista do lirismo, não está verdadeiramente à altura. Isso se vê ainda melhor na patética imitação de Gide, "Os Frutos da Terra", que é uma droga. Nietzsche é muito melhor em "Além do Bem e do Mal". Indiscutivelmente um grande livro, super bem escrito. Mas um livro que é moralmente ruim e filosoficamente insuficiente. Faz tanto tempo que falo mal de Nietzsche que acabei simpatizando. Gostaria muito de encontrá-lo, por exemplo, em outro mundo.

Este texto foi publicado originalmente na revista francesa "Les Inrockuptibles".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.


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