São Paulo, domingo, 4 de janeiro de 1998. |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Livro traz entrevistas de Prestes
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
O período pós-45 é o mais rico em contradições. As entrevistas de Prestes são, assim, um bom exemplo para mostrar as oscilações nas posições do PCB até 64, estudadas em "A Esquerda Positiva - As Duas Almas do Partido Comunista - 1920-1964)", de Gildo Marçal Brandão, tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo e recém-lançada pela Hucitec. "Durante a República Liberal, os comunistas passam de uma interpretação quase acrítica do capitalismo -no momento em que emergem para a legalidade (...)- para uma visão apocalíptica e catastrofista, entre 1948 e 1954, quando consideram o país em via de se tornar mera colônia dos EUA", escreve Brandão. Diz Prestes, em abril de 1945, ao "Correio Paulistano": "Enquanto estiverem unidas (as duas democracias burguesas, EUA e Inglaterra, e a democracia proletária, a União Soviética), o mundo terá paz. Mas esta união depende de cooperação interna. Por isso, os trabalhadores devem estender a mão à burguesia, mesmo cedendo e fazendo concessões, para que a paz não seja perturbada". O PCB apóia Adhemar de Barros na sua candidatura ao governo de São Paulo, e, em 1946, Prestes chega a afirmar a possibilidade de uma aliança com a UDN. Em 1947, o PCB perderia o registro legal, só recuperado nos anos 80. Depois de 1956, graças a mudanças na política externa (crítica ao stalinismo pelo PC soviético) e internas (governos JK e Jango), começa o período de maior influência do PCB, com o discurso de aliança com a burguesia nacional para a realização de reformas. Nos anos 70, sob o regime militar, Prestes voltaria a defender uma revolução socialista, e não democrático-burguesa, o que o levaria a romper com o PCB, que manteve, com alterações conjunturais, a proposição dos anos 50. Nos últimos anos de vida, Prestes teve de se defrontar com a reestruturação da União Soviética, embora tenha morrido antes de sua dissolução. Deixou duras críticas a José Sarney ("É o mais submisso que há"), Ulysses Guimarães ("É um burguês que engana a classe operária") e Lula ("Um operário de talento; infelizmente não lê, não estuda"). Como não podia morrer sem ilusões, reservou elogios a Mikhail Gorbachov ("Um homem ilustre e ilustrado") pelas reformas que conduzia. Não imaginava ele que o ex-líder soviético estaria hoje estrelando comerciais da rede de "fast food" Pizza Hut. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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